sábado, 20 de fevereiro de 2010

República de fachada.





A Rua Ivens parece estar condenada a ficar reduzida a bonitas fachadas pombalinas. A recente demolição do imóvel com os números 21-25 e 27-33 é mais um exemplo a juntar à longa lista de vítimas de "fachadismo". Este Loteamento (51/URB/2004) foi aprovado pela Vereadora Eduarda Napoleão em 17 de Maio de 2005 com vista à construção de apartamentos de luxo.

O Processo 1360/EDI/2005 (alterações e construções) teve projecto de arquitectura aprovado em 5 de Junho de 2006 pela Vereadora Gabriela Seara. O licenciamento foi deferido em 10 de Fevereiro de 2009. O Proc. 1998/EDI/2006, para demolições com contenção de fachada, foi aprovado também a 10 Fevereiro de 2009.

O estacionamento da praxe, a raíz principal da escolha da demolição, atinge neste projecto uma escala obscena. A CML aprovou a execução de sete caves para estacionamento! É a preversão do conceito de reabilitação de centros históricos. Um imóvel de habitação pombalino, com 5 pisos, vai com este projecto ficar reduzido a uma fachada que depois irá esconder uma construção nova com mais pisos para estacionar carros do que para pessoas habitarem. Imóvel de Interesse Público? Conservação do Património? Reabitar o Centro Histórico? Mobilidade Sustentável?

Um detalhe denunciador da ganância do promotor: no decorrer da apreciação do plano de escavação e contenção periférica, foi necessário reduzir a área de implantação da cave -7. Porquê? Devido à existência das instalações do Metropolitano de Lisboa! Não deixa de ser uma ironia bem reveladora da má gestão da nossa capital: dezenas de viaturas de transporte particular irão ficar, literalmente, por cima de uma estação de Metropolitano onde se cruzam duas linhas (já para não falar das dezenas de autocarros que servem a zona).

O IGESPAR? A única exigência, para além da óbvia superficial manutenção da fachada, foi a de reconstruir o núcleo de escadas e conservação de azulejos. Quanto à gaiola pombalina, um dos critérios para a classificação da Arquitectura pombalina como de Interesse Nacional, foi mais uma vez ignorada. Raramente se reconstroi a gaiola pombalina - e quando isso acontece é na maior parte das vezes por iniciativa do promotor. Quando é que a CML / IGESPAR irão ouvir as recomendações dos especialistas e passar a valorizar efectivamente o sistema estrutural pombalino? A sua manutenção/recuperação - ou reconstrução quando o estado de conservação é mau - devia ser um dos critérios para a Baixa e Chiado. De cada vez que deixamos destruir uma gaiola pombalina Lisboa fica mais pobre.

Fernando Jorge.

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