segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O que estão à espera?





Turismo
"Lisboa é o paraíso vista do Ginjal, faz lembrar um quadro"
por ROBERTO DORES, Setúbal

Quem atravessa o Tejo é unânime: a capital vista da outra margem é surpreendente.

Há quem lhe chame "cais da desgraça" pela degradação e ruínas que acumula. Há quem prefira o epíteto de "cais da boa esperança", olhando para os projectos que estão a caminho, anunciando o rejuvenescimento do Ginjal. Uma coisa é certa: Há em Cacilhas (Almada) um miradouro privilegiado sobre Lisboa, à beira do Tejo, que, mesmo sem estar na "onda" dos roteiros turísticos, continua a ser descoberto. Não falta quem regresse todos os anos. Nem que seja apenas para contemplar a silhueta da capital

Que o digam Van der Elst e Irene Hens, um casal belga que está a passar uma quinzena de férias em Portugal. Após os primeiros três dias de descanso em Lisboa decidiu cruzar o rio, a bordo do ferry e suportando os escaldantes 35 graus, para atracar em Cacilhas. De roupa desportiva e garrafa de água, preparam-se para voltar a percorrer a muralha do Ginjal e recordar as "vistas" de outros anos.

"É um cenário lindíssimo. Lisboa é o paraíso vista do Ginjal. A começar pela ponte, passando por toda a zona ribeirinha. As igrejas. Sabemos que há por aqui praias muita boas, mas preferimos gastar aqui umas horas. Faz lembrar um quadro", assumiu Van der Elst. O casal desconhece a carga histórica do local e os tempos áureos vividos nas décadas de 50 e 60, época áurea da pesca portuguesa, onde as antigas fábricas de salga de peixe e de gelo davam trabalho a milhares de pessoas.

Mais uma razão para que Van der Elst não entenda o abandono que rodeia o cais desde a década de 80, com edifícios vulneráveis ao vandalismo, onde grassa a destruição e a ameaça de derrocada, apesar de ali viverem 15 famílias carenciadas. "Isto acaba por intimidar as pessoas. Quem não conhece, não vem cá, porque tem medo logo à partida que haja violência. O cais é inseguro por ser muito isolado", alerta este turista.

Uma opinião partilhada por Sílvia Gomes. A jovem arquitecta de Cascais, que visitou pela primeira vez o Ginjal com a família, tinha acabado o almoço na esplanada do conhecido Atira-te ao Rio, confessando a sua "admiração" sobre a paisagem que tinha pela frente. "Não é vulgar, porque transmite uma tranquilidade incrível. Duvido que tenhamos uma beleza destas na Europa tão mal aproveitada, ao ponto de gerar algum receio de criminalidade entre os visitantes", desabafou ao DN, garantindo ter atravessado a Ponte 25 de Abril movida apenas pela "curiosidade das vistas. Até ousei subir no elevador panorâmico, porque isto é deslumbrante".

Eis o argumento que leva os turistas a percorrerem o cais do Ginjal, a maioria oriunda de Lisboa, embora Susana Santos, uma "repetente" da capital, não entenda "como é que ainda ninguém teve a ideia de rentabilizar isto. Na vazante até existe uma pequena praia (junto aos dois restaurantes), mas que está sempre suja e com garrafas partidas. É incrível", refere, enquanto sobe a escadaria que conduz à mesma escarpa que no último Inverno provocou mais estragos, na sequência de vários
aluimentos que fizeram resvalar enormes pedras para a muralha, ameaçando vidas.

É por entre outra fotografia lá do alto que lança um olhar sobre Lisboa para estabelecer uma arrojada comparação: "Até parece que de um lado é Cuba e que do outro está Miami."

(in Diário de Notícias).
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NOTA LISBOA SOS: qual é o país do mundo que tem um potencial destes? Isto poderia ser uma baía como a de Sidney ou São Francisco. A encosta carregada de casas de luxo, condomínios, mas também habitação para jovens e classe média. A zona nobre desta região não seria Lisboa, mas o Ginjal, a encosta de Almada - vista para a capital, areal da Caparica à porta. Mas nós preferimos ajavardar tudo, não é? É.

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