sábado, 14 de março de 2009

Varina da Madragoa.


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Que não nos leve a mal o proprietário do restaurante «Varina da Madragoa» por usarmos o nome do seu estabelecimento como título desta amistosa reportagem.
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Que não nos leve a mal David Mourão-Ferreira, mas veio-nos à cabeça o seu poema «Maria Lisboa». Neste caso, deveria ser Maria Luísa, que vende peixe no coração da Madragoa. Ei-la, simpática e afectuosa, a Maria Lisboa possível da primeira década do século XXI:

É varina, usa chinela,
Tem movimentos de gata
Na canastra, a caravela,
No coração, a fragata
Na canastra, a caravela,
No coração, a fragata
Em vez de corvos no xaile
Gaivotas vêm pousar
Quando o vento a leva ao baile,
Baila no baile com o mar
Quando o vento a leva ao baile
Baila no baile com o mar
É de conchas o vestido
Tem algas na cabeleira
E nas veias o latid
Do motor duma traineira
E nas veias o latido
Do motor duma traineira
Vende sonho e maresia,
Tempestades apregoa,
Seu nome próprio - maria,
Seu apelido - lisboa
Seu nome próprio - maria
Seu apelido - lisboa
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Tanta poesia por causa da peixaria da Dona Maria Luísa, «Luisinha» para os fregueses mais assíduos»? Sim senhor, tanta poesia. Já não há varinas.
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Mas o naïf continua no ar, isso é que importa. Maria Lisboa, pois.
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A ASAE até quis proibir a Luisinha de ter consigo os objectos da sua devoção.
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Que mal fará o Doutor Sousa Martins à qualidade e frescura do pescado?
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Amanhar peixe não é para todos. Que a Virgem de Fátima e o Doutor Sousa Martins acompanhem, por muitos e bons anos, a Senhora Maria Luísa.
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Ele é santos e imagens por toda a parte. Se é para continuar aberta a porta da pequena peixaria, todas as preces não serão demais. O pessoal dos hipermercados pode ter peixinho muito bonito, mas Maria Luísa tem a seu lado Nosso Senhor Jesus Cristo, a Virgem de Fátima e o Doutor Sousa Martins. Em tempos de crise, é ajuda que sempre ajuda.
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