sábado, 1 de maio de 2010

No papel, funcionam.



Escadas rolantes paradas no metro geram acessos de fúria e falta de ar
por DANIEL LAM

Resignação é a atitude mais pacífica que a maioria das pessoas toma quando se depara com as escadas rolantes do Metropolitano de Lisboa (ML) paradas. Sobem-nas a passo e quase nem reclamam. Mas há excepções. Na estação Baixa/Chiado, ontem à tarde, uma chinesa pequenina, com um pesado saco às costas, teve um acesso de fúria ao ver as escadas paradas e desatou a barafustar e a proferir impropérios.

Praguejava, mas ninguém se sentiu ofendido, porque os insultos e palavrões foram pronunciados na sua língua oriental, pouco perceptível para os restantes utentes. Com expressão de cansaço e grande esforço, lá subiu o lance de escadas e saiu para a Rua do Ouro.

Igualmente afogueada e queixando-se de falta de ar, Madalena Pereira, de 68 anos, também teve de subir aquele lance de escadas. "Isto é um sacrifício. Subir isto a pé é um castigo. Tenho de ir já ali à pastelaria para me sentar um bocadinho e beber um copo de água", disse ao DN, falando com voz trémula e pesarosa.

Menos afectadas pelo facto de as escadas estarem inoperacionais, duas jovens contaram que, "por vezes, isto está avariado e lá temos de subir as escadas. Mas também não é grave. Até dá para fazer exercício e ajuda a manter a linha". Pelo que se viu, elas mantinham mesmo aquela linha...

Na ligação da estação subterrânea à Rua do Ouro, duas escadas rolantes estavam inactivas às 16.40 de ontem. Às 17.10, já estavam paradas três escadas. No mesmo período, funcionavam todas as oito escadas dos quatro lances de acesso ao Largo do Chiado.

Na estação, uma funcionária do ML admitiu que, "muitas vezes, as escadas não andam. Umas vezes porque avariam, outras vezes porque alguns engraçadinhos puxam a alavanca de emergência para as parar. Isso acontece muito nas noites de sexta-feira e sábado".

Um segurança considera que "isso é uma grande falta de civismo e prejudica muita gente, principalmente quem tem dificuldades para andar ou que transporta coisas pesadas".

Adiantou que "depois ainda leva algum tempo para voltar a ligar o sistema, pois o problema não é detectado de imediato. É preciso um funcionário ir até lá e pôr aquilo a funcionar com uma chave".

Outro funcionário do ML explica que "por vezes as escadas avariam, porque estão sempre a funcionar, desde as 06.30 até à 01.00, todos os dias. Esta estação é muito profunda e tem muitos lances de escadas, mas não são sempre os mesmos que avariam. Umas vezes são uns e depois outros. As escadas são usadas por milhares e milhares de pessoas. Chega a um ponto que não aguentam e precisam de reparação".

O DN solicitou à administração do ML alguns esclarecimentos sobre a situação, que até já mereceu a intervenção do presidente da Câmara de Lisboa, mas não obteve qualquer resposta até à hora de fecho desta edição.

(in Diário de Notícias).

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