segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Não afoguem a memória.





Associação sugere museu e visitas guiadas para recuperar farol do Bugio
A criação de um museu e a organização de visitas guiadas no Verão podem ser a solução para a recuperação do “degradado” farol do Bugio, espaço com mais de 400 anos de história, defende a Associação Espaço e Memória, Oeiras.
As últimas obras de recuperação aconteceram há dez anos (Foto: PÚBLICO (arquivo))

Numa visita guiada ao Bugio, organizada pela associação mediante autorização da Direcção-geral de Faróis (DGF), é possível ver brechas na estrutura, antigos instrumentos ferrugentos e esquecidos, e entulho acumulado naquilo que eram, antigamente, as casas dos faroleiros e na capela do Farol.

“O que justifica a existência do Bugio não está lá como demonstrativo a quem o visite, porque enquanto espaço de fortificação é preciso puxar muito pela imaginação para compreender o que se lá passava, e enquanto farol já não tem faroleiros, nem está lá o que fazia parte do seu quotidiano: as casas, os geradores, as comunicações”, descreveu o presidente da Associação Espaço e Memória, Joaquim Boiça.

É neste sentido que esta associação organiza as viagens ao Bugio: para que “o que está longe da vista não esteja longe do coração”. “É uma tentativa de sensibilização: é necessário intervir para que o estado de degradação não se acentue. Mas também é necessário intervir para dar àquele espaço as condições minimamente dignas para que o próprio seja ilustrador da memória do que foi”, disse Joaquim Boiça.

Filho, neto e bisneto de faroleiros, Joaquim Boiça acredita que o Bugio “poderia ser, com a boa vontade de algumas instituições [o espaço é gerido pela DGF e pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico - IGESPAR], um dos espaços mais emblemáticos para visitar na cidade de Lisboa”.

A associação acredita que “nos meses de Primavera e Verão seria possível organizar visitas - com o alto patrocínio da DGF - de modo a dinamizar aquele espaço, dar a conhecer e preservar a parte das memórias que ainda lá estão, sobretudo na zona da capela”.

Além disso, Joaquim Boiça defende que seria “interessante” criar “uma museografia diferente para aquele espaço, pensada para acolher exposições sazonais”.

No entanto, o historiador lembra que, há dez anos, quando aquele farol foi alvo de obras de recuperação pela última vez, “o processo foi complicado”. “Foi necessário sentar à mesa cerca de 20 instituições para recuperar o farol, que ameaçava ruir. Isto diz muito da nossa burocracia. E depois temos a questão financeira: há por aí tanto património por recuperar”, lamentou o presidente da Associação Espaço e Memória.

Joaquim Boiça afirma que, no entanto, tem sido “abordado por muitos visitantes do Bugio que depois de confrontados com a realidade do farol sugerem a criação de uma Liga de Amigos do Bugio, para o valorizar e divulgar”.

“A recuperação de património envolve processos complicados, mas às vezes nasce assim, da iniciativa das pessoas”, disse.

Pensado e construído para defender a entrada de Lisboa, o Forte do Bugio ficou concluído em 1657, depois de quase 70 anos de obras de construção. Desde cedo começa a servir também de farol, albergando faroleiros até ao final da década de 1980.

(in Público).

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