"Okupas" retirados de edifício municipal devoluto
Cláudia Sobral
Eram pouco mais de duas dezenas de pessoas - quase todos jovens "okupas"- do outro lado do n.º 94 da Rua de São Lázaro, Lisboa. Mesmo em frente, milimetricamente ordenados, cinco homens da PSP, capacetes e bastões à cinta. Mais à direita, o comissário da polícia municipal, Vítor Ladeira. O edifício que o Colectivo Matéria Bruta ocupara às 7h00 de anteontem tinha sido evacuado, na versão de Ladeira, por dez agentes da polícia municipal, apoiados pela PSP, por volta das 17h00.
"Sopa a tempo indeterminado, a greve não pára aqui!", dizia a faixa ali colocada e que também já lá não estava. "Ontem [quarta-feira] servimos sopa grátis e estiveram cá cerca de 150 pessoas", conta Marcos Pais, de 32 anos. Duas jovens interromperam a conversa: "O que é o principal para trazer? Vamos buscar coisas", dizia uma delas. Tinham-nas autorizado a entrar para retirar as coisas de dentro deste prédio devoluto da Câmara de Lisboa. Pouco depois voltaram a sair, com malas, com cestos cheios de verdes e frutas, com panelas. "Hoje íamos fazer um jantar social de baixo custo", avançou Marcos Pais. E já tinham projectos para exposições de pintura e uma oficina de teatro.
As versões sobre o que se passou até a polícia ter arrombado a porta são contraditórias. Diz o Colectivo Matéria Bruta: "A PSP apareceu pela primeira vez às 2h00 [madrugada de quinta-feira]." Gritou palavras ofensivas, garantem os jovens. "Voltou às 3h00 e às 6h00, esteve a tirar fotos." Do outro lado, diz o comissário Ladeira: "Recebemos uma queixa do inquilino do último andar às 14h00 [de ontem]." Garante que a primeira vez que estiveram no local foi depois disso. A vereadora da Habitação, Helena Roseta, disse ao PÚBLICO não ter conhecimento de nenhum inquilino para além da associação ILGA, na outra porta do mesmo edifício. O voluntário que ontem lá estava disse que sempre julgou que o prédio estivesse desocupado. O edifício está em mau estado e para lá da porta de acesso vêem-se móveis velhos como se fossem lixo. "Há três anos que enviámos propostas à câmara e nunca conseguimos nada. Cansámo-nos da burocracia e partimos para isto", desabafou Vítor Rebelo, também do Matéria Bruta. "Convidámos Helena Roseta para conhecer a casa e os projectos e fazer parte do jantar popular." Roseta confirmou um pedido de reunião.
A vereadora, avançou ao PÚBLICO a sua assessora, não pretendia apresentar qualquer queixa contra os ocupantes. Por volta das 19h30 Vítor Rebelo confirmou, numa conversa telefónica, que os nove já tinham sido libertados. "Agora vamos fazer o jantar nos Anjos, no espaço de outro colectivo.
(in Público).
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Boa? Então?
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