sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Hospital de Arroios.

Hospital de Arroios é embaraço sem solução

Telma Roque
Há mais de 15 anos ao abandono, o antigo Hospital de Arroios, em Lisboa, é um incómodo cada vez maior para os moradores da zona. É todo um quarteirão situado junto à Praça do Chile que mais não serve senão para grafitar e consumir droga. "É triste", dizem.

A imponente carcaça embaraça a zona de Arroios e a cidade. Não têm faltado projectos imobiliários, mas encalham muito antes de saírem do papel. O último, que previa a construção de um condomínio de luxo, esbarrou no Plano Director Municipal de Lisboa, que não permitia a construção dos dois últimos pisos pretendidos pela empresa promotora, nem a demolição quase integral daquele complexo.

Sem um rumo traçado, é o tempo que comanda, imprimindo as suas marcas no que resta do Hospital de Arroios, outrora Hospital Rainha D. Amélia. As paredes caem aos pedaços, os grafitos multiplicam-se e a vegetação vai crescendo e engolindo o betão.

Por enquanto, o único projecto existente passa pelo aproveitamento do espaço exterior para a criação de uma bolsa de estacionamento provisória com mais de uma centena de lugares. Uma mão cheia de nada para um complexo que integra um convento e uma igreja setecentista de elevado valor arquitectónico, mas cujos azulejos, por exemplo, foram já há muito pilhados.

?É triste este cenário, além de causar muita insegurança, devido ao entra e sai de toxicodependentes e sem-abrigo. Há pouco mais de um mês, a polícia tirou de lá um homem morto. Uma miséria?, sublinha Joaquim Ferreira, que mora em Arroios há 40 anos. ?Bem que podiam fazer um jardim?, sugere. Como ele, também Maria de Lurdes, outra moradora, ainda se lembra do velho Hospital em funcionamento. ?E tanta falta que faz?, desabafa a mulher.
“Houve uma altura em que havia seguranças. Depois, deixou de ser vigiado e foi o descalabro. Os portões estão fechados mas eu vejo gente a saltar lá para dentro todos os dias”, assegura, por sua vez, Abílio Lourenço, que trabalha na Praça do Chile.

Ainda esta semana, o partido ?Os Verdes? entregou um requerimento na Assembleia Municipal a pedir esclarecimentos sobre o parque de estacionamento temporário e o destino a dar ao património do hospital, nomeadamente a igreja, pátio e convento.

O antigo Hospital de Arroios nasceu em 1892 a partir do Convento de Nossa Senhora da Nazaré, um colégio de jesuítas fundado em 1705. Acolhia doentes com peste, cólera, varíola, lepra e tuberculose. Em 1898, e já como Hospital Rainha D. Amélia, passou a unidade especializada no tratamento e prevenção da tuberculose. Ganhou o nome de Hospital de Arroios em 1911.

(in Jornal de Notícias).

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