segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Assinamos por baixo. Um texto notável.

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Lisboa e o logradouro da minha rua
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A minha rua é nas Avenidas Novas, em Lisboa. Um lugar a meio caminho entre a total terciarização - muitos prédios ocupados por escritórios - e um bairro de classe média. A planta geométrica abre espaços para jardins como o que fica entre a Igreja de Fátima e a Avenida Elias Garcia, com parque infantil e um espaço para as pessoas porem os seus cães a fazer as necessidades. Pois nenhum dono põe nenhum cão a passear onde devia, fazem--no na relva circundante, onde também nenhum pai já brinca com nenhum filho. Quando o jardim esteve quase abandonado e a junta de freguesia distribuiu folhetos a dizer que não tinha verbas para jardineiros, ninguém se mexeu para encontrar uma solução local. Nós, os que, de facto, usufruímos do jardim. Ficou assim mesmo até que a câmara fornecesse as tais verbas. Não saindo dos meus 500 metros quadrados de espaço vital tenho outra história urbana para contar: atrás do meu prédio havia um logradouro, com árvores, plantas e o que mais apetecesse aos moradores. Pois bem, desde há dois anos cresceu nos ex-quintais dos meus vizinhos de uma dezena de prédios um enorme barracão com telhado de zinco. Dizem-me que os moradores abdicaram do direito ao logradouro. E automutilaram a sua vista por uns trocos... A mim restou-me uma árvore e um cantinho de que um lar de idosos não abdicou. Eu penso nestas realidades do meu dia-a-dia de lisboeta, olho para os dois candidatos à Câmara de Lisboa e, além de ter pena deles, percebo que só queiram falar de números, orçamentos, dívidas... Essa linguagem os meus vizinhos percebem. E devem-se estar nas tintas se há projectos ou não para a cidade.
(in Diário de Notícias, de 1/08/2009).

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