Nos dias 25 a 27, as galerias romanas da Rua da Prata vão estar abertas ao público, das 10h às 18h. É a única visita deste ano.
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As galerias romanas da Rua da Prata em Lisboa terão sido edificadas entre os finais do século I a.C. e os inícios do século I d.C., num período de afirmação e consolidação da presença romana no actual território português.
Na segunda metade do séc. I a.C. Olisipo recebe o cognome de Felicitas Iulia, sendo elevada à categoria jurídico-administrativa de capital de municipium civium Romanorum, por Júlio César ou Octaviano, seguindo-se um período de paz e prosperidade até ao séc. III que foi determinante na consolidação política do Império.
É neste período que o municipium olisiponis vai promover a edificação de importantes edifícios públicos (fóruns, teatros, templos, termas, mercados, etc.), de que estas Galerias, a par com as ruínas do Teatro Romano (localizadas na colina do Castelo), constituem um importante testemunho que ainda hoje persiste, assinalando uma fase de grande expansão urbana.
Consequentemente, Olisipo vai conhecer um significativo incremento da sua actividade comercial e mercantil, obrigando a que a cidade encontre respostas na criação de estruturas de apoio a essas mesmas actividades, designadamente a portuária, promovendo-se então a ocupação do esteio onde actualmente se localiza a Baixa.
De acordo com a opinião mais recente dos especialistas, esta estrutura terá correspondido a uma solução de engenharia adoptada pelos romanos (denominada de criptopórtico), para fazer face à pouca consistência dos solos nesta área ribeirinha da cidade. A este propósito, não será de mais lembrar que Lisboa era então o porto mais ocidental do Império, fazendo a ponte entre o Mediterrâneo e o Atlântico Norte.
A estrutura que hoje é possível visitar teria primitivamente, uma dimensão maior que se desconhece, todavia tudo leva a crer que a mesma definiria uma grande plataforma artificial, nivelada, sobre a qual terão sido construídos diversos edifícios. Infelizmente nada restou dessas construções, pelo que apenas é possível conjecturar a possível localização do porto de Olisipo ao longo do rio, a existência de um fórum mercantil, templos, termas, etc.
Com o correr dos tempos aquelas construções ruíram e deram lugar a novas construções, apagando a memória das primitivas, mantendo-se contudo, a presença parcial desta infra-estrutura que, ainda hoje, sustenta alguns dos edifícios pombalinos nesta área da Baixa.
Durante toda a Idade Média, até ao terramoto de 1755 não existe qualquer referência documental às galerias o que nos leva a crer que a mesma permaneceu oculta e votada ao esquecimento/ignorância. Com efeito, apenas na sequência daquela catástrofe que se abateu sobre a cidade de Lisboa, quando se procedia à reconstrução da cidade, em 1770, a mesma volta a ser identificada e, desde logo integrada no seu património histórico.
Os eruditos que então procedem ao seu reconhecimento, entre os quais D. Thomaz Caetano de Bem, são praticamente unânimes ao considerar estar-se perante as antigas Termas Romanas de Olisipo, tese que perdurará quase até finais do séc. XX. Data de 1773 o primeiro levantamento esquemático da sua planta, por Joaquim Ferreira. Ainda que, em 1780 Frei José de S. Lourenço, tenha comparado estas “cryptas” com as catacumbas de Roma.
Segundo as descrições então efectuadas, esta estrutura já se encontrava inundada, contrariamente à sua primitiva fase de construção em que a mesma estaria a seco. Essa abundância de água, associada à descoberta de uma inscrição na qual os augustais M. Afranius Euporio e L. Fabius Daphnus dedicam um qualquer monumento a Esculápio (deus romano da medicina), terão de igual modo, contribuído para a interpretação que foi dada à sua funcionalidade.
Actualmente, o conhecimento arqueológico acerca deste tipo de estruturas, designadamente a sua tipologia, aproxima-a dos criptopórticos, muito comuns por todo o Império, enquanto solução de engenharia para fazer face a determinadas condicionantes de carácter geológico ou topográfico, ou como forma de destacar determinados edifícios públicos, relativamente à malha urbana de uma cidade, proporcionando-lhes um maior destaque e importância.
Uma vez reconhecido o monumento, procede-se ao seu estancamento, provocando uma grande concentração de água, neste espaço que assume então uma nova função – cisterna de abastecimento para as populações locais, que vão proceder à abertura de orifícios nas suas abóbadas e instalação de bocas de poço à superfície, originando o que então ficou igualmente conhecido como “Conservas de Água da Rua da Prata”. Simultaneamente, ao contrário do que sucede na restante baixa pombalina, não é colocada estacaria nesta área, pois, tal como já se referiu, os edifícios são construídos sobre esta estrutura que, desta forma, readquire a sua função primitiva.
Aquando da identificação da estrutura, os estudiosos registam a existência de uma enorme fenda que envolve uma das galerias (paredes, chão e abóbada), através da qual as águas que formam os níveis freáticos que correm sob a cidade de Lisboa, engrossados pelos caudais das antigas ribeiras a céu aberto de Valverde (Av. da Liberdade) e Arroios (Av. Almirante Reis), irrompem inundando-a. Esta galeria foi então baptizada como “Galeria das Nascentes”, o que veio também reforçar a tese de se estar perante as antigas termas de Olisipo.
Já em meados do séc. XIX, quando se procedia à reestruturação do sistema de esgotos nesta zona e à construção do actual caneiro que desce a Rua da Prata, são identificadas novas galerias, as quais, em 1859, são registadas pelo desenhador José Valentim de Freitas, no âmbito do acompanhamento da obra de que fora encarregue o bibliotecário Francisco Martins de Andrade. Todavia, a construção deste novo caneiro implicou o sacrifício de uma parte desta estrutura, inviabilizando igualmente, o acesso às galerias que se desenvolvem em direcção à Igreja da Madalena, às quais nunca mais se voltou a aceder.
De referir ainda que, durante o séc. XIX, as águas que aqui se concentram ganharam fama de curativas e milagrosas, eventualmente fruto da interpretação dada à estrutura no séc. XVIII. Com efeito eram muitos os populares que as procuravam, acreditando que estas seriam a terapia dos males que as afligiam, designadamente problemas de olhos. Aliás ficou famoso o denominado Poço das Águas Santas, localizado na esquina da Rua da Prata com a Rua de S. Julião.
Na segunda metade do séc. I a.C. Olisipo recebe o cognome de Felicitas Iulia, sendo elevada à categoria jurídico-administrativa de capital de municipium civium Romanorum, por Júlio César ou Octaviano, seguindo-se um período de paz e prosperidade até ao séc. III que foi determinante na consolidação política do Império.
É neste período que o municipium olisiponis vai promover a edificação de importantes edifícios públicos (fóruns, teatros, templos, termas, mercados, etc.), de que estas Galerias, a par com as ruínas do Teatro Romano (localizadas na colina do Castelo), constituem um importante testemunho que ainda hoje persiste, assinalando uma fase de grande expansão urbana.
Consequentemente, Olisipo vai conhecer um significativo incremento da sua actividade comercial e mercantil, obrigando a que a cidade encontre respostas na criação de estruturas de apoio a essas mesmas actividades, designadamente a portuária, promovendo-se então a ocupação do esteio onde actualmente se localiza a Baixa.
De acordo com a opinião mais recente dos especialistas, esta estrutura terá correspondido a uma solução de engenharia adoptada pelos romanos (denominada de criptopórtico), para fazer face à pouca consistência dos solos nesta área ribeirinha da cidade. A este propósito, não será de mais lembrar que Lisboa era então o porto mais ocidental do Império, fazendo a ponte entre o Mediterrâneo e o Atlântico Norte.
A estrutura que hoje é possível visitar teria primitivamente, uma dimensão maior que se desconhece, todavia tudo leva a crer que a mesma definiria uma grande plataforma artificial, nivelada, sobre a qual terão sido construídos diversos edifícios. Infelizmente nada restou dessas construções, pelo que apenas é possível conjecturar a possível localização do porto de Olisipo ao longo do rio, a existência de um fórum mercantil, templos, termas, etc.
Com o correr dos tempos aquelas construções ruíram e deram lugar a novas construções, apagando a memória das primitivas, mantendo-se contudo, a presença parcial desta infra-estrutura que, ainda hoje, sustenta alguns dos edifícios pombalinos nesta área da Baixa.
Durante toda a Idade Média, até ao terramoto de 1755 não existe qualquer referência documental às galerias o que nos leva a crer que a mesma permaneceu oculta e votada ao esquecimento/ignorância. Com efeito, apenas na sequência daquela catástrofe que se abateu sobre a cidade de Lisboa, quando se procedia à reconstrução da cidade, em 1770, a mesma volta a ser identificada e, desde logo integrada no seu património histórico.
Os eruditos que então procedem ao seu reconhecimento, entre os quais D. Thomaz Caetano de Bem, são praticamente unânimes ao considerar estar-se perante as antigas Termas Romanas de Olisipo, tese que perdurará quase até finais do séc. XX. Data de 1773 o primeiro levantamento esquemático da sua planta, por Joaquim Ferreira. Ainda que, em 1780 Frei José de S. Lourenço, tenha comparado estas “cryptas” com as catacumbas de Roma.
Segundo as descrições então efectuadas, esta estrutura já se encontrava inundada, contrariamente à sua primitiva fase de construção em que a mesma estaria a seco. Essa abundância de água, associada à descoberta de uma inscrição na qual os augustais M. Afranius Euporio e L. Fabius Daphnus dedicam um qualquer monumento a Esculápio (deus romano da medicina), terão de igual modo, contribuído para a interpretação que foi dada à sua funcionalidade.
Actualmente, o conhecimento arqueológico acerca deste tipo de estruturas, designadamente a sua tipologia, aproxima-a dos criptopórticos, muito comuns por todo o Império, enquanto solução de engenharia para fazer face a determinadas condicionantes de carácter geológico ou topográfico, ou como forma de destacar determinados edifícios públicos, relativamente à malha urbana de uma cidade, proporcionando-lhes um maior destaque e importância.
Uma vez reconhecido o monumento, procede-se ao seu estancamento, provocando uma grande concentração de água, neste espaço que assume então uma nova função – cisterna de abastecimento para as populações locais, que vão proceder à abertura de orifícios nas suas abóbadas e instalação de bocas de poço à superfície, originando o que então ficou igualmente conhecido como “Conservas de Água da Rua da Prata”. Simultaneamente, ao contrário do que sucede na restante baixa pombalina, não é colocada estacaria nesta área, pois, tal como já se referiu, os edifícios são construídos sobre esta estrutura que, desta forma, readquire a sua função primitiva.
Aquando da identificação da estrutura, os estudiosos registam a existência de uma enorme fenda que envolve uma das galerias (paredes, chão e abóbada), através da qual as águas que formam os níveis freáticos que correm sob a cidade de Lisboa, engrossados pelos caudais das antigas ribeiras a céu aberto de Valverde (Av. da Liberdade) e Arroios (Av. Almirante Reis), irrompem inundando-a. Esta galeria foi então baptizada como “Galeria das Nascentes”, o que veio também reforçar a tese de se estar perante as antigas termas de Olisipo.
Já em meados do séc. XIX, quando se procedia à reestruturação do sistema de esgotos nesta zona e à construção do actual caneiro que desce a Rua da Prata, são identificadas novas galerias, as quais, em 1859, são registadas pelo desenhador José Valentim de Freitas, no âmbito do acompanhamento da obra de que fora encarregue o bibliotecário Francisco Martins de Andrade. Todavia, a construção deste novo caneiro implicou o sacrifício de uma parte desta estrutura, inviabilizando igualmente, o acesso às galerias que se desenvolvem em direcção à Igreja da Madalena, às quais nunca mais se voltou a aceder.
De referir ainda que, durante o séc. XIX, as águas que aqui se concentram ganharam fama de curativas e milagrosas, eventualmente fruto da interpretação dada à estrutura no séc. XVIII. Com efeito eram muitos os populares que as procuravam, acreditando que estas seriam a terapia dos males que as afligiam, designadamente problemas de olhos. Aliás ficou famoso o denominado Poço das Águas Santas, localizado na esquina da Rua da Prata com a Rua de S. Julião.
1 comentário:
Olá Lisboa SOS em primeiro lugar quero-vos felicitar por este excelente blog que não tem medo de nada e de ninguém por uma causa comum LISBOA.
Em relação a este artigo, queria expressar o meu desalento, dado que é o segundo ano consecutivo que não consigo visitar as galerias romanas.
Este ano foi GRITANTE a 'tampa' que nos deram como se diz na giria.
eram precisamente 10h da manhã do dia de hoje e estava na rua da Conceição à procura de um movimento de pessoas que não existia. Perguntei a um comerciante e encaminhou-me para um papel afixado do outro lado da rua que informava que por razões técnicas não haveria a visita.
Qual não é o meu espanto quando reparo num aglomerado de pessoas á minha volta surgidas do nada mas que andavam por ali, tal e qual como eu à procura de um movimento que não encontrávamos!!!!
Justificação de outro comerciante que ao ver a multidão veio explicar-nos que não tinham drenado a água.
A minha questão fica!!! Como se publicita um evento inserido nas jornadas do património que no final não executam. Quando à partida como uma data marcada sabiam que a água tinha de ser drenada! Em vésperas de eleições, que bonito senhor António Costa... precisa de mais funcionários...? É o respeito que tem pelos Lisboetas e pelas pessoas que fizeram 300km depois de contactar directamente a CML para confirmar a data e não se deslocarem em vão.
Enfim... só queria partilhar oo meu desalento.
Micaela Santos
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