Santana Lopes acusado de fragilizar PSD em Lisboa
Por Ana Henriques
Deputados municipais próximos do ex-primeiro-ministro quebraram disciplina de voto e aprovaram plano de salvaguarda da Baixa pombalina
Comissões fizeram diversos reparos ao plano
O líder da distrital de Lisboa do PSD, Carlos Carreiras, quer apurar se foi por pressão do vereador Santana Lopes que vários deputados municipais deste partido quebraram ontem a disciplina de voto, aprovando o plano de salvaguarda da Baixa pombalina elaborado pelo PS, enquanto o resto da banca "laranja" se abstinha na votação. "Se assim foi, confirma-se o desrespeito e o afastamento do PSD por parte de Santana Lopes que já se vinha a sentir", diz Carreiras.
Já o líder da bancada "laranja" na Assembleia Municipal de Lisboa, António Prôa, não tem dúvidas: com esta "intromissão inédita" no sentido de voto de nove dos 41 deputados sociais-democratas, o ex-primeiro-ministro "provocou a divisão, enfraquecendo e fragilizando o PSD".
Não é a primeira vez que vêm a público as divergências entre vereadores e deputados municipais do PSD. Santana Lopes não queria António Prôa para líder de bancada e incompatibilizou-se com um dos seus vereadores, Vítor Gonçalves, que nem sempre vota da mesma forma que os colegas.
"Pensar que pressionei os deputados para votar de determinada forma é não respeitar a sua dignidade", reage Santana Lopes. "Mas já constatei que, para os dirigentes do PSD, não há problema em existirem posições dissonantes" dentro do partido, acrescenta, aludindo ao facto de as posições de Vítor Gonçalves contarem com a confiança da distrital mesmo quando contrariam as suas. "Já me acusaram várias vezes na vida de prejudicar o PSD. Depois mudaram de opinião. São os nervos, mas isso passa".
No caso de ontem, em que se discutiram as normas urbanísticas aplicáveis à zona da Baixa de Lisboa, as posições divergentes do PSD não eram passíveis de influenciar a votação - quer os sociais-democratas aprovassem o documento ou se abstivessem, o resultado seria sempre a sua viabilização. Mas o mesmo poderá não acontecer no futuro, na votação de documentos de importância maior, como o Plano Director Municipal. Se os nove deputados próximos de Santana - um deles foi seu chefe de gabinete na câmara e em São Bento - insistirem em contrariar a direcção da bancada, o seu peso poderá tornar-se decisivo nos casos em que o resultado final seja decidido por escassos votos. Uma mudança no equilíbrio de forças que beneficia os socialistas, cujas propostas já foram várias vezes inviabilizadas pela assembleia municipal - com destaque para o Orçamento de 2010.
Ontem, um dos votos favoráveis foi o do presidente da Junta de Freguesia de S. Nicolau, António Manuel, que fez questão de frisar como Santana Lopes tinha tido, enquanto presidente da câmara, um papel preponderante nos esforços para recuperar a Baixa. O autarca, que rebateu as críticas ao documento efectuadas pelos seus colegas de bancada, chegou a ser aplaudido por deputados socialistas e foi mesmo citado pelo vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, quando este apresentou o documento. Não conseguiu, porém, convencer a maioria dos seus colegas de bancada. "É um mau plano, sem ambição", criticou Magalhães Pereira, da Junta dos Prazeres, frisando que o anunciado repovoamento da Baixa "não se faz sem acessos rodoviários e estacionamento".
Mas nem só na bancada do PSD surgiram divergências. Um dos deputados dos Cidadãos por Lisboa, de Helena Roseta, também se absteve, enquanto os seus colegas aprovaram o plano.
(in Público).
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