.
Comércio de carácter e de tradição, intervenção da CML, é preciso!
O recente desaparecimento do quase centenário Sr. Oliveira, proprietário e rosto omnipresente da drogaria mais bonita de Lisboa, a Oliveirense (R. da Lapa); as adulterações na farmácia Progresso (Príncipe Real), nos bordados Midões e no gravador Luís Oliveira (todos na Baixa), e a indiferença indómita (aparente contra-senso) de quem de direito pelo iminente desaparecimento na R. dos Correeiros do último daqueles artífices, Vitorino de Sousa, fazem prever o pior quanto ao futuro das lojas de comércio tradicional e de carácter em Lisboa.
As más práticas não são de hoje mas antes o acumular de atitudes e vícios. A questão é complexa porque envolve oferta e procura (por exemplo, a má imagem do comércio antigo - mais caro, maus horários, mau atendimento -, o enviesamento da procura pelo "pronto a qualquer coisa"), mas também interesses e desinteresses instalados, dos lóbis, que tudo açambarcam, aos burocratas, que tudo emperram.
E quando Governo e a Câmara Municipal de Lisboa (CML) demonstram alguma preocupação pelo assunto accionando fundos comunitários (vide Procom, Urbcom e Modcom), logo o espírito e a coisa se diluem por entre protagonismos estéreis, ineptas e incólumes associações sectoriais, e uma apática tolerância pelas más práticas (veja-se o que aconteceu ao carismático salão de jogos do Jardim Cinema), quando não num "Simplex" que tudo tabela por igual. Daí que seja hoje rara a loja de carácter e tradição de que possamos dizer, com orgulho, "ficou melhor".
A situação é mesmo alarmante. Há bem poucos anos, até as fachadas de relevo histórico e arquitectónico desapareciam de um dia para o outro. Hoje, graças a alguma tomada de consciência, são estimadas, mas os interiores continuam a ser destruídos, travestidos em "coisas" sem gosto e/ou entendimento do que é conservar e promover um comércio de carácter e tradição. A Pompadour (Chiado) e a Nova Açoriana (R. da Prata) são disso exemplos maiores.
Por que não tem sido possível renovar o nosso comércio mantendo o cachet daquelas lojas que ainda o possuem? Por que razão Lisboa não tem lojas como Barcelona, Paris ou Munique? Por que há ainda promotores, por exemplo, os que vão abrir hotéis na Lanalgo e na Pastelaria Suíça, ou os da barbearia centenária do Chiado, que não entendem que ao manterem integrados nos seus futuros empreendimentos, o correeiro já citado, a antiga Manteigaria União e o Cabeleireiro Campos estão a incutir uma extraordinária mais-valia aos seus projectos, atestando-os de verdadeiro charme? Por que razão há que fazer tábua rasa do que é antigo?
E a CML? A nível de preservação patrimonial dos valores arquitectónicos, decorativos e de memória, pode e deve fazer melhor pelo que ainda há de genuinamente valorativo nas lojas de carácter, tanto físico como imaterial. O sapateiro Barroso (Belém) e a Vitorino de Sousa são artesanato de reconhecido valor internacional, tão valiosos quanto os espaços físicos da reverenda A Estrela da Sé e da Farmácia Gomes (à Rua Castilho), cujos proprietários aguardam há anos por uma classificação da CML.
A CML pode ainda fazer valer dois instrumentos legais: Inventário Municipal, anexo ao PDM, e classificação de Interesse Municipal. Mas trata-se de uma questão de vontade, de querer e poder. De fazer cumprir a lei. E de alertar e sensibilizar os promotores para os valores em causa. Aqui, a presença in loco de historiadores e arquitectos é determinante. Mas pode e deve fazer isso rapidamente.
Há que seleccionar os sectores CAE prioritários, a idade e a dimensão das lojas, fazer os respectivos inventários físicos e imateriais. Definir tipologias e âmbito do incentivo: financeiro (isenção de taxas, subsídios reembolsáveis, ...), formativo (dos comerciantes - mudar horários, incutir simpatia no atendimento, ...) e de estímulo (reconhecimento público pelo "serviço à cidade", por exemplo diplomas e prémios, inclusão em guias turísticos).
Mas convém não esquecer a formação intracamarária, devendo a CML investir na formação de fiscais induzindo-lhes a adequada sensibilidade para os interiores históricos.
E como a CML dispõe já de departamentos, unidades e técnicos mais do que suficientes para levar a bom porto este desiderato, a CML tem que avançar JÁ! Pelo Fórum Cidadania Lx: Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Nuno Caiado, António Sérgio Rosa de Carvalho, Pedro Machado, Carlos Matos, Rita Matias, Jorge Pinto, Pedro Louro e Luís Rêgo
O recente desaparecimento do quase centenário Sr. Oliveira, proprietário e rosto omnipresente da drogaria mais bonita de Lisboa, a Oliveirense (R. da Lapa); as adulterações na farmácia Progresso (Príncipe Real), nos bordados Midões e no gravador Luís Oliveira (todos na Baixa), e a indiferença indómita (aparente contra-senso) de quem de direito pelo iminente desaparecimento na R. dos Correeiros do último daqueles artífices, Vitorino de Sousa, fazem prever o pior quanto ao futuro das lojas de comércio tradicional e de carácter em Lisboa.
As más práticas não são de hoje mas antes o acumular de atitudes e vícios. A questão é complexa porque envolve oferta e procura (por exemplo, a má imagem do comércio antigo - mais caro, maus horários, mau atendimento -, o enviesamento da procura pelo "pronto a qualquer coisa"), mas também interesses e desinteresses instalados, dos lóbis, que tudo açambarcam, aos burocratas, que tudo emperram.
E quando Governo e a Câmara Municipal de Lisboa (CML) demonstram alguma preocupação pelo assunto accionando fundos comunitários (vide Procom, Urbcom e Modcom), logo o espírito e a coisa se diluem por entre protagonismos estéreis, ineptas e incólumes associações sectoriais, e uma apática tolerância pelas más práticas (veja-se o que aconteceu ao carismático salão de jogos do Jardim Cinema), quando não num "Simplex" que tudo tabela por igual. Daí que seja hoje rara a loja de carácter e tradição de que possamos dizer, com orgulho, "ficou melhor".
A situação é mesmo alarmante. Há bem poucos anos, até as fachadas de relevo histórico e arquitectónico desapareciam de um dia para o outro. Hoje, graças a alguma tomada de consciência, são estimadas, mas os interiores continuam a ser destruídos, travestidos em "coisas" sem gosto e/ou entendimento do que é conservar e promover um comércio de carácter e tradição. A Pompadour (Chiado) e a Nova Açoriana (R. da Prata) são disso exemplos maiores.
Por que não tem sido possível renovar o nosso comércio mantendo o cachet daquelas lojas que ainda o possuem? Por que razão Lisboa não tem lojas como Barcelona, Paris ou Munique? Por que há ainda promotores, por exemplo, os que vão abrir hotéis na Lanalgo e na Pastelaria Suíça, ou os da barbearia centenária do Chiado, que não entendem que ao manterem integrados nos seus futuros empreendimentos, o correeiro já citado, a antiga Manteigaria União e o Cabeleireiro Campos estão a incutir uma extraordinária mais-valia aos seus projectos, atestando-os de verdadeiro charme? Por que razão há que fazer tábua rasa do que é antigo?
E a CML? A nível de preservação patrimonial dos valores arquitectónicos, decorativos e de memória, pode e deve fazer melhor pelo que ainda há de genuinamente valorativo nas lojas de carácter, tanto físico como imaterial. O sapateiro Barroso (Belém) e a Vitorino de Sousa são artesanato de reconhecido valor internacional, tão valiosos quanto os espaços físicos da reverenda A Estrela da Sé e da Farmácia Gomes (à Rua Castilho), cujos proprietários aguardam há anos por uma classificação da CML.
A CML pode ainda fazer valer dois instrumentos legais: Inventário Municipal, anexo ao PDM, e classificação de Interesse Municipal. Mas trata-se de uma questão de vontade, de querer e poder. De fazer cumprir a lei. E de alertar e sensibilizar os promotores para os valores em causa. Aqui, a presença in loco de historiadores e arquitectos é determinante. Mas pode e deve fazer isso rapidamente.
Há que seleccionar os sectores CAE prioritários, a idade e a dimensão das lojas, fazer os respectivos inventários físicos e imateriais. Definir tipologias e âmbito do incentivo: financeiro (isenção de taxas, subsídios reembolsáveis, ...), formativo (dos comerciantes - mudar horários, incutir simpatia no atendimento, ...) e de estímulo (reconhecimento público pelo "serviço à cidade", por exemplo diplomas e prémios, inclusão em guias turísticos).
Mas convém não esquecer a formação intracamarária, devendo a CML investir na formação de fiscais induzindo-lhes a adequada sensibilidade para os interiores históricos.
E como a CML dispõe já de departamentos, unidades e técnicos mais do que suficientes para levar a bom porto este desiderato, a CML tem que avançar JÁ! Pelo Fórum Cidadania Lx: Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Nuno Caiado, António Sérgio Rosa de Carvalho, Pedro Machado, Carlos Matos, Rita Matias, Jorge Pinto, Pedro Louro e Luís Rêgo
(in «Público»).
Sem comentários:
Enviar um comentário