Festa dura até 9 de Janeiro
Lisboa: animação de Natal leva mais gente ao Rossio mas também provoca desagrado
Por Ana Henriques
Para uns, lembra a Feira Popular e é indigna de uma das principais praças da cidade; para outros, é uma boa maneira de combater a desertificação da Baixa. A festa dura até 9 de Janeiro.
Iniciativa da câmara é patrocinada pela Santa Casa da Misericórdia (Foto: Enric Vives-Rubio)
A pista de gelo para patinagem, o carrossel infantil e as barraquinhas que aterraram no Rossio a título de animação natalícia estão a atrair mais gente à Baixa lisboeta, mas também a suscitar críticas entre defensores do património. Motivo: os equipamentos de diversão ali instalados serão pouco consentâneos com a dignidade da praça.
O próprio presidente da Associação de Dinamização da Baixa Pombalina, entidade que se associou à iniciativa, confessa que preferia vê-la na vizinha Praça da Figueira, "um local mais apropriado a eventos lúdicos deste género". Mas "os seus promotores entenderam que o Rossio lhes dava mais visibilidade", prossegue Manuel Lopes. Da responsabilidade da Câmara de Lisboa e da Santa Casa da Misericórdia, que espalhou publicidade aos seus jogos sociais quer pelo ringue de patinagem quer pelos contentores e pela barraquinha que dão apoio à pista de gelo, a animação vai manter-se até 9 de Janeiro.
O blogue Lisboa SOS, um dos mais activos em relação à vida da cidade, mostrou-se ontem muito crítico da iniciativa: "Todos os anos, a Santa Casa e a Câmara de Lisboa atravancam o Rossio com adereços pindéricos. (...) A Feira Popular regressou a Lisboa. Ele há bolas gigantes de plástico, Pais Natal escanzelados, um pavilhão monstro para meter e tirar patins. Ele há de tudo no Rossio! Começou mal o Natal". A "quantidade infinda de grades de metal" espalhada pelo espaço também é motivo de reparo.
O historiador de arquitectura Sérgio Rosa de Carvalho mostra-se igualmente indignado: "Trata-se de uma cacofonia híbrida, de uma insensibilidade total para com a envolvente arquitectónica. A animação não está à altura do poder simbólico da praça". O especialista critica ainda a estrutura metálica quadrangular em forma de árvore estilizada que suporta as luzes de Natal em redor da estátua de D. Pedro IV: "É brutalista, não tem em conta a linguagem arquitectónica do monumento nem as suas proporções". O historiador entende que falta dignidade aos arranjos natalícios - uma opinião com que Manuel Lopes não concorda: "Têm a dignidade mínima exigível. E é gratificante ver a praça cheia de gente".
O vereador do PSD Vítor Gonçalves foi ontem à noite ao Rossio e também não gostou do que viu: "Uma das principais praças de Lisboa foi transformada numa mini-Feira Popular, o que é de muito mau gosto. Se fosse no Campo das Cebolas ou no Martim Moniz, era diferente. Aqui, não se justifica isto".
Os tempos de crise
Mas os comerciantes mostram-se satisfeitos. "É preciso trazer as pessoas para a Baixa, e ao fim-de-semana não costuma haver aqui movimento", observa um empregado do Café Nicola. "Falta de dignidade? Não se pode confundir dignidade com elitismo". O gerente da Confeitaria Nacional acha a iniciativa positiva. "Claro que podiam ter feito uma coisa melhor. Mas se não tivessem feito nada não havia aqui ninguém", resume uma funcionária administrativa que aqui veio passear. Duas estudantes polacas apontam a árvore estilizada de luzes azuis: "Não é lá muito bonita. Mas de outra forma seria mais cara, e Portugal vive uma crise económica"
A Câmara de Lisboa preferiu não comentar as críticas. A porta-voz da autarquia forneceu, no entanto, dados sobre a iniciativa: "Os custos dos equipamentos de diversão que estão no Rossio para dinamização do comércio da Baixa na quadra natalícia foram pagos, através de patrocínio, pela Misericórdia de Lisboa. Os custos relativos aos artistas e à animação de rua que todos os fins-de-semana até 9 de Janeiro estão nas ruas do Ouro, Prata e Augusta são de 25 mil euros e são suportados pela câmara". Mesmo com o patrocínio, 15 minutos de patinagem custam dois euros, o mesmo que uma volta no carrossel, que é uma réplica de um equipamento antigo.
(in Público).
Iniciativa da câmara é patrocinada pela Santa Casa da Misericórdia (Foto: Enric Vives-Rubio)
A pista de gelo para patinagem, o carrossel infantil e as barraquinhas que aterraram no Rossio a título de animação natalícia estão a atrair mais gente à Baixa lisboeta, mas também a suscitar críticas entre defensores do património. Motivo: os equipamentos de diversão ali instalados serão pouco consentâneos com a dignidade da praça.
O próprio presidente da Associação de Dinamização da Baixa Pombalina, entidade que se associou à iniciativa, confessa que preferia vê-la na vizinha Praça da Figueira, "um local mais apropriado a eventos lúdicos deste género". Mas "os seus promotores entenderam que o Rossio lhes dava mais visibilidade", prossegue Manuel Lopes. Da responsabilidade da Câmara de Lisboa e da Santa Casa da Misericórdia, que espalhou publicidade aos seus jogos sociais quer pelo ringue de patinagem quer pelos contentores e pela barraquinha que dão apoio à pista de gelo, a animação vai manter-se até 9 de Janeiro.
O blogue Lisboa SOS, um dos mais activos em relação à vida da cidade, mostrou-se ontem muito crítico da iniciativa: "Todos os anos, a Santa Casa e a Câmara de Lisboa atravancam o Rossio com adereços pindéricos. (...) A Feira Popular regressou a Lisboa. Ele há bolas gigantes de plástico, Pais Natal escanzelados, um pavilhão monstro para meter e tirar patins. Ele há de tudo no Rossio! Começou mal o Natal". A "quantidade infinda de grades de metal" espalhada pelo espaço também é motivo de reparo.
O historiador de arquitectura Sérgio Rosa de Carvalho mostra-se igualmente indignado: "Trata-se de uma cacofonia híbrida, de uma insensibilidade total para com a envolvente arquitectónica. A animação não está à altura do poder simbólico da praça". O especialista critica ainda a estrutura metálica quadrangular em forma de árvore estilizada que suporta as luzes de Natal em redor da estátua de D. Pedro IV: "É brutalista, não tem em conta a linguagem arquitectónica do monumento nem as suas proporções". O historiador entende que falta dignidade aos arranjos natalícios - uma opinião com que Manuel Lopes não concorda: "Têm a dignidade mínima exigível. E é gratificante ver a praça cheia de gente".
O vereador do PSD Vítor Gonçalves foi ontem à noite ao Rossio e também não gostou do que viu: "Uma das principais praças de Lisboa foi transformada numa mini-Feira Popular, o que é de muito mau gosto. Se fosse no Campo das Cebolas ou no Martim Moniz, era diferente. Aqui, não se justifica isto".
Os tempos de crise
Mas os comerciantes mostram-se satisfeitos. "É preciso trazer as pessoas para a Baixa, e ao fim-de-semana não costuma haver aqui movimento", observa um empregado do Café Nicola. "Falta de dignidade? Não se pode confundir dignidade com elitismo". O gerente da Confeitaria Nacional acha a iniciativa positiva. "Claro que podiam ter feito uma coisa melhor. Mas se não tivessem feito nada não havia aqui ninguém", resume uma funcionária administrativa que aqui veio passear. Duas estudantes polacas apontam a árvore estilizada de luzes azuis: "Não é lá muito bonita. Mas de outra forma seria mais cara, e Portugal vive uma crise económica"
A Câmara de Lisboa preferiu não comentar as críticas. A porta-voz da autarquia forneceu, no entanto, dados sobre a iniciativa: "Os custos dos equipamentos de diversão que estão no Rossio para dinamização do comércio da Baixa na quadra natalícia foram pagos, através de patrocínio, pela Misericórdia de Lisboa. Os custos relativos aos artistas e à animação de rua que todos os fins-de-semana até 9 de Janeiro estão nas ruas do Ouro, Prata e Augusta são de 25 mil euros e são suportados pela câmara". Mesmo com o patrocínio, 15 minutos de patinagem custam dois euros, o mesmo que uma volta no carrossel, que é uma réplica de um equipamento antigo.
(in Público).
2 comentários:
Infelizmente este executivo já nos habitou a este tipo de situações. Há cerca de 2 anos atrás, decidiram transformar o terreiro do Paço num campo de experimentações "para depois se poderem retirar algumas ideias". Alugueres de bicicletas, farturas, mesas de ping pong e matraquilhos foram alguns equipamentos a que a praça teve direito, como se de uma festa de aldeia se tratasse.
Custa a entender como é que um executivo composto por arquitectos e insignes defensores da causa pública (Sá fernandes, Roseta, Salgado) permitem este tipo de situações. Mas o que custa mais a entender no meio disto tudo é a complacência com que os lisboetas acabam por aceitar todo este tipo de tropelias. Lisboa precisa de quem a saiba servir e tratar com a dignidade que ela merece. É preciso "varrer" de uma vez por todas com esta gente incompetente e que mais nada faz do que servir-se da cidade para seu próprio benefício.
Há gente que baralha animação com tropelias. Que vivem em condominios e quer a Baixa deserta. Defende as grandes superficies e quer ver o comercio da Baixa morrer. Tem conceitos elitistas das coisas, que matam as cidades e afastam as pessoas.
Quer todo o espaço para si proprios.
Deus os ajude.
Enviar um comentário