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«Autor do polémico projecto da igreja do Restelo inspira-se em Hieronimus Bosch. E chama "talibãs da arquitectura" aos detractores Câmara de Lisboa mantém-se em silêncio
O arquitecto Troufa Real vai inspirar-se na obra do pintor Hieronimus Bosch para redesenhar a torre da polémica igreja que projectou para o Restelo, em Lisboa, e que começou esta semana a ser construída.Troufa Real assegura, em declarações ao PÚBLICO, que esta alteração não se prende com nenhum pedido que lhe tenha sido feito para modificar o seu projecto inicial, mas sim com o facto de já não se rever na torre de tipo manuelino que desenhou, há diversos anos, para aquele espaço. "Já vou na quinta torre" para a Igreja de S. Francisco Xavier, explica o arquitecto, acrescentando que uma das versões previa uma torre com vitrais.Desta vez a fonte de inspiração será "o quadro As Tentações de Santo Antão" - uma obra do séc. XVI de Bosch - "e José Saramago". Inicialmente concebida para ter cem metros de altura, a nova torre será mais baixa ou mantém as mesmas dimensões? "Não sei", responde Troufa Real. "Gosto muito de tudo o que é alto. Lisboa ficou a perder por não se terem construído as torres de Siza Vieira em Alcântara. Seja como for, não há pressa, uma vez que a construção desta parte da igreja será feita mais tarde." Quanto ao resto do projecto, o arquitecto insiste em mantê-lo tal como o criou. A nave da igreja, pintada em dourado do lado de fora, imita, pela sua forma, "uma caravela num temporal, toda dobrada". Depois, além da torre com 17 sinos, há a casa do pároco, "que é uma referência à casa portuguesa do arquitecto Raul Lino". E, por fim, o centro social, reservado para a segunda fase, "que será uma réplica das antigas fortalezas portuguesas da época dos descobrimentos". As paredes vermelhas, cor-de-laranja, verdes e brancas são uma referência à Índia (destino de viagem de S. Francisco Xavier) e a Portugal."A minha arquitectura está ligada ao mundo do fantástico, é de raiz simbólica. Não sou um arquitecto moderno, sou antimoderno", explica o autor do projecto, considerando que colegas seus, como Teotónio Pereira (que classificou, ontem, no PÚBLICO, este projecto uma "aberração"), não compreendem a sua linguagem. "Odeiam o simbolismo do antigo império. É um bando de velhos, autênticos talibãs da arquitectura que não se reciclaram e não percebem o que se está a passar no mundo", acusa. E volta à carga: "Odeiam outras culturas. Só sabem fazer peixe podre, peixe passado".Direito à arquitecturaO arquitecto que dirige o departamento do patriarcado responsável pela construção das novas igrejas, Diogo Lino Pimentel, também não sai ileso desta polémica. Depois de ter dito que o edifício para o Restelo dava muito nas vistas, recebe agora a resposta de Troufa Real. "Ele quer é fazer as igrejas no atelier dele. Mas quando esta igreja foi objecto de apreciação na Ordem dos Arquitectos, no tempo da bastonária Olga Quintanilha [entre 1999-2001], ele também esteve lá e não disse nada". Troufa Real argumenta que o projecto foi devidamente apresentado e discutido, há cerca de dez anos, tanto na Ordem como na Cordoaria, além de ter estado exposto numa galeria da Câmara de Lisboa. Para Troufa Real, esta sua obra é nem mais nem menos que um "cadáver esquisito". Uma expressão que usa para definir um trabalho colectivo surrealista, lembrando que convidou diferentes artistas, como Lagoa Henriques - entretanto falecido - para participar neste projecto. Esta não é a sua primeira obra religiosa. Tem em construção outra igreja em Miraflores, Oeiras, e projectou um templo dedicado a Shiva para Loures, obra que ainda não saiu do papel. "Sou um maçon católico e respeito muito os cânones da igreja", declara. A morar em Angola, terra onde nasceu, Troufa Real deixa um recado a todos os que criticam o seu trabalho: "Deixem-me ser livre. Tenho direito à minha arquitectura de autor".»
(in «Público»).
2 comentários:
Pelo amor de Deus, nós é que temos o direito de não gramar com isto!!!
E já agora... MAS QUAL MANUELINO???
Só se for na sua cabeça!!!
É Hieronymus Bosch, não Hieronimus.
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