sexta-feira, 11 de março de 2011

Estufa Fria: aleluia!





Estufa Fria reabre em Abril após dois anos de encerramento
Por Ana Henriques

Obra ainda não terminou, mas estrutura já não corre risco de colapso. Maioria das plantas sobreviveu à intervenção

Dois anos e 1,75 milhões de euros depois, a Estufa Fria de Lisboa vai finalmente reabrir ao público. Será em Abril, garante o vereador dos Espaços Verdes da câmara, José Sá Fernandes, sem arriscar uma data concreta.

Foi no final de Abril de 2009 que a autarquia mandou encerrar o recinto em que tantas gerações de lisboetas namoraram, devido ao risco de colapso da estrutura metálica que suportava as ripas de madeira da cobertura. Colunas e capitéis corroídos e vigas curvadas compunham um cenário de perigo para as espécies vegetais e para os visitantes. A solução passou por lançar uma empreitada de emergência, sem concurso público e por ajuste directo, mas mesmo assim as obras só começariam nove meses depois, prolongando-se para lá do previsto. A reabertura devia ter acontecido em Novembro.

Quem entrar em Abril na Estufa Fria vai notar várias diferenças. O recinto está menos sombrio, mais luminoso, por via da substituição da cobertura e das zonas laterais, que se encontravam repletas de vegetação, nomeadamente trepadeiras. "A atmosfera inicial da estufa já cá não está - nem podia estar! A luz agora entra por todo o lado. Mas está tudo muito bem, está lindo. As plantas aguentam-se", observa, entusiasmado, o biólogo Fernando Catarino, que visitou o recinto ainda fechado ao público, com o vereador e vários técnicos. Em Abril, quando reabrir, faltará vedar o perímetro do recinto com ripas de pinho idênticas às da cobertura, o que ajudará a escurecer outra vez a estufa, tornando-a mais acolhedora.

Esta operação, que só será levada a cabo lá para Setembro, já que o processo de escolha do empreiteiro que será encarregue desta fase dos trabalhos, orçada em mais 600 mil euros, ainda não se encontra concluído. Sá Fernandes diz que vai tentar que esta obra não implique novo encerramento da estufa, mas apenas de partes dela.

Ainda falta também construir um centro interpretativo no exterior, obra que o autarca quer que seja o concessionário do futuro restaurante - que será instalado na nave - a pagar. "Ainda vamos fazer um novo caminho à volta da estufa, por cima, e abrir portas para permitir que os visitantes possam circundar o lago", explica o vereador.

Perdas de espécimes durante as obras que agora terminam, claro que as houve. Quais? "Ainda está a ser avaliado", responde Rui Furtado Marques, da empresa de construção civil HCI. À primeira vista a vegetação parece menos densa do que era. E como as colunas que sustentavam a cobertura tiveram de ser substituídas, toda a ramagem verde que as enleava, fetos e outros espécimes, desapareceu. De aço galvanizado pintado, os novos pilares são mais leves e estreitos que os antigos, mas permanecem nus. Mesmo assim, foram tomados cuidados especiais para minimizar danos: os operários trabalharam em passadiços montados entre torres e foram usadas gruas móveis. "Estou muito satisfeito com o resultado final", declara Sá Fernandes. Há uns tempos, com a obra ainda a meio, temeu o pior, perante o pandemónio instalado. Afinal, os temidos estragos no verde parecem-lhe hoje insignificantes.

Outra transformação consistiu na sobreelevação da cobertura de ripado, nalguns casos em mais de quatro metros. Agora as palmeiras mais altas já não tentam furar para o exterior. Encantado, Fernando Catarino agarra numa ponta de uma planta de sucos tóxicos: "Ninguém pode ser indiferente à beleza destas eufórbias leitosas!" Estamos na zona dos cactos, que, tal como a da estufa quente, não sofreu qualquer remodelação. O antigo director do Jardim Botânico curva-se para tocar numa lágrimas-de-anjo, que, com as suas longas folhas verdes e flores rosadas, mora quase rente ao chão: "Dentro destas até sapos vivem." Depois espreita um dos muitos recantos românticos da estufa. Daqui abarca-se quase por completo o recinto, que foi criado no início do século passado por um jardineiro da Câmara de Lisboa. Manuel, assim se chamava, aproveitou esta antiga pedreira abandonada para fazer medrar, nuns vasos, plantas frágeis que não resistiam ao vento.

Foi o começo de tudo. Hoje a estufa ocupa uma área superior a um hectare e tem uma flora exótica de vários pontos do mundo, com destaque para as regiões tropicais.

(in Público).

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