segunda-feira, 22 de março de 2010

O que mudaria em Lisboa?

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Tentaria mudar a cabeça de quem quer mudar por mudar...
Gostava de ver o Tejo despoluído, sem mais pontes a ligar as suas margens e a estragar a relação que entre elas se estabelece quando o rio se abre neste mar mediterrâneo que aí temos e faz de Lisboa uma «cidade dos sete mares»...
Sou avesso a intervenções que desfigurem obra patrimonial de grandes construtores do passado - como é o caso da Praça do Comércio, obra de um dos maiores arquitectos de Lisboa, como foi Carlos Mardel. Imagine-se que passava pela cabeça de um pintor contemporâneo propor uma «requalificação» de As Tentações de Santo Antão ou pela de um cineasta modernaço retocar ou substituir dois planos num filme do Hitchcock. Nem mesmo um arquitecto estaria de acordo...
Porquê então amputar, remodelar, alterar o que tão rigorosamente foi planeado e construído pelo autor de uma das mais belas praças do mundo? Mexer na Praça do Comércio é não entender a lógica da sua colocação naquele exacto ponto da Baixa Pombalina, onde de Norte se sai pelo rio para Sul ou daqui se chega a Lisboa e, pelos flancos, se liga o Oriente ao Ocidente. Já se esqueceram da vergonha que foi a destruição do Eden Teatro, desse outro grande arquitecto de Lisboa que foi Cassiano Branco?
Aprendam a descobrir Lisboa e a luz vinda do rio-mar em que a cidade se deixa envolver, este rio Tejo misteriosamente aberto num mar mediterrâneo à sua frente, um mar que começa no mais belo cais com que uma cidade ao mar se possa juntar, o Cais das Colunas - nossa «saudade de pedra».
José Fonseca e Costa
(jornal Público/P2)

1 comentário:

Marota disse...

Incrível! Sempre pensei que o Tejo desaguasse no Atlântico e não no Mediterrâneo - nunca é tarde para aprender! Ou estou eu a confundir algo? Cumps - Marota