segunda-feira, 23 de maio de 2011

Barreiro: não podiam fazer o mesmo em Lisboa?

GESTÃO DA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL EM COMUNIDADES ESCOLARES PEDI-BUS ARRANCA A 16 MAIO EM TRÊS ESCOLAS DO CONCELHO
11-05-2011 17:45
Com o objectivo de promover a sensibilização e mudança comportamental dos alunos no que se refere às deslocações casa-escola e vice versa, três escolas piloto do ensino básico do 1º ciclo do Concelho do Barreiro estão envolvidas no Projecto “A pé para a Escola” – Gestão da Mobilidade em Comunidades Escolares” (Walk to School Portugal).


Depois da realização de Pedipapers e de três Saídas de Rua, uma por cada estabelecimento de ensino participante, o Pedi-bus tem início na próxima segunda-feira, dia 16 de Maio. Pretende-se com este ‘autocarro humano’ que um grupo de crianças vá, regularmente, a pé para a sua escola, na companhia de um ou mais adultos, seguindo um determinado percurso, com paragens e horários definidos. Participam neste Projecto de investigação-acção as escolas EB1/JI Professor Joaquim Rita Seixas, a EB1/JI Nº 2 do Lavradio e a EB1/JI Nº 8 do Barreiro.

Para explicar o Projecto, promovido e financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, desenvolvido e coordenado pelo CESNOVA – Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa e apoiado pelas Câmaras Municipal do Barreiro e de Loures teve lugar, a 6 de Maio, a realização do segundo Seminário Internacional “A pé para a Escola” – Gestão da Mobilidade em Comunidades Escolares” (Walk to School Portugal).

Neste contexto, o Auditório da Escola Superior de Tecnologia do Barreiro foi o palco escolhido para acolher organizadores e oradores convidados. Ao longo da sessão os temas em destaque foram, na primeira parte do seminário, ‘Mobilidade pedonal e sustentabilidade em Portugal’ e, numa segunda parte, ‘Estudos de caso e dinâmicas de participação’.

A sessão de abertura do Seminário contou com a presença de Carlos Humberto de Carvalho, Presidente da Câmara Municipal do Barreiro (CMB). Começando por lembrar a forma habitual e pedonal como em criança ia para a escola, afirmou que jamais lhe passaria pela cabeça que, anos depois, estaria a discutir esta problemática relacionada com as idas a pé para a escola. “A complexidade da vida, as mudanças sociológicas, as questões de segurança, etc., levam-nos a que tenhamos este e outros novos problemas” disse.

De acordo com o Autarca, “hoje as questões da mobilidade são um dos principais problemas das Cidades, ao qual é preciso dar particular atenção. Estas questões têm importância crescente, do meu ponto de vista, até porque as cidades são para as pessoas, para os cidadãos. E cada vez me sinto mais angustiado porque, construímos cidades que deviam ser para os seres humanos e depois não encontramos as soluções para que os seres humanos se sintam bem nas cidades que todos construímos. Este é um problema sério que é preciso, com seriedade e com serenidade, procurar resolver.

Um dos problemas com os quais a sociedade se debate, e que no meu entender também tem que ver com este Projecto, é que nós, por razões de segurança, ou outras, cada vez menos utilizamos o Espaço Público. E é preciso que cada vez mais utilizemos o Espaço Público para as nossas gentes. Considero que é muito importante este processo formativo permanente, de construção permanente da cidade, por parte das pessoas.

As questões de cidadania, da educação e da saúde estão intimamente ligadas às questões de utilização do espaço público e da mobilidade. Tudo isto se interliga. Sou dos que defende que a melhor forma de defender os nossos direitos é exercê-los e nós também temos o direito de ser peões. E temos o direito de utilizar o espaço público. Se permitimos que outros utilizem este espaço por nós, quer dizer que amanhã perdemos este direito. Para finalizar Carlos Humberto de Carvalho deixou um apelo – “é preciso que todos, e todos os dias, saibamos construir a tal cidade que seja a cidade das pessoas. Isto está só nas nossas mãos”.

Parte integrante do painel - Mobilidade pedonal e sustentabilidade em Portugal’, seguiram-se as apresentações Mudança de Comportamentos para a Sustentabilidade – O Papel das Instituições e dos Cidadãos pelo orador Francisco Lima Costa, Investigador do CESNOVA; Mobilidade Sustentável em Comunidades Escolares: perspectivas sobre um desafio, pelo orador Mário Alves, Consultor de Transportes e Mobilidade; TocaPé: Reflexões sobre a mobilidade casa-escola, por Luís Paulo Rodrigues do Instituto Politécnico de Viana do Castelo & CIDESD e, Espaço Público e Mobilidade – o caso das escolas-piloto de Loures, por Márcia Ferreira , bolseira da FCSH – UNL.

Numa segunda parte, subordinada à temática ‘Estudos de caso e dinâmicas de participação’, intervieram Lies Lambert (oradora belga) convidada para apresentar O Jogo da Serpente; Rui Amaro Alves do Instituto Politécnico de Castelo Branco que falou sobre Mobilidade Escolar em Castelo Branco e por fim, David Carvalho Bolseiro da FCSH – UNL que apresentou o caso das escolas-piloto do Barreiro dentro do sub-tema Implementar a mobilidade pedonal em comunidades escolares.

Tendo em conta o retrato da comunidade escolar em torno dos comportamentos, motivações e percepções face à mobilidade sustentável, David Carvalho explicou que no caso das escolas-piloto do Barreiro começou por analisar e representar graficamente as habituais formas de deslocação casa-escola dos alunos (a pé, de transportes públicos, de automóvel ou de carrinha ATL). A conclusão obtida foi a de que a grande maioria dos alunos “já vai a pé”. Neste caso, importa explicar aos restantes os benefícios de andar a pé. De acordo com este sociólogo «Andar a pé, porque sim. Porque ajuda o Desenvolvimento psico-motor saindo beneficiada a saúde física e mental da criança; porque fomenta a Cidadania e a Participação, aumentando as vivências, entre comunidades e instituições. Por último, sendo a pedonalidade um facto de mudança para melhorar a qualidade ambiental e do espaço público, haverá uma significativa melhoria na qualidade de vida da criança/aluno, da família e da comunidade.

No encerramento deste Seminário, Rui Lopo, Vereador do Planeamento e Gestão Urbana da CMB enfatizou, também ele, questões relacionadas com o Espaço Público, afirmando que a sua acção na Autarquia visa “decidir com as pessoas, e responder àquilo que são as suas necessidades”. O desafio que lançou aos presentes foi o de pensarem que sociedade queremos ter? Se é esta actual, que nos oprime e que nos coloca num padrão insustentável.
Segundo referiu, “no Barreiro trabalhamos para que isto mude e temos um conjunto de projectos de índole de mobilidade”. A encerrar deu o exemplo do serviço prestado pelos Transportes Colectivos de gestão municipal que, a funcionar há mais de 50 anos, transportam actualmente, por dia 50 mil, passageiros, dos quais entre mil e quinhentos a dois mil são estudantes.




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