Protocolo
Ministério e CML chegam a acordo sobre futuro do "espólio do fado"
Por Lucinda Canelas
Acervo reunido por coleccionador inglês inclui oito mil gravações que serão agora estudadas e digitalizadas para depois serem divulgadas.
Mal se assine o protocolo será preciso iniciar um processo de inventariação, estudo e digitalização da colecção
Dez anos e seis ministros da Cultura depois, a situação do "espólio do fado", nome por que ficou conhecida a colecção de oito mil registos fonográficos reunida pelo britânico Bruce Bastin e vendida a Portugal por 910 mil euros em 2009, vai ser resolvida formalmente. Como? Através de um protocolo entre o Ministério da Cultura e a Câmara Municipal de Lisboa, que deverá ser assinado na próxima semana e que estabelecerá as condições de preservação e estudo do acervo que está há quase três anos no Museu do Fado.
"O que o protocolo vai fazer é regular a forma como a colecção vai ser gerida entre o ministério e a câmara, os dois co-proprietários", disse ao PÚBLICO Miguel Honrado, presidente da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), a empresa municipal que dividirá com o Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) a responsabilidade da colecção.
O ministério e a câmara partilharam os custos da aquisição do espólio em parte desiguais, pagando a administração central 70 por cento do montante total, quase 640 mil euros (o mecenas prometido não chegou a aparecer). Por ter pago menos, explicou Miguel Honrado, a autarquia, através da EGEAC e do seu Museu do Fado, ficará agora encarregada de garantir a fase seguinte, do estudo e digitalização dos registos.
"Não teria valido a pena comprar a colecção se ela ficasse fechada nas reservas de um museu. É preciso tratá-la e disponibilizá-la", afirmou.
Mal se assine o protocolo, uma equipa de investigadores dirigida pela directora do Museu do Fado, Sara Pereira, pelo musicólogo Rui Vieira Nery e pela etnomusicóloga Salwa Castelo-Branco, da Universidade Nova de Lisboa, darão início a um processo de inventariação, estudo e digitalização da colecção reunida por Bruce Bastin (ver caixa).
Conhecer a colecção
O acervo, que Rui Vieira Nery considera de extrema importância para a história do fado e da gravação fonográfica em Portugal, inclui cinco mil registos em 78 rotações feitos entre 1904 e 1945 pela major inglesa Gramophone e por editoras como a HMV e a Columbia. Mas há também três mil "rodelas" compradas no Brasil pelo coleccionador, que foram as últimas a chegar ao museu. São de Júlia Florista, Maria Vitória, Delfi da Cruz, António Menano e do popular Alfredo Marceneiro as principais vozes que Bastin reuniu.
"A colecção é muito importante, mas precisamos de conhecê-la melhor e de a dar a conhecer quando esse trabalho de estudo estiver feito", diz Miguel Honrado, acrescentando que ela deverá depois integrar um grande arquivo digital, uma das medidas previstas no plano de salvaguarda da candidatura do fado a património mundial, submetida à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em Junho do ano passado.
Nesta altura faltam seis meses para saber se o fado passará a fazer parte da lista do património imaterial da humanidade. Em Novembro o comité internacional da UNESCO reúne -se em Bali e o optimismo, tal como a responsabilidade, é grande. A candidatura, explica Miguel Honrado, impõe limites precisos ao plano de salvaguarda: "Tem de se cumprir entre 2011 e 2013, o que significa que temos pouco mais de dois anos para pôr o arquivo digital a funcionar, ou grande parte dele, pelo menos."
E, depois, a colecção mantém-se no Museu do Fado ou passa para o futuro Museu Nacional da Música? É possível que venha a passar para o museu do IMC, "mas nada está ainda decidido".
Em Maio do ano passado, o secretário de Estado da Cultura, Elísio Summavielle, anunciou que em 2014 o Museu da Música sairia das instalações que ocupa na estação de metro dos Alto dos Moinhos desde 1994, instalando-se no Convento de São Bento de Cástris, em Évora, um imóvel que está devoluto e cuja adaptação exigirá obras profundas, disse à data a directora regional de Cultura do Alentejo, Aurora Carapinha. Essas obras ainda não começaram.
(in Público).
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