sexta-feira, 29 de abril de 2011

«Um tempo único».

Sócrates inaugura hoje estação de esgotos que promete tirar o mau cheiro de Lisboa
29.04.2011
Patrícia de Oliveira

Depois de cinco anos de obras, a Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcântara, a maior do país, está finalmente pronta e entra hoje em funcionamento.

Nesta estação vão ser tratados esgotos de mais de 756.000 habitantes de Lisboa, Amadora e Oeiras. "É um sinal de grande modernidade do nosso país", defende a ministra do Ambiente, Dulce Pássaro, que estará na abertura, com José Sócrates.

Até há pouco tempo, quem visitasse a Baixa lisboeta poderia ter o azar de se deparar com um cheiro desagradável. Com a entrada em funcionamento da ETAR de Alcântara, a história vai passar a ser outra, garante Dulce Pássaro. "Agora é natural que ainda haja algumas lamas com mau cheiro, sobretudo nos dias de maré baixa", diz a responsável pela pasta do Ambiente. "Mas tudo isso vai ser regenerado." Outra particularidade desta infra-estrutura é que a cobertura é verde, feita de vegetação.

Derrapagem de 3,9 milhões

Esta é a 22.ª e a última estação a ficar concluída junto ao Tejo. É também uma das mais completas, incluindo o tratamento de águas residuais e um sistema de recolha e desodorização de gases e cheiros.

Os esgotos domésticos são tratados em três fases: além da fase primária (em que se separa os sólidos mais grossos da água) e secundária (em que se faz o tratamento biológico das águas, retirando todos os elementos orgânicos), esta ETAR tem ainda um sector terciário de desinfecção da água através de lâmpadas ultra-violetas. Os resíduos vão chegar à nova ETAR de Alcântara através de duas vias: pelos interceptores colocados em toda a zona ribeirinha, desde Algés até Alfama, e pelo caneiro de Alcântara, utilizado para os esgotos da zona alta da cidade e Amadora. Por fim, as águas residuais tratadas são descarregadas no rio Tejo junto à Doca de Santo Amaro, refere um comunicado do ministério.

A infra-estrutura foi construída sem que a antiga deixasse de funcionar. A nova tem "mais capacidade" e "um melhor desempenho", sustenta Dulce Pássaro. A obra deveria ter ficado concluída em Fevereiro de 2010, mas "foram encontrados alguns achados arqueológicos" que provocaram "um pequeno atraso", diz a ministra. A conta também derrapou3,9 milhões de euros em relação ao orçamento inicial (64,4 milhões) previsto pela empresa SimTejo, responsável pela construção da infra-estrutura.

A inauguração da ETAR de Alcântara ocorre três meses depois de os esgotos da zona central de Lisboa, correspondentes a 120.000 habitantes, terem deixado de ser despejados no Tejo, sem qualquer tratamento. Esses resíduos foram, na altura, conduzidos para a estação de tratamento de Alcântara. "Temos um novo Tejo, um Tejo limpo", garante a governante. "Já se voltaram a ver no estuário espécies animais que tinham deixado de se ver há muito tempo", continua, referindo, como exemplo, o golfinho. Para Dulce Pássaro, os principais passos no tratamento de águas residuais em Lisboa e requalificação do estuário "já estão dados".

ETAR do Seixal abre para a semana e serve casas e indústria

A lista de inaugurações de estações de tratamento de águas residuais já vai longa. Depois da inauguração,a 12 de Abril, da ETAR do Barreiro e Moita - a maior da Margem Sul do Tejo -, e da inauguração da ETAR de Alcântara, hoje, na próxima segunda-feira é a vez de a estação de tratamento do Seixal receber a visita de Dulce Pássaro e entrar em funcionamento.

Estas são apenas três das 22 ETAR construídas nas margens Norte e Sul do Tejo e na zona de Cascais. Representam um investimento de 600 milhões de euros, que vai servir mais de 4,4 milhões de pessoas.

A ETAR do Seixal, cuja construção esteve a cargo da Simarsul, empresa do grupo Águas de Portugal responsável pelo saneamento de águas residuais na península de Setúbal, vai fazer o tratamento das águas residuais urbanas do concelho e também dos esgotos de algumas zonas industriais. De acordo com um comunicado da empresa de Agosto de 2008, a conclusão desta estação também estava prevista para o primeiro trimestre de 2010, mas só na segunda-feira vai ser inaugurada.

O desenvolvimento das ETAR de Lisboa, Cascais e Setúbal começou em 2005, com o primeiro mandato de José Sócrates, e vai prolongar-se até 2013, altura apontada pelo Ministério do Ambiente para a conclusão de todas as ETAR do país.

Por agora, Dulce Pássaro diz que o "essencial já está feito", graças à aplicação de fundos comunitários nesta área. "Na minha qualidade de ministra, estou a viver um tempo único", garante.

(in Público).

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