Arte
Lisboa vai perder calçada portuguesa
por CARLOS DIOGO SANTOS
O típico pavimento é conhecido como calçada portuguesa, mas são poucos os portugueses que apostam no seu potencial. Já foi criada uma escola de calceteiros e, em anos ante- riores, portugueses forma- vam pessoas de outros países. No futuro, arriscamo-nos a que sejam profissionais de outros países a ensinar aos portugueses os tru- ques deste pavimento. Em Lisboa, a sua área deverá encolher durante a próxima década
Foi criada uma escola municipal, há 24 anos, para que a arte não morresse. Há apenas quatro anos, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) anunciava que queria duplicar o número de calceteiros. Em Dezembro desse mesmo ano, a autarquia colocou uma estátua em homenagem a estes profissionais. Actualmente prevê-se uma diminuição da calçada portuguesa em nome da comodidade.
Este é o sentido do novo Plano Director Municipal (PDM), para os próximos dez anos, que admite a substituição do característico pavimento português por um mais confortável para caminhar. "Não estão ainda determinados os locais onde iremos intervir, mas obviamente que a calçada portuguesa não será retirada dos bairros históricos." A garantia foi dada por Fernando Nunes da Silva, vereador da mobilidade da CML. Ao DN, o autarca salientou ainda que "aquilo que existe em algumas urbanizações recentes são várias pedras juntas, isto é, simulacros de calçada."
Porém, a falta de comodidade não é o único problema a estar na base desta substituição. Até porque, segundo Luísa Dornellas, chefe da Divisão de Formação da CML, "uma calçada [portuguesa] bem feita não é má para os saltos das senhoras, e pode até ser confortável".
Mas, quando se trata de locais inseguros para os lisboetas, a substituição do pavimento parece ser consensual. "Não sei em concreto o que prevê o PDM, mas duvido que haja uma substituição da calçada apenas por conforto. O que me parece razoável é que, em alguns pontos, a calçada seja trocada por pôr em causa a segurança dos cidadãos. Refiro-me por exemplo a locais com grande inclinação."
Ainda assim, Luísa Dornellas lembra que a calçada portuguesa tem, pelo menos, cinco vantagens sobre os outros pisos normalmente utilizados nas grandes cidades: "Em primeiro lugar tem robustez, durabilidade e é feita com materiais sustentáveis, ou seja, as pedras podem ser reutilizadas" afirmou a especialista, salientando que, "além de o tradicional pavimento português ser muito importante para a imagem da cidade, é de fácil lavagem e tem uma grande capacidade de absorção de águas pluviais."
Em nome do conforto ou da segurança, a verdade é que a calçada portuguesa parece estar "em vias de extinção". A substituição foi justificada com a maior comodidade de outros pisos, na esperança de que isso ajude à fixação de mais famílias e empresas em Lisboa.
(in Diário de Notícias).
2 comentários:
Parece-me uma medida sensata. Lisboa nao é um museu nem uma cidade só para turistas. Gosto muito da calçada portuguesa mas torna-se pouco prática. Os transeuntes já votaram com os pés (veja-se a percentagem de transeuntes que opta por andar nas ciclovias, nos passeios onde as há)
Fiquei surpreendido. Há um estudo que mostra isso? De qualquer forma. O optar andar sob outra superfície não me parece suficiente para não construir calçada. Quando começar a ver os olhos dos transeuntes a desviar-se da calçada então ai penso 3 vezes.
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