sexta-feira, 22 de julho de 2011

Hospital Miguel Bombarda vai dar lugar a urbanização com seis prédios.



O arquitecto que concebeu o novo espaço, Belém Lima, diz que esta foi a solução encontrada para deixar 60 por cento do espaço verde. Intactos ficam os dois edifícios classificados, que incluem o pavilhão de segurança (o chamado panóptico onde eram internados os doentes inimputáveis) e o balneário inaugurado pela Rainha D. Maria II (onde os doentes recebiam banhos terapêuticos), que serão cedidos à Câmara de Lisboa.

Os últimos 24 doentes que viviam no Miguel Bombarda saíram no dia 5 deste mês para uma residência de cuidados continuados em saúde mental, no Restelo, e a unidade fechou as portas, à excepção do hospital de dia que continua temporariamente a funcionar, com entrada pela Rua Gomes Freire. Aparentemente, pelo menos, chega assim ao fim a acesa controvérsia provocada nos últimos anos pela decisão do Governo que permitiu vender e urbanizar este enorme pedaço da cidade, situado perto do Campo dos Mártires da Pátria.

Chegam também ao fim os 163 anos de história que levava a instituição que começou por se chamar Hospital de Alienados de Rilhafoles. Com a saída dos últimos doentes, o recinto de 4,4 hectares ficou definitivamente nas mãos da empresa que já o tinha comprado em 2009, por 25 milhões de euros, à Estamo, detida pela imobiliária pública Parpública.

Preservar a memória

Belém Lima garante que a memória do espaço, que já foi quinta, convento e hospital, vai ficar salvaguardada. Do tempo em que era convento vão manter-se os muros e a capela, que fica no edifício principal onde depois veio a funcionar o gabinete do médico e director que deu nome ao hospital - depois de aí ter sido assassinado por um doente em vésperas da implantação da República, e que deverá ser mantido com o mobiliário que lá está, explica o arquitecto.

Fica também o circular pavilhão de segurança, o panóptico, criado em 1896 para albergar "os loucos criminosos" e que funcionou de 1896 a 2000, estando actualmente aberto ao público para visitas gratuitas às quartas entre as 11h30 e 13h00 e sábados das 14h00 e as 18h00.

Belém Lima afirma que os proprietários apenas estavam obrigados à manutenção daqueles espaços por terem sido classificados como conjuntos de interesse público no fim do ano passado, mas que vão também manter um terço do edifício principal, com a fachada neoclássica, assim como a capela do século XVIII que pertencia ao convento. As três componentes serão cedidas ao município para que decida o seu uso.

O que também ficará será "a cerca do convento, que é a marca histórica deste território que resistiu graças ao muro". O Miguel Bombarda já foi a Quinta de Rilha Folles, depois foi Convento dos Padres de São Vicente de Paula e depois Hospital de Alienados de Rilhafoles.

Defendendo o seu projecto, Belém Lima afirma que o Miguel Bombarda "era um lugar inacessível, quase ninguém da cidade conhece este local. Finalmente a cidade vai chegar lá acima, criando um novo miradouro da cidade. Estamos a acrescentar Lisboa. É um local misterioso porque as pessoas não o conhecem". O plano prevê a manutenção de 60 por cento de área verde, mas cerca de nove mil dos 27 mil metros quadrados arborizados serão de acesso privado. O restante será público.

Parecer do Igespar

A área ocupada pelos edifícios será de 8000 metros quadrados, constando de seis torres em que a base é de quatro pisos e que depois estreitam e sobem até aos dez. Belém Lima classifica-as como "torres elegantes" que terão perímetros de 180 metros quadrados, com um apartamento por piso, e que "nunca se alinham, para fugir ao ar de loteamento maciço".

O trânsito automóvel irá circular através de uma rua que atravessará a urbanização, circulando parcialmente em túneis. Pretende-se que ali passem a viver cerca de 600 pessoas, em 193 fogos, com 21.800 metros quadrados de estacionamento subterrâneo, 3500 metros quadrados para comércio e 2500 para serviços.

O projecto aguarda o parecer do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, devido ao facto de a intervenção se situar junto a imóveis classificados, ao que se seguirá uma fase de divulgação e discussão pública, adianta o projectista do empreendimento. A Estamo comprou também os hospitais dos Capuchos, São José, Santa Marta, Desterro, o único que já está desocupado e que está em vias de ser vendido, informou a empresa. Pretende-se que estas unidades sejam encerradas para virem a dar lugar ao futuro Hospital de Todos os Santos, que deverá ficar localizado na zona de Chelas. A Estamo comprou também parte do Curry Cabral (Público).

1 comentário:

Bic Laranja disse...

"Belém Lima garante que a memória do espaço, que já foi quinta, convento e hospital, vai ficar salvaguardada."
Depois, quando li seis torres de dez andares percebi melhor. E o epílogo com os hospitais do Desterro, Capuchos, S. José, Santa Marta corrobora a salvaguarda de memória do espaço. Também as fotografias velhas.
Cumpts.