terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Portugal Ilustrado.



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A ilustração foi o modo mais fácil para a entrada do modernismo em Portugal. A conclusão é da investigadora Theresa Lobo, que, ao longo de 20 anos, procedeu a um levantamento sobre ilustração portuguesa entre 1910 e 1940.A obra, "Ilustração em Portugal - I", editada recentemente pelo IADE - Instituto de Artes Visuais Design e Marketin g-, faz parte de uma fase de um trabalho exaustivo e mais abrangente no tempo que a autora pretende efectuar.Theresa Lobo, uma assumida apaixonada por ilustração e por cartazes (sobre este assunto, também já publicou um livro), mostra-se satisfeita com o resultado deste seu projecto."Esta é a primeira obra que se publica sobre o assunto. Até agora, não havia nada sistematizado sobre a matéria".Para a investigadora, a ilustração portuguesa nas épocas a que se reporta o livro "representou uma clarificação de um tempo cultural". Sustenta Theresa Lobo que as ilustrações publicadas nas várias revistas da época "tinham um carácter essencialmente descritivo. Foi, com raras excepções, a celebração de narrativas, o pretexto de muitas e aleatórias ficções".Uma nova estéticaNa ausência de contrapartidas mais sólidas, os ilustradores portugueses recorreram muito aos magazines, aos jornais e aos cartazes. Estes suportes "eram imensos laboratórios, onde também realizaram as fórmulas de uma modernidade, que, dessa forma, penetrou lentamente na sociedade", refere a investigadora. Nesse sentido, " os magazines eram um campo de experimentação ideal para os novos ilustradores marcarem a sua estética".Também na maior parte das publicações "o conteúdo literário era quase sempre medíocre e interessava pouco, com excepção do projecto integral da 'Contemporânea' (1922-1926), dirigida por José Pacheko, onde o melhor foi também o contributo dos artistas, como Jorge Barradas, Stuart de Carvalhais e Almada Negreiros e, obviamente, do surgimento da revista "Presença".
Afirmação expressionista
O aparecimento da "Presença", em 1927, "foi um factor relevante para o surgimento de novas oportunidades gráficas, não só ao nível da capa como no seu interior. Embora predominantemente literária, a "Presença" afirmava-se doutrinária de um modo abrangente".O pintor e ilustrador Carlos Botelho criou páginas unificadas num único tema, sem uma ordem de leitura específica. "Durante 22 anos, estas páginas foram votadas a grandes variações de estilo - umas de um modernismo inventivo vanguardista, outras no regresso ao desenho pormenorizado naturalista e saturado", sublinha Theresa Lobo.Para a investigadora, "a 'Presença' (1927-1940) desempenhou um papel importante na afirmação e divulgação de estética expressionista", sem nunca esquecer que nela escreveram nomes como José Régio, Gaspar Simões ou Adolfo Casais Monteiro.
(in «Jornal de Notícias»).

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