quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ratazanas na Feira!






Ratazanas e lixo são os herdeiros da velha Feira Popular
Parque de diversões fechou há sete anos e continua sem sucessor

Cristiano Pereira
Sete anos após o encerramento, o recinto da Feira Popular de Lisboa, em Entrecampos, continua abandonado. Os antigos feirantes não escondem a mágoa e querem discutir com a Câmara um novo parque de diversões. "Excelente" era voltar ao local, dizem.


Inaugurada em 1961, a Feira Popular de Lisboa funcionou até ao dia 5 de Outubro de 2003, altura em que o executivo municipal presidido por Santana Lopes encerrou o recinto e deu início a um processo que se arrasta e parece não ter fim à vista.

As diversões desmontaram-se e muitas delas foram para a sucata. Centenas de pessoas – ninguém sabe exactamente quantas – perderam o emprego. A cidade ficou sem um dos seus principais recintos de lazer mas, em contrapartida, ganhou outra coisa: um terreno sujo a céu aberto com uma colónia considerável de ratazanas e vestígios de prática de prostituição e consumo de drogas pesadas.

“Foi tudo derivado da loucura de um indivíduo”, comenta, ao JN, António Luís, um dos empresários que mais se dedicou à Feira Popular, tendo sido proprietário de divertimentos como a montanha-russa, o comboio fantasma, a grande roda, o twister ou, entre outros, as pistas de carros. Hoje, António Luís, 61 anos, confessa a mágoa que se lhe estremece no peito de cada vez que pensa no terreno ao abandono. “Você acredita que eu até me desvio só para nem passar lá perto?”, interroga, imaginando que o ambiente daquele terreno em Entrecampos deve ser agora “medonho”.

Tal cenário foi confirmado ao JN por moradores da zona. Recentemente, o presidente da Câmara, António Costa, disse à agência Lusa ter “alguma pena” de ainda não ter recebido qualquer proposta ou projecto para uma nova feira popular na cidade, ali ou noutro local. A localização “dependerá do tamanho”, apontou o autarca.

O presidente da Associação Portuguesa de Empresa de Diversões (APED), Luís Fernandes, disse ao JN que, recentemente, contactou a Câmara Municipal de Lisboa para solicitar “uma reunião urgente” com o intuito “de perceber até que ponto o executivo está disposto a fazer uma cedência de espaço”. “Estamos ansiosos que isso aconteça”, sublinha o responsável, revelando que será fácil reunir um conjunto de empresários “com espírito empreendedor e dispostos a avançar”. Na sua óptica, voltar ao recinto de Entrecampos “seria excelente”. “Seria bom para a cidade, para o país e para o turismo”, rematou.

“A feira tinha o condão de dar vida aquela zona de Lisboa”, destaca o responsável, para quem “aquele pequeno mundo acabou graças aos políticos deste país”. “Hoje vejo toda a gente muito triste quando se fecha uma fábrica com 30 pessoas, mas ali trabalhavam quase mil. Aquilo era uma fabrica, só não tinha era tecto”, acrescenta o empresário, antes de assegurar que “90% das pessoas que lá trabalhavam estão hoje paradas”.

“Até custa olhar, é muito triste”, confessa, por seu turno, José Antunes, antigo trabalhador da feira e que hoje vai sobrevivendo com pistas de carrinhos de choque em romarias pelo país fora. “Até os países menos desenvolvidos já têm feiras populares. Só no nosso país é que não há. Só há diversões efémeras em festas, do monta e desmonta”, desabafa. Além “dos empregos que proporcionava”, recorda “a alegria que dava às pessoas, sobretudo às crianças”. “Nem sei como é que deixaram acabar aquilo”, remata, confessando-se “ainda hoje incrédulo”.

(Jornal de Notícias).

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