Contra a peixeirada no Bairro Alto, um pedido sentido: deixem as nossas cabeças descansar
Por Carlos Filipe
Por Carlos Filipe
Falta de estacionamento, segurança e higiene foram as principais críticas atiradas pelos munícipes em mais uma reunião descentralizada da Câmara de LisboaMaria Duarte Silva, de 65 anos, moradora na Rua da Atalaia, no epicentro borbulhante dos fins-de-semana no Bairro Alto, é apenas um dos munícipes que todos os dias se queixam às autoridades contra a falta de respeito de quem ali se diverte e permanentemente perturba a vida e o sono de quem ali reside. Ali, ou na Bica, no Cais do Sodré, ou em Santos, apenas alguns dos bairros históricos onde muitos se desforram do dia-a-dia até às tantas - oficialmente até às 2h, mas informalmente pela madrugada fora. A Câmara de Lisboa ouviu-os novamente, anteontem à noite. Foram apenas 20, poucos de dez freguesias, de um universo superior a 67.500 munícipes. Mesmo assim, a sala de extracções da Santa Casa da Misericórdia foi pequena para acolher tão interessada assistência. Mas foi uma reunião pacífica, sem peixeirada, e que acabou com os vereadores a degustar línguas de bacalhau cozidas, compradas na Rua do Arsenal, gentileza de uma cidadã que também protestou, por ter o sono perturbado diariamente, não tanto pelo tecno e mais pelo prosaico ruído dos transportes públicos que entopem a artéria desde que o Cais do Sodré entrou em modo de circulação a atirar para o caótico.Foi altura de os munícipes do Bairro Alto - uma vez mais - dizerem que estão fartos e que querem acção. Esses, e os das freguesias vizinhas, de Santa Catarina. Não só pediram respeito, como também mais policiamento, limpeza nas ruas - sempre sujas ao romper do dia - e estacionamento.Fecha esquadra, abre esquadraResposta do executivo camarário? Grosso modo, as mesmas de sempre: "os senhores têm razão"; "vamos averiguar"; "o policiamento não é connosco"; "não há estacionamento para todos, mas vamos ter um novo plano"; "os graffiti vão ser erradicados"; "os jardins vão ser arranjados". Tudo isto sobre um (acertado) denominador comum: falta civismo. E, também, com uma novidade: as esquadras da PSP das Mercês e da Rua da Boavista vão fechar, mas vai abrir outra na esquina da Rua da Atalaia com a Travessa da Água da Flor. "Bem no centro do bairro", sublinhou o vereador Manuel Salgado, que dirigiu a sessão, na ausência de António Costa.Civismo. Ora disso se queixou Maria Duarte Silva, que lhe acrescentou, num tom suplicante: "Mas precisamos de descanso para as nossas cabeças. Vivemos emparedados por bares que passam música ao vivo. É infernal..."Manuel Salgado, de novo: "Vamos averiguar o ruído do estabelecimento. Mas noto que no último levantamento verificámos que existem 514 estabelecimentos [no Bairro Alto]. Destes, 107 são restaurantes, um é discoteca e 90 são bares. É muito difícil regular esta situação. Os interesses dos residentes colidem com os interesses de quem explora estes estabelecimentos. Os serviços têm feito o controlo do ruído e das licenças."A senhora, porém, contra-atacou: "Mas nós precisamos de descansar. Mesmo depois das duas, quando fecham os bares, aquela gentinha fica toda na rua e continua a não haver descanso. E ficam ali os copos e as garrafas. É horrível. E quando chega a altura de parar a música é quando eles fazem muita força, muita força. E a minha cristaleira abana muito. Acho que não têm licença..."Novamente Manuel Salgado: "A senhora tem toda a razão, vou alertar os serviços e verificar se têm licença, se não tiver licença o estabelecimento será encerrado."Depois, Cláudia Faria, que disse morar na Baixa/Chiado há 12 anos, "por opção". Sente-se desiludida, queixando-se da limpeza, da insegurança e da falta de estacionamento. "É altura de a câmara definir a sua política: se quer a classe média de volta ao centro, ou se quer os visitantes de fim-de-semana que nos tiram os lugares."
(in Público)
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