Pátio situado no Bairro da Cruz Vermelha, no Lumiar, está profundamente degradado. Apesar do risco de derrocada, reconhecido pelas autoridades, os moradores vivem entre aquelas paredes, à espera de soluções
Perigo de derrocada, incêndio, explosão. O pátio dos Piçarra, no n.º 134 da Estrada da Torre, no Lumiar, em Lisboa, é um barril de pólvora, um cozinhado que cheira a tragédia com gente dentro. É uma Lisboa que já ninguém acredita que existe. Foram-se as barracas, mas ficaram os casebres. Lúgubres, miseráveis, ainda mais fúnebres e pavorosos do que as construções improvisadas que polvilhavam a capital.
O pátio nunca conheceu grandes confortos. Os metros quadrados sempre escassearam, mas as paredes e os telhados cumpriam, ainda assim, a sua função. Muitos anos depois, as paredes ficaram bambas, as telhas esburacadas e as águas começaram a esgueirar-se por entre os buracos.
Por causa de projectos e planos que nunca foram por diante, e na expectativa de deitar tudo abaixo, nada se fez pelo pátio. Foi-se deixando cair, todos os dias, mais um bocadinho. Os moradores é que não querem passar "nem mais um Inverno neste inferno".
Maria de Lurdes, quase 70 anos, 50 dos quais vividos no pátio dos Piçarra, improvisa como pode. O cheiro a mofo quase asfixia quem entra no pequeno cubículo, obrigando os pulmões a acomodar-se a uma atmosfera inóspita.
A água que escorre pelas paredes é altamente corrosiva. Os armários da cozinha estão presos por barrotes. A porta do frigorífico fecha-se com a ajuda de um tijolo. "Olhe, a humidade é tanta que tive de tirar toda a roupa do guarda-fatos. Como não tinha onde a colocar, ficou em cima da cama e eu durmo a um cantinho", explica. Quando vier "chuva a sério", logo se vê. "No Inverno passado, quase não tinha lugar para ficar. A água aparecia em todo o lado", conta Maria de Lurdes, que divide aquele espaço exíguo com um filho, a nora e uma bisneta. Mas já foi pior. Foi ali que criou três filhos com o marido. Apesar de tudo, tem uma espécie de casa de banho, com sanita e lavatório. Quando quer tomar um duche, aquece água em panelas e entorna para um jerricã, que pendura no tecto. Um verdadeiro luxo. Que, quase ao lado, Maria do Sameiro, uma cabo-verdiana que ali mora há mais de 15 anos, não tem. Lava-se na rua e despeja o penico numa pia comunitária.
No seu casebre não há espaço para inventar assoalhadas. Um madeiro divide o espaço que serve de cozinha e de quarto. Mesmo assim, partilha-o com um cunhado que veio para Portugal receber cuidados médicos e por cá ficou. Há ainda os ratos e as cobras, mas esses não pagam renda. O pátio tem senhorio e uma centena de euros é quanto paga por uma casa que não vale um tostão.
"É arrepiante, desumano. A Câmara tem de fazer qualquer coisa. Não pode haver soluções só quando há mortes. Por que é que estas pessoas não são realojadas?", questiona José Bandeira, presidente da Associação de Moradores do Bairro da Cruz Vermelha.
"Eu não pago mais. Nem pensar!", solta, revoltada, Adelina Brito, que se ajeita com três filhos no casebre ao lado com renda ainda mais elevada. "O senhorio nunca cá veio pregar um prego", acusa, por sua vez, Teresa Gil, que sublinha nunca ter levado com um tecto em cima por ter feito obras. Não lhe caiu o tecto, mas um curto-circuito deixou-a sem electrodomésticos. "Nem os peixinhos do aquário se salvaram..."
Perigo de derrocada, incêndio, explosão. O pátio dos Piçarra, no n.º 134 da Estrada da Torre, no Lumiar, em Lisboa, é um barril de pólvora, um cozinhado que cheira a tragédia com gente dentro. É uma Lisboa que já ninguém acredita que existe. Foram-se as barracas, mas ficaram os casebres. Lúgubres, miseráveis, ainda mais fúnebres e pavorosos do que as construções improvisadas que polvilhavam a capital.
O pátio nunca conheceu grandes confortos. Os metros quadrados sempre escassearam, mas as paredes e os telhados cumpriam, ainda assim, a sua função. Muitos anos depois, as paredes ficaram bambas, as telhas esburacadas e as águas começaram a esgueirar-se por entre os buracos.
Por causa de projectos e planos que nunca foram por diante, e na expectativa de deitar tudo abaixo, nada se fez pelo pátio. Foi-se deixando cair, todos os dias, mais um bocadinho. Os moradores é que não querem passar "nem mais um Inverno neste inferno".
Maria de Lurdes, quase 70 anos, 50 dos quais vividos no pátio dos Piçarra, improvisa como pode. O cheiro a mofo quase asfixia quem entra no pequeno cubículo, obrigando os pulmões a acomodar-se a uma atmosfera inóspita.
A água que escorre pelas paredes é altamente corrosiva. Os armários da cozinha estão presos por barrotes. A porta do frigorífico fecha-se com a ajuda de um tijolo. "Olhe, a humidade é tanta que tive de tirar toda a roupa do guarda-fatos. Como não tinha onde a colocar, ficou em cima da cama e eu durmo a um cantinho", explica. Quando vier "chuva a sério", logo se vê. "No Inverno passado, quase não tinha lugar para ficar. A água aparecia em todo o lado", conta Maria de Lurdes, que divide aquele espaço exíguo com um filho, a nora e uma bisneta. Mas já foi pior. Foi ali que criou três filhos com o marido. Apesar de tudo, tem uma espécie de casa de banho, com sanita e lavatório. Quando quer tomar um duche, aquece água em panelas e entorna para um jerricã, que pendura no tecto. Um verdadeiro luxo. Que, quase ao lado, Maria do Sameiro, uma cabo-verdiana que ali mora há mais de 15 anos, não tem. Lava-se na rua e despeja o penico numa pia comunitária.
No seu casebre não há espaço para inventar assoalhadas. Um madeiro divide o espaço que serve de cozinha e de quarto. Mesmo assim, partilha-o com um cunhado que veio para Portugal receber cuidados médicos e por cá ficou. Há ainda os ratos e as cobras, mas esses não pagam renda. O pátio tem senhorio e uma centena de euros é quanto paga por uma casa que não vale um tostão.
"É arrepiante, desumano. A Câmara tem de fazer qualquer coisa. Não pode haver soluções só quando há mortes. Por que é que estas pessoas não são realojadas?", questiona José Bandeira, presidente da Associação de Moradores do Bairro da Cruz Vermelha.
"Eu não pago mais. Nem pensar!", solta, revoltada, Adelina Brito, que se ajeita com três filhos no casebre ao lado com renda ainda mais elevada. "O senhorio nunca cá veio pregar um prego", acusa, por sua vez, Teresa Gil, que sublinha nunca ter levado com um tecto em cima por ter feito obras. Não lhe caiu o tecto, mas um curto-circuito deixou-a sem electrodomésticos. "Nem os peixinhos do aquário se salvaram..."
(in «Jornal de Notícias»).
Não deixe passar estas familias mais um inverno neste inferno !
1 comentário:
E eu que pensava que tinha problemas...é verdadeiramente escandaloso, deviam ter feito uma visita guiada aos lideres da cimeira, para mostrar que Lisboa é solidária com as favelas do Bogotá e do Rio de Janeiro...Viva a classe política que nos governa!!! Grande obra de diplomacia!!!
Enviar um comentário