quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Casa Ventura Terra.





S.O.S. pela Casa Ventura Terra
No tempo em que havia mecenas (entendidos como aqueles que patrocinam algo abdicando de contrapartidas por esse facto), certo proprietário, por acaso “apenas” um dos maiores arquitectos do seu tempo, Miguel Ventura Terra; resolveu doar às Escolas de Belas-Artes de Lisboa e Porto o prédio que projectara e habitara em Lisboa, na R. Alexandre Herculano, Nº 57, «destinando o seu rendimento líquido para pensões a estudantes pobres e a escolas que mostrem decidida vocação para as belas-artes», conforme consta da placa afixada na fachada.

Um edifício notável, estética e funcionalmente falando, que haveria de ganhar, mal foi construído, o Prémio Valmor (1903). Oitenta anos passados seria classificado Imóvel de Interesse Municipal e em 1996 alcançaria o estatuto de Imóvel de Interesse Público. Hoje, é um dos mais valiosos, genuínos e já raros exemplos de construção e decoração Arte Nova existentes em Lisboa. Desengane-se, contudo, quem pense que todos estes galões são garantia do que quer que seja, muito pelo contrário:

A Casa Ventura Terra já não pertence às escolas de belas-artes mas sim à Direcção-Geral do Tesouro e Finanças, “emérita” herdeira do Património do Estado, pelo que duvido que os rendimentos pagos pelos inquilinos (a Casa é quase totalmente habitada) ao senhorio sirvam hoje os propósitos inscritos na placa referida. E como o património do Estado está como está, a Casa não é excepção.

Desde a sua fundação, o edifício apenas teve obras nos anos 50 (pinturas), 70 (beneficiação geral) e em 1994-95 com a substituição da rede de água, gás e electricidade, obra supervisionada por quem de direito (IPPAR) mas de gosto mais que duvidoso (desapareceu a iluminação de época, da escadaria e dos patamares, por ex.) e substituiu-se a caixilharia em madeira das marquises a tardoz (incapazmente pois já apodreceu entretanto). Neste momento a Casa Ventura Terra mete água por todo o lado: telhado, fachada traseira (marquises incluídas), e lateral, carecem de obras realmente URGENTES, sob pena de Lisboa ver ruir um edifício de excepcional qualidade ou ter uma tragédia entre mãos.

Mais, anteontem a Casa Ventura Terra só não ardeu toda graças à intervenção rápida de dois dos inquilinos, que vendo o compartimento onde se encontra o motor do fabuloso elevador a deitar fumo e o dínamo a arder, de imediato conseguiram desligar o disjuntor do elevador evitando que o pior viesse a acontecer. O mais caricato é que o incidente se ficou a dever à sobre-utilização do elevador como monta-cargas feita a pedido da Faculdade de Belas Artes por motivo de mudanças… Enquanto isto, são feitas vistorias e trocam-se galhardetes, jogos de flores, entre CML e DGTF sobre quem tem que fazer obras … ora és tu, ora sou eu, ora sou eu e tu, tu e eu.

Paulo Ferrero



In Jornal de Notícias (13.1.2011)

1 comentário:

Lola disse...

É impensável que esta joia da arquitectura, da autoria do melhor arquitecto do seu tempo,aquela que a sua própria casa que deixou em benefício de outros por legado as Belas Artes se deixe assim adoecer. Com recuo de mais de 100 anos Ventura fez grande investimento neste prédio que valorizou Lisboa e doou a quem acreditava cuidar da sua conservação para ajudar as pessoas e a arte.Esta é uma questão de prioridade e gestão.Nem sei para que investem por vezes em acessórios de mau gosto e não tratam do que tem que ser tratado tal como recuperar este belo edifício.Alguém se lembre em o tratar em sessão de camara
AldaTerra