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MERECÍAMOS MAIS
Qualquer estrangeiro que chegue a Lisboa fica esmagado. Tem tudo para ser perfeita. A luz, o clima, a topografia e as vistas que ela permite, os bairros antigos, o rio que é um mar... E, no entanto, para a maioria dos lisboetas é uma cidade desconfortável: a ditadura dos carros, os péssimos transportes públicos, a expulsão das classes médioas e dos jovens para as periferias, a burocracia insuportável dos serviços camarários, que torna qualquer projecto interessante num autêntico labirinto de impossibilidades, fazem de uma das mais belas cidades da Europa um lugar desaconselhável para viver.
Quase tudo isto resulta de décadas de falta de liderança política da cidade. E a razão é simples: a Câmara Municipal de Lisboa, pela sua relevância nacional, tem sido, para o PS e para o PSD, um simples trampolim de políticos, uma montra para o resto do país. Estas eleições autárquicas não são excepção: Santana tenta a sua sorte para regressar ao país, Costa coloca-se na grelha de partido para a sucessão a Sócrates, PCP e Bloco querem mostrar que estão, sem qualquer margem para dúvidas, na oposição ao PS.
Tenho de fazer aqui uma confissão: se é possível dizer assim, sinto-me, acima de qualquer coisa, lisboeta. Aqui estão os cheiros, as cores e as memórias de quase toda a minha vida. Por isso irrita-me tanto esta subordinação política da cidade às estratégias partidárias nacionais. (...) Por isso irrita-me que não haja um único político de qualidade que tenha como último objectivo da sua carreira ser presidente da Câmara de Lisboa. Merecíamos.
.Daniel Oliveira, «Expresso», de 1/8/2009
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