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Artistas de circo "estacionados" em Carnide não concordam com critérios da câmara
Por Marisa Soares
Autarquia inicia a 2 de Agosto a transferência coerciva dos residentes do parque. No local vai nascer um centro de saúde.
António Ferreira tem medo de sair para trabalhar e ficar sem a roulotte (Rui Gaudêncio)
À janela da casa improvisada no reboque do camião, o cão Némor e o gato malhado espreitam a dona. Tina Vilhena abre o dossier em cima da mesa de plástico, instalada à sombra da árvore. "Moro aqui há mais de 20 anos e sou artista de circo. Tenho documentos que provam tudo. Por que é que não tenho direito a uma casa?" A Câmara de Lisboa quer dar-lhe 1560 euros para sair do recinto da Quinta de São Lourenço, em Carnide, até 2 de Agosto. Ela, como outros artistas, garante que não sai.Desde que iniciou o realojamento das 67 famílias aqui instaladas, paredes meias com a Casa do Artista, a câmara entregou 16 casas e está prestes a entregar mais seis. Mas Tina e Adérito Mariani não foram contemplados.As casas foram atribuídas aos agregados que apresentaram provas de residência no parque desde, pelo menos, 2001. "Tenho um papel que prova isso, entreguei-o à câmara, mas parece que desapareceu", reclama Tina. Em Outubro de 2009, o casal recorreu da nega ao presidente da câmara. Ainda aguarda resposta.Dez famílias rejeitaram os fogos atribuídos. O mau ambiente do bairro, sugerido pela câmara, levou cinco famílias a recusar a oferta. Em alternativa ao realojamento, a autarquia indemnizou 13 famílias com montantes equivalentes a tipologias T1 a T4. No total, pagou 486 mil euros. Por não ser considerado residente permanente desde 2001, o casal Mariani também não teve direito ao dinheiro.A revolta do casal é partilhada por outros artistas que ali vivem desde que o parque foi cedido, em 1980, ao SIARTE, uma associação de artistas de circo. Todos criticam a prioridade dada a pessoas que chegaram depois de 2002 (ano em que a autarquia deixou de fiscalizar o local) e nem pertencem ao circo. Temem, também, que a separação da "família" circense seja a morte de alguns. É o caso do artista húngaro Bela Schlingloff, doente cardíaco, que vive sozinho. "Aqui, podemos olhar por ele, mas se morar sozinho vai morrer", clama Tina. Bela foi ontem buscar a chave da casa na Alta de Lisboa, mas disseram-lhe que teria de pagar uma renda mensal de 20 euros e recuou. "Ganho 180 euros por mês, gasto 60 em medicamentos, fico sem dinheiro para nada", afirma."Foi tudo mal feito desde o início", reclama Mariani. O presidente da Junta de Freguesia de Carnide, Paulo Quaresma, concorda. Em 2001, os artistas foram incentivados a aceitar o realojamento na Ameixoeira. De cerca de 70, apenas 28 agregados aceitaram. Em Dezembro desse ano, as autárquicas trouxeram o esquecimento. O novo executivo, liderado por Santana Lopes (PSD), "nunca mais se preocupou com os artistas de circo", diz Quaresma. Agora, a solução é inadiável. No local do parque deverá nascer um centro de saúde para os 22 mil habitantes de Carnide. As obras devem ter início até ao final deste ano.
Artistas de circo "estacionados" em Carnide não concordam com critérios da câmara
Por Marisa Soares
Autarquia inicia a 2 de Agosto a transferência coerciva dos residentes do parque. No local vai nascer um centro de saúde.
António Ferreira tem medo de sair para trabalhar e ficar sem a roulotte (Rui Gaudêncio)
À janela da casa improvisada no reboque do camião, o cão Némor e o gato malhado espreitam a dona. Tina Vilhena abre o dossier em cima da mesa de plástico, instalada à sombra da árvore. "Moro aqui há mais de 20 anos e sou artista de circo. Tenho documentos que provam tudo. Por que é que não tenho direito a uma casa?" A Câmara de Lisboa quer dar-lhe 1560 euros para sair do recinto da Quinta de São Lourenço, em Carnide, até 2 de Agosto. Ela, como outros artistas, garante que não sai.Desde que iniciou o realojamento das 67 famílias aqui instaladas, paredes meias com a Casa do Artista, a câmara entregou 16 casas e está prestes a entregar mais seis. Mas Tina e Adérito Mariani não foram contemplados.As casas foram atribuídas aos agregados que apresentaram provas de residência no parque desde, pelo menos, 2001. "Tenho um papel que prova isso, entreguei-o à câmara, mas parece que desapareceu", reclama Tina. Em Outubro de 2009, o casal recorreu da nega ao presidente da câmara. Ainda aguarda resposta.Dez famílias rejeitaram os fogos atribuídos. O mau ambiente do bairro, sugerido pela câmara, levou cinco famílias a recusar a oferta. Em alternativa ao realojamento, a autarquia indemnizou 13 famílias com montantes equivalentes a tipologias T1 a T4. No total, pagou 486 mil euros. Por não ser considerado residente permanente desde 2001, o casal Mariani também não teve direito ao dinheiro.A revolta do casal é partilhada por outros artistas que ali vivem desde que o parque foi cedido, em 1980, ao SIARTE, uma associação de artistas de circo. Todos criticam a prioridade dada a pessoas que chegaram depois de 2002 (ano em que a autarquia deixou de fiscalizar o local) e nem pertencem ao circo. Temem, também, que a separação da "família" circense seja a morte de alguns. É o caso do artista húngaro Bela Schlingloff, doente cardíaco, que vive sozinho. "Aqui, podemos olhar por ele, mas se morar sozinho vai morrer", clama Tina. Bela foi ontem buscar a chave da casa na Alta de Lisboa, mas disseram-lhe que teria de pagar uma renda mensal de 20 euros e recuou. "Ganho 180 euros por mês, gasto 60 em medicamentos, fico sem dinheiro para nada", afirma."Foi tudo mal feito desde o início", reclama Mariani. O presidente da Junta de Freguesia de Carnide, Paulo Quaresma, concorda. Em 2001, os artistas foram incentivados a aceitar o realojamento na Ameixoeira. De cerca de 70, apenas 28 agregados aceitaram. Em Dezembro desse ano, as autárquicas trouxeram o esquecimento. O novo executivo, liderado por Santana Lopes (PSD), "nunca mais se preocupou com os artistas de circo", diz Quaresma. Agora, a solução é inadiável. No local do parque deverá nascer um centro de saúde para os 22 mil habitantes de Carnide. As obras devem ter início até ao final deste ano.
(in Público).
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