Antigo jardim do Palácio da Ajuda vai abrir ao público depois de três décadas fechado
O jardim situa-se no gaveto formado pelas calçadas da Ajuda e do Mirante, mas está cercado por muros altos
Antigo jardim do Palácio da Ajuda vai abrir ao público depois de três décadas fechado Por Ana Henriques in Publico
Recinto barroco do séc. XVIII ficou recuperado em 1994, mas nunca foi aberto. Agora vai ser preciso despender mais dinheiro no Jardim das Damas, considerado uma peça notável
Por aqui se passearam reis e rainhas, príncipes e cortesãs. Parte integrante do Palácio da Ajuda, o Jardim das Damas, em Lisboa, vai ser recuperado para abrir ao público no próximo Verão, depois de ter estado encerrado mais de três décadas.
"Trata-se de um jardim de grande nobreza, de uma peça de valor arquitectónico notável", diz o arquitecto paisagista João Ceregeiro, que em 2004 fez para o Instituto do Património Arquitectónico e Arqueológico um anteprojecto de recuperação que nunca chegou a ser concretizado.
Embora não sendo de grandes dimensões - tem aproximadamente quatro mil metros quadrados -, o espaço verde de inspiração barroca inclui um conjunto de lagos e fontes e também uma cascata monumental, alimentados por uma mina de água. Desenvolve-se em dois patamares: um inferior, no qual existe uma pequena alameda de plátanos, e um superior, com magnólias e algumas árvores de fruto. Em ambos há canteiros de buxo. "Também tem jaulas para feras e azulejos do séc. XVIII", descreve João Ceregeiro. A família real gostava de se deleitar com leões e pássaros exóticos vindos de além-mar.
Uma das peças emblemáticas do Jardim das Damas é um miradouro em forma de torreão com esplanada, do qual se avista a foz do Tejo e o vale da Ajuda. "É aí que vai ser instalada uma cafetaria", explica o vereador dos Espaços Verdes da Câmara de Lisboa José Sá Fernandes. A requalificação do recinto será objecto de um protocolo entre a autarquia e a Secretaria de Estado da Cultura. O secretário de Estado, Francisco José Viegas, visitou recentemente o jardim com Sá Fernandes. "O objectivo é abri-lo ao público na próxima Primavera ou Verão", refere o autarca.
João Ceregeiro explica que um dos principais problemas é o acesso ao próprio recinto. Situado logo a seguir ao Palácio da Ajuda, o jardim situa-se cerca de 18 metros acima do piso térreo do monumento, ou seja, há uma altura de seis andares para vencer, a não ser que os visitantes usem uma outra entrada, situada na Calçada do Mirante. "Vamos arranjar as escadas que faltam", adianta Sá Fernandes.
Quem paga tudo? "A Secretaria de Estado da Cultura tem uma verba para o efeito, e a câmara contribuirá com a preparação da recuperação e a mão-de-obra", responde o vereador. O que Sá Fernandes não diz, talvez por o ignorar, é que o degradado jardim já foi alvo de vultuosos investimentos entre 1988, altura em que já se encontrava fechado, e 1994. Um meticuloso projecto de reabilitação consumiu mais de 600 mil euros - mas mesmo assim o recinto nunca chegou a reabrir. Foi também por esta altura que foi instalada pela primeira vez no torreão uma cafetaria, com equipamentos de restauração, mesas e guarda-sóis. Nunca chegou a servir um café que fosse. Sá Fernandes diz que neste momento o miradouro "está todo destruído por dentro". Há ratazanas a passear-se pelo jardim real, que conta na sua história com sucessivos abandonos.
Ceregeiro é um dos que se congratulam por o recinto ir abrir finalmente. Pode ser que desta vez se quebre o enguiço que o tem mantido longe da vista e do coração dos lisboetas.
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