sábado, 12 de fevereiro de 2011
Gérard Castello-Lopes (1925 - 12 de Fevereiro de 2011).
As fotografias de Gérard pedem mil palavras. As dele, de preferência, a que, com volúpia, nunca se nega. Mas também as nossas. As de quem o vê ou ouve. As de quem observa as suas imagens. As dos outros artistas. E as dos poetas. Juntem-se estas fotografias lisboetas aos poemas, não de Fernando Pessoa, mas de Alexandre O’Neill, e veremos que é o casamento feliz. Não há fusão, igualdade ou sobreposição. Há sensibilidades próximas. E uma infinita e doce ironia de que só são capazes os que não se levam demasiado a sério.
Apesar da diferença e do confronto. E do conflito.A Lisboa de Gérard é quase a Lisboa de Pessoa. Física e cronologicamente. As ruas, o estendal, as crianças, os velhos e os burgueses podem ser os mesmos. Uma ou duas décadas separam ambas. Para o tempo, era pouco. Mas estética e humanamente, a Lisboa de Gérard não é a Lisboa de Pessoa. A cidade de Pessoa é triste, como ele próprio. Irreal como o poeta. “Sem corpo”, disse-me um dia Gérard. É uma cidade que Pessoa quereria “triste e alegre”, mas que é apenas a “cidade da minha infância pavorosamente perdida” (Álvaro de Campos). Lisboa para Pessoa é “o meu lar” (Bernardo Soares). Lisboa é uma aldeia com medo de parecer cidade. Lisboa é o amor da sua memória, a memória do nunca conheceu mas inventou. Lisboa é a aldeia e o espaço que nunca teve. Lisboa é geografia inventada para um espírito sem carne. Lisboa é um heterónimo.
"Gérard Castello-Lopes por António Barreto, in revista Indy de 23 de Outubro de 1998, Jornal Independente."
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