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Há mais de 100 mil casas desocupadas à venda em Portugal.
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Portugal tem mais de 100 mil casas vazias que ninguém consegue vender. São casas--fantasma que nos últimos anos se multiplicaram nas periferias das grandes cidades, em especial Lisboa e Porto, à espera de uma classe média baixa a quem os bancos fecharam a porta. Muitas ainda estão por estrear quando as tabuletas a dizer "vende-se" começam a enferrujar. "A maior parte nunca foi ocupada, e se se mantiverem desocupadas estas casas vão-se estragando de dia para dia", sublinha Luís Lima, presidente da Associação de Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), em entrevista ao i. "Não foram pensadas para o arrendamento, e os promotores não as põem nesse mercado porque não funciona", adianta o responsável, que tem vindo a alertar para a necessidade de alterar a legislação aplicável. Apesar de haver um aumento substancial na procura por arrendamento, cerca de 50% nos primeiros nove meses do ano, a concretização efectiva teve um aumento de apenas 2%. Porquê? "O valor das rendas é incomportável", explica Luís Lima, justificando esta aparente contradição com o enorme risco tomado pelo proprietário. Não só tem uma carga fiscal muito elevada como é obrigado a investir na manutenção do imóvel - sem ter garantias de que o inquilino é despejado rapidamente quando deixa de pagar. Luís Lima frisa que muitos proprietários transferem esse risco para o valor da renda, que acaba por ser demasiado elevado e gera o incumprimento. Esta situação, aliada à retracção dos bancos na concessão de crédito, originou o cenário peculiar das casas-fantasma. Luís Lima acredita que no final do ano o número de imóveis vendidos vai baixar cerca de 10%, passando de 170 mil em 2008 para algo como 150 mil casas transaccionadas este ano. No entanto, o volume de negócios gerado pelo sector vai crescer. Como se explica este fenómeno? "O mercado médio alto vende-se bem. E mais: a banca está completamente disponível para financiar", detalha o presidente da APEMIP. Uma das soluções para este problema, além da mudança de lei no arrendamento, pode estar na intervenção do governo. "O parque está construído e o Estado devia pensar se vale a pena continuar a construir habitação social", afirma Luís Lima, para quem muitas destas casas poderiam servir para o alojamento das famílias carenciadas. Por outro lado, o responsável das empresas de mediação defende que os construtores terão de se virar para outros nichos de mercado, tais como o da habitação para seniores - que têm necessidades específicas devido à idade - e para jovens, que precisam de casas pequenas e baratas enquanto fazem a transição da casa dos pais para a vida adulta. "Todo o promotor que construir sem saber o que as pessoas querem comprar cometerá um erro", avisa o presidente, salientando que "o mercado nunca mais será dominado pela oferta e sim pela procura". Além disso, reflecte, "não se pode pedir por um imóvel usado um valor mais elevado que uma casa nova no mesmo sítio. Tem de custar 30% ou 40% menos". A expectativa de valorização eterna das casas tem os dias contados.
(Jornal «i»)
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