sábado, 19 de dezembro de 2009

Artesãos acusam CML de «snobismo cultural».

Autarquia adquiriu edifício do Museu da Moda, que afastou os artistas da rua Augusta.
Os artesãos da rua Augusta, em Lisboa, foram afastados para a Praça da Figueira devido à abertura do Museu do Design e da Moda. Ontem, a Câmara assinou a escritura da compra do edifício. Os artesãos sentem-se esquecidos.
Os motivos da polémica contam-se assim: em Maio, o pequeno mercado de artesanato que há anos existia na rua Augusta, junto ao Arco, foi extinto por notificação da Câmara de Lisboa, que, na altura, alegou que a actividade colidia com o novo Museu do Design que era inaugurado por esses dias. Ontem, a autarquia assinou a escritura da compra do edifício do Museu à Caixa Geral de Depósitos.
O processo de saída dos artesãos foi bastante repentino: em apenas dois dias, souberam da notícia e foram obrigados a abandonar o local. Os pintores e os artesãos tiveram destinos diferentes: os primeiros concorreram a um concurso público para atribuição de lugares dispersos pela cidade; os segundos, por seu turno, foram colocados na Praça da Figueira - e esta segunda solução nunca foi recebida com agrado.
"Estamos num beco sem saída: a Praça da Figueira não funciona porque é um local muito degradado", disse ao JN, ontem, o artesão Eduardo Cordeiro. Na sua óptica, a Praça da Figueira "não é viável" porque "o ambiente que aqui se vive não é propício a um mercado onde as pessoas se sintam à vontade e seguras". O sentimento é justificado pela acentuada quebra no negócio. "Já houve uma pessoa que desistiu e outras duas estão prestes a desistir", prosseguiu o artesão.
Eduardo Cordeiro criticou ainda a justificação apresentada pela autarquia em Maio passado. "Disseram-nos que a nossa presença era incompatível com as actividades do Museu para a rua", explicou. "Mas até agora, em seis meses, não houve uma única actividade naquele espaço - as actividades limitaram-se ao quarteirão onde o Museu está situado", disse. Os artesãos estavam no quarteirão seguinte, a escassos metros. "Foi por mero snobismo cultural que nos obrigaram a sair dali", acusa Eduardo Cordeiro. Mostrou-se, contudo, receptivo à solução da Praça da Figueira "se fizerem um mercado com pintores e artesãos, publicitado e integrado no roteiro da cidade e com instalações condignas que dêem dignidade à situação".
"Estamos abertos a todas a hipóteses desde que sejam viáveis", prosseguiu, deixando uma sugestão: "Seria plenamente satisfatório irmos para a Praça do Comércio, integrados nos projectos da frente Tejo".
O artesão teceu ainda críticas à autarquia, acusando-a de "não estar interessada em discutir a situação". "O presidente António Costa disse na campanha que queria uma cidade mais humana mas o que ele conseguiu ali foi um quarteirão vazio e nada mais", sublinhou. "Somos 10 ou 11 famílias prejudicadas e estamos dispostos a ir nem que seja para os tribunais europeus", rematou.
Ontem, o JN tentou obter uma reacção do presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, que esteve presente na assinatura da escritura de compra e venda do imóvel onde está situado o Museu. Todavia, o autarca recusou-se a prestar qualquer declaração . O vereador do pelouro Espaço Público, Sá Fernandes, esteve, por seu turno, incontactável.
(in «Jornal de Notícias»).

2 comentários:

Ricardo Moreira disse...

Mais que snobismo é a arrogância deste Senhor Costa da qual já tinha ouvido falar quando ele passou pelo Min. Justiça.

pmc disse...

Bom, aquelas bancadas pindéricas a arvorar ao artesão em plena Rua Augusta e junto ao Arco há muito que deviam ter sido escorraçadas dali. Que o tenham sido agora, só há que aplaudir. E não me façam falar...