sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Memória usurpada.





Promovida pelo partido Portugal pro Vida
Filhos de Sophia indignados com referência à poetisa em tempo de antena contra o aborto
Por Natália Faria

Os filhos da poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen estão indignados com a referência ao nome da mãe na campanha contra o aborto promovida pelo partido Portugal pro Vida - um movimento que se bateu contra a legalização do aborto, do casamento gay e contra a nova lei do divórcio e cujo líder, Luís Botelho, se assume agora como candidato à Presidência da República, em nome "dos valores da vida e da dignidade da pessoa humana".
Sophia de Mello Breyner (Foto: DR/arquivo)

No site do partido mas também no tempo de antena que irá para o ar hoje, na RTP1, o movimento alude a uma frase que a poetisa terá proferido após um jantar entre amigos, em 1998, ou seja por altura do primeiro referendo sobre o aborto: "Uma vez mostraram-me fotografias de fetos abortados. O que mais me impressionou foi o seu ar de humilhação (ou de humilhados). Espalhem imagens dessas com a frase: "Aqueles que ninguém quis amar.""

Maria Andresen, filha da poetisa que morreu em 2004, mostra-se indignada. "Uma coisa era a minha mãe ser pessoalmente contra o aborto e outra estar contra a sua legalização. Conversámos imensas vezes sobre isso e sei que a minha mãe sempre recusou militar em qualquer movimento anti-aborto, precisamente por respeitar a liberdade de consciência de cada um", declarou Andresen.

Num e-mail enviado ao líder do Portugal pro Vida, Andresen pede que o movimento se abstenha de usar o nome da poetisa. "Trata-se de um uso abusivo numa campanha que a minha mãe não subscreveria", enfatizou, admitindo recorrer à via judicial. Luís Botelho, por seu turno, recorda que a frase atribuída à poetisa já foi usada na campanha para o referendo que se realizou em Fevereiro de 2007 e que vem referida em vários sites. "É uma frase que caiu no domínio público. Referimo-la como referimos as posições de Marthin Luther King ou da Madre Teresa de Calcutá", reagiu, alegando ser "muito difícil" apagar a referência a Sophia, porque "o tempo de antena já foi entregue à televisão".

(in Público).

1 comentário:

Bic Laranja disse...

E citar os versos do O'Neill para apregoar cherne?
Cumpts.