quinta-feira, 2 de julho de 2009

Entrevista ao «i».


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Lisboa SOS é blogue convidado do «i». Por ocasião do nosso primeiro aniversário, demos uma entrevista ao «i». Um exclusivo mundial:
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Como é nasceu o Lisboa S.O.S.?
O Lisboa SOS nasceu de um telefonema entre dois amigos. Um, estava no Lago do Campo Grande, a ver o lixo acumular-se nas margens. O outro, na Tapada das Necessidades, a contemplar o estado do jardim. Combinaram almoçar juntos, com os filhos. Mas onde, se um sítio estava pior que o outro? Pelo telefone, falaram do estado de Lisboa e da necessidade de fazer alguma coisa. Dois ou três dias depois, publicávamos a primeira imagem.
São mesmo o site com mais fotografias online de Lisboa? Quantas fotografias têm no vosso arquivo?
Julgamos ser, de facto, o blogue com mais fotografias de Lisboa, até porque o blogue assenta essencialmente na divulgação de situações através da imagem. É extremamente difícil quantificar, mas uma estimativa apontará para mais de 50 mil fotografias. Quem duvide, fazia-nos um grande favor: contar as imagens, uma a uma, e depois dizer-nos. Nós próprios temos curiosidade...
Porquê o anonimato?
É uma questão que nos tem sido colocada várias vezes, o que é compreensível, uma vez que, na blogosfera, o anonimato serve para dissimular intenções obscuras ou esconder agressões gratuitas. No nosso caso, entendemos que o blogue não devia ser de ninguém, mas de todos os que quisessem contribuir com fotografias. Teria que ficar muito claro que este blogue era aberto a todos, não era o «blogue de A» ou o «blogue de B». Havendo demasiado «umbiguismo» na blogosfera, a intenção de preservar o anonimato pode parecer estranha, mas é natural se pensarmos que o que queremos é que os protagonistas sejam todos os cidadãos. Sem conotações políticas, sem motivações partidárias, sem intenções ideológicas. Daí que cada vez mais estejamos a receber imagens ou denúncias de situações por parte de leitores, cidadãos anónimos.
Ao fim de um ano, quem vir o blogue com olhos de boa fé verá que não temos nenhuma intenção que não seja contribuir para uma cidade onde todos possamos viver melhor, com mais qualidade. Já tiveram casos de sucesso, em que as falhas apontadas no blog foram resolvidas pela autarquia?
Nas questões que suscitamos e que têm, por assim dizer, uma dimensão estrutural não existe qualquer alteração - nem tínhamos a esperança utópica que ela viesse a ocorrer. Questões como a preservação do património, a inclusão social, o combate sistemático à degradação urbana, a mobilidade, etc., não são passíveis de resolução desta forma. Quando muito, poderemos dar um contributo para que se crie entre os cidadãos o despertar de uma maior consciência para estes problemas. Como percorremos Lisboa de lés-a-lés, um cidadão consegue aperceber-se do estado geral da cidade e até conhecer locais a que nunca foi. O ritmo do quotidiano circunscreve os cidadãos ao percurso casa-trabalho e é essa ínfima parcela de Lisboa que os cidadãos geralmente conhecem. Este blogue pretende romper com isso. Essa ruptura, em si mesma, já é um elemento de consciencialização importante. Quanto a mudanças concretas, a um nível menos estrutural, existe um conjunto de arranjos em diversos pontos da cidade para os quais o alerta dado pelo Lisboa SOS pode ter contribuído, em especial ao nível das freguesias. Mas não nos atrevemos a afirmar que foi directamente por influência nossa que tal aconteceu.
O papel da blogosfera na sociedade também passa por denunciar?
A blogosfera passa por tudo o que os autores quiserem. É a liberdade feita caos. Daí a circunstância de nela encontrarmos o melhor - e o pior. Encontramos blogues informativos, com elementos rigorosos e úteis, blogues confessionais, que servem para exorcizarmos fantasmas íntimos, blogues interventivos, que não raras vezes alimentam desejos de protagonismo e de vedetismo. Obviamente, a denúncia de situações - e estamos a falar de situações que ocorrem no espaço público - inscreve-se na lógica dos blogues. Os blogues são até, porventura, o instrumento que melhor serve esse propósito. O Lisboa SOS não tem intuitos «pedagógicos», mas visa, de facto, denunciar situações que devem ser corrigidas - pelos poderes públicos mas também por parte dos cidadãos.
O Lisboa S.O.S. é trabalho de um homem só ou trata-se de um trabalho de equipa?
Não, é um trabalho de equipa, uma equipa composta por 6 pessoas, das quais 3 contribuem mais activamente para o blogue, assumindo uma funções de alguma «coordenação». Mas isso vai acabar em breve. Dada a nossa recente aquisição da Microsoft e do IKEA, contamos ter 233.000 trabalhadores a tempo inteiro já a partir do mês de Agosto.
Um ano depois, valeu a pena?
Para quem faz o blogue, muitíssimo. Dá-nos muito gozo. Não é por masoquismo que passamos dias em locais degradados ou a fotografar sem-abrigo. Como não tínhamos qualquer ambição desmedida ou intenção política, para nós valeu a pena. Não por hedonismo ou diletantismo, mas porque acreditamos que este trabalho pode ir ajudando os cidadãos a perceberem que é necessária uma intervenção urgente ao nível da defesa do património histórico, apenas para dar um exemplo.
Que novidades podemos esperar nos próximos tempos?
Talvez uma das qualidades do blogue seja a capacidade de surpreender. Quando o consultamos, nunca sabemos o que vamos encontrar, se a história de uma pessoa, se imagens de um palácio arruinado, se o anúncio de uma iniciativa cultural. Não temos propriamente «novidades» porque a nossa lógica de trabalho não passa por uma programação de intervenções. Temos, em todo o caso, uma lista de sítios a que iremos em breve. Simplesmente - e gostaríamos de chamar a atenção para este ponto - torna-se cada vez mais difícil fotografar em Lisboa, em plena rua, nos espaços públicos. Mesmo quando não captamos imagens de pessoas. Os entraves burocráticos ou «securitários», o medo e a insegurança também se projectam na dificuldade do nosso trabalho. Os lisboetas estão cada vez mais fechados e desconfiados. Sentimos isso porque há muitos anos que fotografamos Lisboa. Até nisso, a situação tem vindo a piorar.
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1 comentário:

MouTal disse...

Se há lisboetas que mereçam o carinho dos "alfacinhas",são vocês.
O vosso trabalho bem merecia a "medalha de ouro" da cidade,só que o poder político não gosta de blogues e muito menos dos que lhes apontam as falhas.
Um abraço para todos.