Ele é que é o Presidente da Junta.

Mão amiga descobriu (numa carruagem de metro) e disponibilizou o poema que a seguir se reproduz. O dactiloscrito tem como título «Ele é que é o Presidente da Junta», mas não refere o autor. A quadra de refrão sugere a intenção de musicar o texto, possivelmente sob a forma de fado vadio. O Lisboa S.O.S. orgulha-se de apresentar, em estreia mundial, mais uma contribuição para o «kitsch» de Lisboa, da autoria de um anónimo herdeiro de António José. Bem hajam.

A abstenção é inimiga da democracia,
Já dizia o senhor conde-barão,
Votem todos no Marcolino Tancredo,
Ou arriscam-se a levar com o bordão.

Que ele é sério e amigo do povo,
É observável e comove o coração,
Com o cabelo sempre penteado,
É das mães grande predilecção.

Ele é que é o Presidente da Junta,
Da Junta ele é a Salvação,
Ele é Marcolino Tancredo,
Dá aos pobres mas tira com uma mão.

Andava eu pela Mouraria,
Ali pela rua do Capelão,
Encontrei da Junta o Presidente,
Que me disse em jeito de confissão:

O povo está habituado a sofrer,
É o seu fado, a sua condição,
Mas estou aqui para o servir,
Com vinho e sardinhas em profusão.

Ele é que é o Presidente da Junta,
Da Junta ele é a Salvação,
Ele é Marcolino Tancredo,
Dá aos pobres mas tira com uma mão.

Dito isto afastou-se ligeiro,
Apertando uma ou outra mão,
Marcolino é político verdadeiro,
Marcolino é um verdadeiro maganão!