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Bicicletas voaram nas ruelas de Alfama
CRISTIANO PEREIRA
foto RODRIGO CABRITA/GLOBAL IMAGENS
A "Lisboa Downtown" é uma prova anual na qual os ciclistas descem escadarias de Alfama. Ontem, nem a chuva afastou o público que se maravilhou com as acrobacias e quedas das bicicletas. E apesar da concorrência internacional, a vitória foi para um português.
É proeza para destemidos: descer de bicicleta cerca de mil metros desde o Castelo de São Jorge até ao Largo do Terreiro do Trigo num serpentear de ruelas, saltos, linhas de eléctrico, curvas e largas centenas de degraus das escadarias de Alfama. Se em condições normais, a ideia já parece perigosa, imagine-se tudo isto debaixo de chuva e vento, ou seja, com o piso - paralelos de granito ou calçada portuguesa - extremamente encharcado e escorregadio. Ora, as quedas abundaram. E a multidão rejubilava de cada vez que cada um se espalhava no chão.
"É um bocado complicado", opinou José António, de 18 anos, um nativo de Alfama todo "pintas", look sofisticado com brinco e penteado aerodinâmico, figura conhecida de toda a gente que habita nas imediações da Igreja de São Miguel, em pleno coração do bairro. Ele, o Zé António, conhece a prova há vários anos e até tem contribuído para que esta se realize: na sexta-feira acordou cedo e esteve, com mais nove amigos, a organizar os fardos de palha que desenhavam o traçado da descida radical e que eventualmente amortecessem as múltiplas quedas dos ousados ciclistas. "Montamos a pista das nove da manhã até às 10 da noite", disse-nos, sublinhando que não foi labuta fácil porque "cada fardo de palha pesa uns 17 quilos" e ele e os restantes amigos carregaram cerca de quatro centenas. "Mas isto é bacano", considerou, satisfeito por ver o seu bairro invadido "por pessoas novas".
O trajecto da descida era de cerca de um quilómetro, distancia que os ciclistas acrobatas cumpriam em pouco mais de minuto e meio. As bicicletas eram todas artilhadas com amortecedores topo de gama. E quem as conduzia obviamente não dispensava um sólido capacete. À passagem de cada bicicleta, a multidão aplaudia e gritava palavras de incentivo como "Dá-lhe gás!" ou "Vai lá!". Não faltavam megafones e buzinas.
Espanto australiano
À janela de uma casa a meio das escadas de São Miguel, em pleno epicentro da prova, um casal parecia particularmente espantado com todo o espalhafato da prova. "Viemos de Gold Coast, na Austrália e chegamos há duas horas aqui a este apartamento que alugamos", disse-nos Peter, de 58 anos, ao lado da sua mulher Janelle. "Quando vimos os fardos de palha percebemos que ia acontecer uma corrida qualquer", continuou, confessando que nem teve tempo nem espaço para conhecer o centro histórico.
Depois de muitos saltos, piruetas, derrapagens e quedas, o primeiro lugar foi para o português Paulo Domingues, de Sesimbra.
foto RODRIGO CABRITA/GLOBAL IMAGENS
A "Lisboa Downtown" é uma prova anual na qual os ciclistas descem escadarias de Alfama. Ontem, nem a chuva afastou o público que se maravilhou com as acrobacias e quedas das bicicletas. E apesar da concorrência internacional, a vitória foi para um português.
É proeza para destemidos: descer de bicicleta cerca de mil metros desde o Castelo de São Jorge até ao Largo do Terreiro do Trigo num serpentear de ruelas, saltos, linhas de eléctrico, curvas e largas centenas de degraus das escadarias de Alfama. Se em condições normais, a ideia já parece perigosa, imagine-se tudo isto debaixo de chuva e vento, ou seja, com o piso - paralelos de granito ou calçada portuguesa - extremamente encharcado e escorregadio. Ora, as quedas abundaram. E a multidão rejubilava de cada vez que cada um se espalhava no chão.
"É um bocado complicado", opinou José António, de 18 anos, um nativo de Alfama todo "pintas", look sofisticado com brinco e penteado aerodinâmico, figura conhecida de toda a gente que habita nas imediações da Igreja de São Miguel, em pleno coração do bairro. Ele, o Zé António, conhece a prova há vários anos e até tem contribuído para que esta se realize: na sexta-feira acordou cedo e esteve, com mais nove amigos, a organizar os fardos de palha que desenhavam o traçado da descida radical e que eventualmente amortecessem as múltiplas quedas dos ousados ciclistas. "Montamos a pista das nove da manhã até às 10 da noite", disse-nos, sublinhando que não foi labuta fácil porque "cada fardo de palha pesa uns 17 quilos" e ele e os restantes amigos carregaram cerca de quatro centenas. "Mas isto é bacano", considerou, satisfeito por ver o seu bairro invadido "por pessoas novas".
O trajecto da descida era de cerca de um quilómetro, distancia que os ciclistas acrobatas cumpriam em pouco mais de minuto e meio. As bicicletas eram todas artilhadas com amortecedores topo de gama. E quem as conduzia obviamente não dispensava um sólido capacete. À passagem de cada bicicleta, a multidão aplaudia e gritava palavras de incentivo como "Dá-lhe gás!" ou "Vai lá!". Não faltavam megafones e buzinas.
Espanto australiano
À janela de uma casa a meio das escadas de São Miguel, em pleno epicentro da prova, um casal parecia particularmente espantado com todo o espalhafato da prova. "Viemos de Gold Coast, na Austrália e chegamos há duas horas aqui a este apartamento que alugamos", disse-nos Peter, de 58 anos, ao lado da sua mulher Janelle. "Quando vimos os fardos de palha percebemos que ia acontecer uma corrida qualquer", continuou, confessando que nem teve tempo nem espaço para conhecer o centro histórico.
Depois de muitos saltos, piruetas, derrapagens e quedas, o primeiro lugar foi para o português Paulo Domingues, de Sesimbra.
(in Jornal de Notícias).
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