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O cubinho da questão
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa mostra-se não sei se surpreendido se indignado (ou ambas as coisas) com o facto de entre os 184 endereços municipais que indiquei como alternativas ao gabinete que vai instalar no n.º 27 do Largo do Intendente, alugado e renovado para o efeito, se encontrarem "36 (!) sedes de juntas de freguesia", os Julgados de Paz de Lisboa, o Pólo Tecnológico de Lisboa, a Orquestra Metropolitana, 14 são gabinetes de atendimento nos bairros municipais, museus, teatros etc... Mas é precisamente isso e escrevi-o no texto: escolhi locais onde já funcionam serviços municipais e onde a presença temporária do gabinete do presidente da autarquia seria tão necessária ou desnecessária, eficaz ou demagógica quanto no n.º 27 do Largo do Intendente. O edifício da antiga fábrica da Viúva Lamego no Intendente terá (ou teria antes das obras que a CML aí está a fazer) certamente menos condições para aí se instalar um gabinete para o presidente da autarquia do que as salas/auditório do Padrão dos Descobrimentos cuja inclusão na lista de endereços tanto chocou António Costa.
Contudo, se o presidente da autarquia se sente chocado com o facto de eu sugerir que partilhe o espaço com outros serviços municipais (e já que se obstina em levar o seu gabinete para fora dos paços do concelho e das instalações faraónicas da CML no Campo Grande) tomo a liberdade de lhe sugerir os inúmeros edifícios devolutos propriedade da CML - a CML é o maior proprietário de edifícios na capital -, os prédios que a EPUL tem construído e que não aluga nem vende, sem esquecer as 1086 lojas existentes nos bairros municipais, na sua maioria fechadas e sem outra utilidade aparente que não seja a de contribuírem para o ar degradado desses bairros. Mesmo sem sairmos da zona do Intendente, tem a CML por intermédio da EPUL, segundo leio nos jornais, edifícios à espera de utilização nas ruas do Benformoso, Amendoeira, Capelão, João do Outeiro e Escadinhas do Marquês de Ponte de Lima. E na Avenida das Forças Armadas, bem próxima das instalações da CML, está aquela urbanização, também da EPUL, que, à falta de residentes, mais parece uma mansão de Ceausescu, nos dias da queda do regime comunista romeno.
Não percebo, e creio não estar só nesta minha dificuldade de entender, o que leva a autarquia de Lisboa a alugar e fazer obras num edifício para aí instalar temporariamente um gabinete que no caso é o do seu presidente mas podia ser outro qualquer. O que não falta à CML são locais para instalar os seus serviços. Aliás, se da instalação desses serviços numa determinada zona da cidade resultasse algum benefício e estímulo para os bairros em questão, como acredita António Costa que irá acontecer com a sua mudança para o Intendente, Lisboa seria a mais afortunada e estimulada das cidades tal a profusão de serviços e edifícios municipais por ela espalhados.
Uma das vantagens destas polémicas, sob a forma de epístolas, é que elas permitem abordar vários assuntos. E assim, nem de propósito, no embalo do património municipal aproveito para tratar dos cubos com o presidente da autarquia de Lisboa, que, pese considerar que eu escrevo "dislates", sempre se deu ao trabalho de me responder.
Mas vamos ao que me interessa, ou seja, aos cubos. Na verdade, já não os posso ver. Ganhei-lhes um fastio militante. Falo dessas coisas cúbicas, com uns painéis de madeira, outros de metal e umas janelas encaixadas lá no fundo, a lembrar umas fortalezas, com que se têm revestido escolas e demais edifícios públicos por esse país fora. Tudo aquilo me parece uma recriação da arquitectura do efémero que fez as delícias dos nossos antepassados barrocos: não se vê o que está por baixo e desfaz-se ao primeiro safanão dos ventos ou inclemência do sol. Dos pavilhões multiusos aos cafés de praia que dantes eram amarelos, verdes e de feitios vários já sobram poucos que não tenham sido submetidos à estética dos cubos.
Mas a que vem esta conversa sobre cubos com o presidente da CML? Porque a próxima vítima do cubo-encaixotamento vai ser a lindíssima piscina do Campo Grande, da autoria de Keil do Amaral.
Senhor presidente da CML, eu posso escrever dislates, como afirmou ontem neste jornal, mas acredite que um presidente da autarquia de Lisboa que deixa destruir um edifício como aquele, que não vale apenas por ele mesmo mas também pela forma como se integra naquele jardim, arrisca-se a ficar na história da cidade por algo bem pior do que ter dito ou escrito uns dislates. De mim, amanhã ninguém lembrará os textos. De si poderão dizer: dantes havia aqui um belo edifício que um presidente de câmara deixou destruir para que se fizesse isso que aí vêem.
Helena Matos.
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa mostra-se não sei se surpreendido se indignado (ou ambas as coisas) com o facto de entre os 184 endereços municipais que indiquei como alternativas ao gabinete que vai instalar no n.º 27 do Largo do Intendente, alugado e renovado para o efeito, se encontrarem "36 (!) sedes de juntas de freguesia", os Julgados de Paz de Lisboa, o Pólo Tecnológico de Lisboa, a Orquestra Metropolitana, 14 são gabinetes de atendimento nos bairros municipais, museus, teatros etc... Mas é precisamente isso e escrevi-o no texto: escolhi locais onde já funcionam serviços municipais e onde a presença temporária do gabinete do presidente da autarquia seria tão necessária ou desnecessária, eficaz ou demagógica quanto no n.º 27 do Largo do Intendente. O edifício da antiga fábrica da Viúva Lamego no Intendente terá (ou teria antes das obras que a CML aí está a fazer) certamente menos condições para aí se instalar um gabinete para o presidente da autarquia do que as salas/auditório do Padrão dos Descobrimentos cuja inclusão na lista de endereços tanto chocou António Costa.
Contudo, se o presidente da autarquia se sente chocado com o facto de eu sugerir que partilhe o espaço com outros serviços municipais (e já que se obstina em levar o seu gabinete para fora dos paços do concelho e das instalações faraónicas da CML no Campo Grande) tomo a liberdade de lhe sugerir os inúmeros edifícios devolutos propriedade da CML - a CML é o maior proprietário de edifícios na capital -, os prédios que a EPUL tem construído e que não aluga nem vende, sem esquecer as 1086 lojas existentes nos bairros municipais, na sua maioria fechadas e sem outra utilidade aparente que não seja a de contribuírem para o ar degradado desses bairros. Mesmo sem sairmos da zona do Intendente, tem a CML por intermédio da EPUL, segundo leio nos jornais, edifícios à espera de utilização nas ruas do Benformoso, Amendoeira, Capelão, João do Outeiro e Escadinhas do Marquês de Ponte de Lima. E na Avenida das Forças Armadas, bem próxima das instalações da CML, está aquela urbanização, também da EPUL, que, à falta de residentes, mais parece uma mansão de Ceausescu, nos dias da queda do regime comunista romeno.
Não percebo, e creio não estar só nesta minha dificuldade de entender, o que leva a autarquia de Lisboa a alugar e fazer obras num edifício para aí instalar temporariamente um gabinete que no caso é o do seu presidente mas podia ser outro qualquer. O que não falta à CML são locais para instalar os seus serviços. Aliás, se da instalação desses serviços numa determinada zona da cidade resultasse algum benefício e estímulo para os bairros em questão, como acredita António Costa que irá acontecer com a sua mudança para o Intendente, Lisboa seria a mais afortunada e estimulada das cidades tal a profusão de serviços e edifícios municipais por ela espalhados.
Uma das vantagens destas polémicas, sob a forma de epístolas, é que elas permitem abordar vários assuntos. E assim, nem de propósito, no embalo do património municipal aproveito para tratar dos cubos com o presidente da autarquia de Lisboa, que, pese considerar que eu escrevo "dislates", sempre se deu ao trabalho de me responder.
Mas vamos ao que me interessa, ou seja, aos cubos. Na verdade, já não os posso ver. Ganhei-lhes um fastio militante. Falo dessas coisas cúbicas, com uns painéis de madeira, outros de metal e umas janelas encaixadas lá no fundo, a lembrar umas fortalezas, com que se têm revestido escolas e demais edifícios públicos por esse país fora. Tudo aquilo me parece uma recriação da arquitectura do efémero que fez as delícias dos nossos antepassados barrocos: não se vê o que está por baixo e desfaz-se ao primeiro safanão dos ventos ou inclemência do sol. Dos pavilhões multiusos aos cafés de praia que dantes eram amarelos, verdes e de feitios vários já sobram poucos que não tenham sido submetidos à estética dos cubos.
Mas a que vem esta conversa sobre cubos com o presidente da CML? Porque a próxima vítima do cubo-encaixotamento vai ser a lindíssima piscina do Campo Grande, da autoria de Keil do Amaral.
Senhor presidente da CML, eu posso escrever dislates, como afirmou ontem neste jornal, mas acredite que um presidente da autarquia de Lisboa que deixa destruir um edifício como aquele, que não vale apenas por ele mesmo mas também pela forma como se integra naquele jardim, arrisca-se a ficar na história da cidade por algo bem pior do que ter dito ou escrito uns dislates. De mim, amanhã ninguém lembrará os textos. De si poderão dizer: dantes havia aqui um belo edifício que um presidente de câmara deixou destruir para que se fizesse isso que aí vêem.
Helena Matos.
2 comentários:
Li a réplica da cavalgadura à Helena Matos - deve ter-se achado muito brilhante ao redigi-la (se é que sabe escrever) com aquela coisa de as moradas serem de cinemas e de piscinas (piscinas, hem!) - e li a tréplica dela. Coitado!
De facto a morada da Cç do Cascão é duma piscina.
Mas isso não interessa nada.
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