À atenção de António Costa
por FERREIRA FERNANDES
Dias depois de Arturas Zuokas ter nascido, a 21 de Fevereiro de 1968, os estudantes franceses tiravam as pedras das calçadas, sonhando que sob elas estava a praia. Zuokas é lituano, de um país então sob o jugo soviético, e os seus não devem ter ouvido falar muito daquele Maio distante e libertário. Mas, ao que parece, as palavras de ordem dos estudantes parisienses influenciaram-no: "Sê realista, pede o impossível"... Isso já para não falar do gosto pelas pedras da calçada: presidente da Câmara de Vilnius, a capital lituana, Zuokas apaixonou-se pelo empedrado da principal avenida da cidade. Ela atravessa o centro histórico (património mundial da Unesco), passa por teatros e bibliotecas e desemboca na Praça da Catedral. Os nazis quando ocuparam a Lituânia, chamaram-lhe Adolfo Hitler, os soviéticos, José Estaline, e a agora Avenida Gediminas homenageia o grão duque medieval que fundou a cidade. Arturas Zuokas rodeou-a de árvores, traçou-lhe pistas de bicicleta e proibiu o trânsito automóvel. O que não impediu os lituanos, indiferentes às multas, de estacionar. Esta semana, Zuokas decidiu-se pela acção directa, inspirada no Maio de 68. Subiu para um blindado e esmagou um Mercedes estacionado e que se julgava impune. O vídeo dessa lição é delícia mundial desde ontem. Como eu gostaria do vídeo do presidente da Câmara António Costa despejando uma lata de tinta nas trombas de um pinta-paredes do Bairro Alto...
(in DN).
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