sexta-feira, 6 de maio de 2011

Um Museu da Dívida?







Fórum
Argentina tem museu para o FMI. E nós?

Museu da Dívida Externa tem sala especial para FMI no país.
Por cá ideia divide especialistas
A Argentina, que recebeu a ajuda do Fundo Monetário
Internacional pela primeira vez em 1824 e declarou uma
bancarrota histórica em 2001, acaba de criar uma sala especial
para o FMI no seu museu da Dívida Externa. Agora que Portugal
também está nos braços da apoio financeiro internacional, será
que também devia ter um museu deste tipo?
Qual é a opinião do leitor?
Do outro lado do Atlântico, o novo espaço dedica atenções ao
FMI através de vídeos, mapas interactivos, capas de jornais e
obras de arte, entre outras exposições, mostrando como o país
perdeu soberania económica com a entrada do fundo. Mas o
museu não tem especial apreço pela instituição, porque,
«lamentavelmente», as políticas do fundo «revelaram-se pouco
benéficas», disse à agência Lusa Juan Pablo Pilatti, subdiretor
do museu, instalado na Faculdade de Ciências Económicas da
Universidade de Buenos Aires.
O responsável mostrou-se disponível para partilhar com
Portugal a experiência, caso alguma instituição portuguesa
queira criar um museu semelhante. «Também seria benéfico
que a população soubesse todas as implicações do
endividamento, das políticas fiscais, das políticas dos
organismos multilaterais de crédito».
Portugal deve ou não criar um museu deste tipo?
Esta questão divide os especialistas em Portugal. O economista
e conselheiro de Estado Bagão Félix apoia a criação de um
museu da dívida externa, que tenha uma função pedagógica e
mostre a evolução do endividamento português ao exterior.
«É bom aprender com as coisas do passado, com as
dificuldades, com as soluções que se encontraram ao longo da
história económica portuguesa», disse à Lusa, acrescentando
que «um acervo, um estudo completo e sistematizado seria um
instrumento bastante interessante e bastante pedagógico para
evitar situações no futuro».
Neste contexto «muito concreto em que o país vive, a dívida
pública, como é em parte muito significativa adquirida por nãoresidentes,
transforma-se em dívida externa e tem, por isso,
consequências quando compararmos o produto interno bruto
(PIB) com o rendimento nacional bruto. Como parte dos juros da
dívida pública são pagos ao exterior, parte do PIB criado em
Portugal não fica cá e, portanto, o rendimento nacional bruto
tende a ser inferior PIB».
Bagão Félix alerta para o facto de o português - e contribuinte -
comum estar «muito longe» de conhecer os mecanismos que
regulam e influenciam a dívida externa, apesar de agora estarem
mais conscientes, em resultado da situação em que Portugal se
encontra.
«A dívida externa é não só do Estado mas também da banca,
das empresas, das famílias. É bom que a população portuguesa
tenha maior consciência disso para - sem defender uma
perspectiva de autarcia económica - procurar valorizar bens que
sejam produzidos em Portugal».

Bagão Félix alerta para o facto de o português - e contribuinte -
comum estar «muito longe» de conhecer os mecanismos que
regulam e influenciam a dívida externa, apesar de agora estarem
mais conscientes, em resultado da situação em que Portugal se
encontra.
«A dívida externa é não só do Estado mas também da banca,
das empresas, das famílias. É bom que a população portuguesa
tenha maior consciência disso para - sem defender uma
perspectiva de autarcia económica - procurar valorizar bens que
sejam produzidos em Portugal».
Já o economista Mira Amaral «rejeita completamente» a criação
de um museu do género, «até porque não temos a tradição de
incumprimento da Argentina». «Seria uma péssima ideia, porque
é comparar com a Argentina e dar aos nossos credores
externos uma percepção que podemos ter um risco
semelhante» àquele país, na opinião de Mira Amaral
Na mesma linha, a investigadora Maria Filomena Mónica
considera o projecto uma «ideia disparatada». O papel
pedagógico sobre a situação pertence a uma «oposição
decente» que, se vigiasse as contas, evitaria a intervenção
externa.
«Portugal teve muitas crises financeiras deste tipo, a mais
conhecida a de 1890. Estamos habituados a ter dívidas
externas, infelizmente. Mas, em vez de fazer um museu,
primeiro tratava-se de pôr as contas em ordem». Um museu da
dívida «parece uma coisa de loucos».
«Com a Argentina, façam o que entenderem e tenham as
bancarrotas que lhes apetecer. Que isso tenha um papel
pedagógico não acredito, a não ser levar os meninos da escola
à força, no horário escolar, para verem o museu da bancarrota».

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