quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Não, não é brilhante.














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Ana Henriques

Avolumam-se as críticas e dúvidas em torno da parceria público-privada, válida por 40 anos, que a Câmara de Lisboa quer fazer com duas empresas espanholas para concessionar e transformar as piscinas do Areeiro, Campo Grande e Olivais.

À questão da qualidade arquitectónica dos projectos - o próprio presidente do júri do concurso internacional lançado pela autarquia, Pedro Brandão, admite que "não é brilhante" - juntam-se objecções relacionadas com a destruição de obras que chegaram a ser consideradas emblemáticas da arquitectura portuguesa dos anos de 1960.

Defensora da preservação dos antigos edifícios quando era bastonária dos arquitectos, em 2006, a actual vereadora Helena Roseta deixou de criticar a sua demolição, que será total no caso do Areeiro e parcial no caso do Campo Grande. Apenas as instalações desportivas dos Olivais se manterão, no exterior, semelhantes ao que eram, mas a piscina passa a ser coberta.

"Neste momento já não havia muito para salvaguardar. Se a câmara estivesse a nadar em dinheiro, a solução podia ser outra", conforma-se Roseta. Assim sendo, a autarquia vai celebrar contratos com privados para a construção e exploração dos recintos, de modo a que estas paguem os mais de 20 milhões de euros necessários para modernizar aqueles três espaços com ginásio, piscina e spa. Os concessionários prometem cobrar ao público preços módicos: 35 euros por um livre-trânsito mensal, e 45 para dois adultos com uma criança.

Estes preços suscitam desconfianças ao vereador do CDS-PP, António Carlos Monteiro: "Quando a esmola é grande, o pobre desconfia." O autarca tentou informar-se sobre a capacidade financeira dos parceiros da autarquia, mas sem sucesso. Na reunião de câmara marcada para hoje, que deverá analisar este tema, será suscitada esta e ainda outra questão, relacionada com a volumetria dos projectos do Areeiro, na Avenida de Roma, e do Campo Grande. No primeiro caso, o vereador não tem dúvidas: o projecto vencedor é susceptível de violar o Plano Director Municipal, uma vez que ocupa o terreno adjacente, o chamado logradouro. Quanto ao surgimento, em pleno jardim do Campo Grande, de um ginásio de três pisos no sítio da actual piscina de Keil do Amaral, num total de 5000 metros quadrados, há diversas vozes contra a ideia, nomeadamente na blogosfera. Não é o caso do vereador dos Espaços Verdes, Sá Fernandes: "Gosto imenso do projecto."

A câmara podia ter concorrido a fundos comunitários s, observa a deputada municipal dos Verdes Cláudia Madeira. Já o vereador do CDS teme que uma menor solidez financeira dos concessionários possa conduzir ao abandono das piscinas, como sucedeu no campo de golfe da Bela Vista.

Empresa que ganhou Areeiro contestada

Datam deste mês e do mês passado as mais recentes reclamações relativas à empresa galega que ficou em primeiro lugar no concurso para a reconversão e exploração da piscina do Areeiro, na Av. de Roma.

A Sidecu, que detém os ginásios da marca Supera, reduziu a sua oferta de actividades no complexo desportivo Cachada, na Corunha, o que motivou protestos dos utentes. As autoridades regionais estão, porém, amarradas a um contrato de concessão que só expira em 2022. Segundo a imprensa local, como a Sidecu continua a cumprir os mínimos, não há condições para pôr fim à parceria público-privada. Por outro lado, conflitos laborais relacionados com o aumento de salários têm levado os funcionários a greves que, há um ano, obrigaram ao encerramento de vários destes espaços, nalguns casos durante perto de dois meses.

Desde aí que alguns municípios exigem à Sidecu que devolva aos milhares de frequentadores dos recintos a mensalidade que pagaram nessa altura, mas sem sucesso.

"São problemas pontuais num grupo que gere 25 centros desportivos em toda a Espanha", assegura o porta-voz dos ginásios Supera, Roberto Gómez. "Somos líderes neste modelo de gestão", prossegue. E se a redução de actividades em Cachada se explica por uma "redução da procura" do ginásio, já a não-devolução das mensalidades tem outra razão: "Há diferentes interpretações da lei".

Penha de França encerrada

O PCP apresentou ontem na Assembleia Municipal de Lisboa um requerimento para saber quando reabrirá a piscina da Penha de França, encerrada no final de 2010 por causa daquilo que a autarquia designou por "anomalias estruturais". Não foi indicada aos utentes qualquer data para a sua reabertura.As alternativas indicadas aos frequentadores, Alfama e Casal Vistoso, "implicam mais despesa e maior perda de tempo nas deslocações", observam os comunistas, que querem ainda saber com que regularidade era feita a manutenção deste equipamento e quais os resultados da peritagem técnica levada a cabo depois do seu encerramento.


(in Público).

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