domingo, 12 de abril de 2009

O 20 da Rua das Chagas.


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A Rua das Chagas começa na Travessa do Cabral e Rua do Ataíde e termina no Largo do Calhariz. É servida por duas freguesias: a de São Paulo com todos os números ímpares sendo os pares do 2 a 8, a da Encarnação do número 10 em diante.
Situada numa zona típica de Lisboa, começa na chamada encosta das Chagas. Como ponto de referencia tem a Igreja das Chagas, fundada no ano de 1542 por pilotos e mestres da carreira das Índias.
Segundo a lenda (ao que parece, sem fundamento) terá sido nesta Igreja numa sexta-feira de cinzas de 1542, que Camões viu pela primeira vez Natércia, dama da Corte por quem se enamorou.
Tinha esta Igreja uma torre alta no flanco e um aspecto imponente. O terramoto de 1755 destruiu-a por completo, sendo depois reedificada como hoje se apresenta, mais pobre, mas alegre.
Outrora, o adro desta Igreja foi um esplêndido miradouro de Lisboa, estando actualmente cercado de edifícios. Antigamente este adro das Chagas era tão frequentado como é hoje o Jardim (miradouro) da vizinha Santa Catarina mas um prédio, embora não muito alto, roubou o maior encanto ao sítio.
Diz-nos Júlio Castilho na sua obra Lisboa Antiga (Bairro Alto),Volume II, página 237: «Em 1898, se não me engano, consentiu a Câmara, por motivos decerto muito transcendentes, mas que ficam desconhecidos, um roubo artístico a um dos mais belos miradouros de Lisboa: permitir a elevação de um grande prédio do Pátio do Pimenta, por forma que interceptou a vista por sueste. Não creio que andasse bem, nem o proprietário pedindo a licença, nem a Câmara concedendo-a. Ao interesse financeiro de um influente político o senhor Conselheiro José Dias Ferreira, submeteram-se considerações de ordem mais nobre: os direitos do Belo». A vereação que concedeu a licença praticou o sacrilégio, lá diz o autor de "Lisboa Antiga" «Enfim se o público perdeu uma parte do espectáculo o inquilino do dito proprietário ganhou-o».
A Rua das Chagas vem desde a Igreja reconstruída após o terramoto, com características diferentes das anteriores, até ao Largo do Calhariz ficando-lhe fronteiro o Palácio do Calhariz (hoje C.G.D.).
Prédios altos ladeiam aquela artéria, outrora sossegado retiro, com seus declives que vão dar à Bica. Numa das suas esquinas existe um Palácio com alguma história, ali residiu o notável artista (na época), que foi o Marquês da Foz cujo Palácio dos Restauradores bem demonstram o seu gosto e valor. Era descendente da família do general liberal Gil Guedes que foi companheiro de D. Pedro. Seu filho, o Conde da Foz, falecido em 1944, nunca renegou as ideias dos antepassados e era uma personalidade por todos os títulos, digna de apreço.
Desde 1918 que funcionam no (Palácio Viana ou Palacete das Chagas) as aulas do Instituto Comercial de Lisboa, que anteriormente faziam parte do Instituto Industrial e Comercial no Conde Barão. A secção Industrial foi transferida para a Rua de Buenos Aires.(1)
Também na Rua das Chagas, no número 16, rés-do-chão, residiu Dona Carlota de Serpa Pinto, ilustre escritora que sob o pseudónimo de «Clarinha» publicou verdadeiras obras-primas epistolares. Filha do pioneiro de África, Visconde de Serpa Pinto, cujo nome ficou universalmente conhecido depois da travessia do continente africano.
Na mesma Rua do prédio que tem o número 35, esteve instalado durante vários anos o Clube dos Cem à Hora. Também no número 9 existiu a "Photografia Fillon" de Henrique Nunes, fotógrafo de suas Majestades e Altezas. Nasceu em 1820 e faleceu em 1895. Foi editor da série «Monumentos Nacionais»(1868).(2)
Foi na Rua das Chagas no número 20 rés-do-chão e primeiro andar esquerdo, esquina para a Rua da Horta Seca, que esteve instalado durante largos anos (até à sua transferência para a Rua Castilho, nos anos 70 do século passado) o MOBIL CLUBE, S.C.R.L.. Clube ligado à Mobil Oil Portuguesa, S.A.R.L. que além de um bom refeitório, cantina, bar, sala de leitura e de jogos, prestava todo o apoio aos empregados da "família" MOBIL, tanto na parte de lazer como económico e financeiro.

(1) - Lisboa de Ontem e de Hoje - Rocha Martins - ENP 1945, páginas 82 e 83.
(2) - Lisboa Desaparecida Nº 7 - Marina Tavares Dias, página 53.

(informação retirada do excelente blogue «Ruas de Lisboa com História»: http://aps-ruasdelisboacomhistria.blogspot.com/).
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Rua das Chagas, nº 20.

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