quinta-feira, 18 de março de 2010

O Castelo vale uma visita.



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Achado arqueológico raro no Castelo

É a única capital europeia com um núcleo arqueológico com vestígios do séc. VII a.C. até ao séc. XVIII. Abre hoje


Em 2600 metros quadrados, localizados no Castelo de São Jorge, em Lisboa, "coabitam" povos desde o século VII a.C. até aos nossos dias. Trata-se do Núcleo Arqueológico do Castelo que hoje abre as suas portas ao público e no qual se encontram vestígios desde a Idade do Ferro até ao século XVIII, sem esquecer que o projecto arquitectónico bem como a sinalética têm como autores dois portugueses do século XXI.

Estamos perante um núcleo civilizacional contínuo raro de encontrar. Aliás, segundo as arqueólogas que têm trabalhado nas escavações, este é um projecto ímpar, de que muito se orgulham. "Hoje, Lisboa é a única capital europeia que, num castelo com uma freguesia intramuros, tem um núcleo arqueológico visitável onde se vê um pedaço histórico de várias ocupações desde o séc. VII a.C. até ao séc. XVIII", disse ao DN a historiadora Susana Serra, corroborada por Ana Gomes e Alexandra Gaspar, arqueólogas da Direcção Regional da Cultura de Lisboa e Vale do Tejo.

"Com estas dimensões e em tão bom estado de conservação é raro encontrar num mesmo espaço vestígios que testemunham três períodos significativos da história do Castelo e de Lisboa", frisa Ana Gomes. Esta responsável refere-se às estruturas habitacionais da Idade do Ferro (séc. VII a.C. - III a.C.); a um bairro islâmico de meados do séc. XI (época da construção do Castelejo); e ainda a vestígios do Palácio dos Condes de Santiago.

Os primeiros vestígios foram encontrados em 1996, quando se pensava transformar a praça nova do Castelo num parque. "No âmbito do projecto de requalificação do Bairro do Castelo havia a intenção de fazer aqui um parque de estacionamento. Quando as arqueólogas começaram as escavações perceberam que havia aqui vestígios relevantes que mereciam uma intervenção profunda", explicou a gestora do Castelo, Teresa Oliveira.

Dada a relevância dos achados, em 2006 iniciou-se um processo de musealização com a candidatura ao Plano Operacional da Cultura (POC). Em Dezembro de 2008 foi instalado o núcleo museológico na zona do antigo Paço Real "com o espólio encontrado intramuros, com incidência na área arqueológica", disse Teresa Oliveira.

E foi nesta área que as arqueólogas começaram por encontrar vestígios da Idade do Ferro. Neste núcleo havia vestígios de muros e de um compartimento que corresponderá à cozinha, onde havia potes, taças, panelas e ânforas (peças que serão expostas no núcleo museológico). Outro núcleo visitável é o islâmico, onde se encontraram ruas e casas (correspondentes à típica casa mediterrânea). "Têm um pátio central, despensa, cozinha e compartimentos que se organizam à volta do pátio: cozinha, despensa, salões com alcovas (quartos)", disse Ana Gomes, adiantando que as casas têm cerca de 200 m2 e estão bem preservadas.

No terceiro núcleo, o do palácio, que pertenceu aos bispos de Lisboa até ao séc. XV e depois foi arrendado aos condes de Santiago, "foram achados compartimentos correspondentes ao rés-do-chão, onde estavam cozinha, armazéns, despensas, cavalariças e jardim", frisou Alexandra Gaspar adiantando que o palácio ruiu com o terramoto de 1755. As peças intactas achadas estão no museu. Tudo pode ser visto a partir de hoje, dia da inauguração do núcleo, onde ontem se faziam os últimos retoques.

(in «Diário de Notícias»).

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