quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Capela de Santo Amaro, obrigado jornal "i".

Lisboa SOS contactou alguns órgãos de comunicação sobre o caso da Capela de Santo Amaro. O jornal «i» interessou-se pelo caso (obrigado!) e fez a seguinte reportagem:

Graffiti: ninguém tem solução para igrejas degradadas
por Marta Cerqueira.



Entidades competentes não se entendem quanto à responsabilidade das obras de restauro do património.


"Continua a realizar-se a missa ao domingo e as pessoas ainda escolhem a Capela de Santo Amaro para casamentos e baptizados", explica ao i Sónia Salvado, proprietária do café vizinho à capela. Mas depressa riposta: "Está tudo degradado, é uma vergonha". Toda a sua família casou em Santo Amaro e Sónia não quis ser excepção, explicando, no entanto, que na altura a capela "não estava no estado degradado em que está hoje".

Não é preciso entrar no edifício - fechado quase toda a semana - para perceber que o lixo se tem acumulado e que o interior da capela tem servido de depósito para o grupo de escuteiros local.

O historiador Rui Ramos explica que este problema não é único, apresentando a igreja de Santo António em Campolide, Lisboa, e o Mosteiro de Tibães, em Braga, como exemplos de igrejas deterioradas, uma ainda em total estado de degradação e a última aberta ontem ao público, depois das muito reivindicadas obras. Para Rui Ramos, a extinção das ordens religiosas em Portugal no século XIX foi determinante para que alguns edifícios fossem vendidos a particulares ou simplesmente deixados ao abandono.

Igreja singular

Situada em Alcântara, a Capela de Santo Amaro foi edificada em 1549 e classificada como monumento nacional em 1910. A forma circular e os azulejos do século XVI que revestem toda a capela tornam-na num ponto de grande interesse na cidade, "mas muito mal aproveitado", considera o presidente da Junta de Alcântara. José Godinho garante que recebe constantemente queixas dos moradores e ele próprio já foi um dos queixosos: "A Capela de Santo Amaro é monumento nacional, mas não é tratado como tal", explicou ao i. José Godinho relembra que em 1992, com Jorge Sampaio como presidente da Câmara de Lisboa, a zona exterior foi reabilitada, com a aprovação de um projecto que permitiu a total remodelação do pavimento e a qualificação do átrio, mas a estrutura da capela foi ignorada. "É de extrema urgência a remodelação do espaço que devia ser paragem obrigatória nos circuitos turísticos da capital", salienta o autarca, aproveitando para sugerir a valorização do miradouro, devido à vista única da capela sobre o Tejo.
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Longo processo
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Fonte do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) explicou ao i que, actualmente, apesar de o último parecer sobre os projectos pertencer ainda ao instituto, todo o processo de qualificação e reabilitação de património é da competência da Direcção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo. Neste sentido, a direcção regional elaborou um relatório geral de intervenção para a Capela de Santo Amaro, a que o i teve acesso. O documento defende a substituição integral das coberturas degradadas e o restauro dos tectos. Para a parte exterior da capela, aconselha-se a remoção dos graffiti, o restauro dos portões e a remoção do revestimento e impermeabilização existente. O relatório já foi aprovado pelo IGESPAR, mas, segundo fonte próxima do processo, o problema prende-se com a falta de verbas.
A igreja não está afecta à direcção regional, ou seja, não está directamente sob sua tutela, o que condiciona ainda mais a angariação do dinheiro necessário para o restauro.
A mesma fonte explicou ao i que, em 1928, a capela foi reabilitada para culto, passando assim a estar sob responsabilidade da Igreja. Por sua vez, o padre João Valente, pároco na capela, garante que "têm sido feitos todos os esforços para a reabilitação do espaço", mas até ao momento não obtiveram respostas, remetendo a responsabilidade do restauro da Igreja para o IGESPAR e da zona envolvente para a Câmara Municipal de Lisboa.

Para explicar este pingue-pongue de atribuição de competências, Rui Ramos lembra um hábito que considera ser comum em Portugal: "O mérito da responsabilidade da obra toda a gente quer, mas a culpa da degradação, essa morre solteira."

Nota do Lisboa SOS: tudo isto não explica a acumulação de lixo e objectos no interior do edifício. O Padre João Valente devia explicar como permite tudo isso. Aí não entram responsabilidades do IGESPAR nem da Direcção de Cultura. Aí, é só mandar recolher a tralha. Quanto ao exterior, se houver problemas, o Lisboa SOS pinta as paredes de branco, é fácil - e barato. A remoção dos grafitos é coisa para irmos falando com as entidades competentes. Já contactámos o Pestana Palace Hotel, vamos falar com as empresas de remoção de grafitos. Do Patriarcado, ninguém respondeu. Do Corpo Nacional de Escutas, nada disseram. AJUDEM-NOS NESTA CAUSA!

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