sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Nelson.


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Esta tarde pus-me a caminho da Curraleira. Há gostos para tudo. Subi a um monte, nas traseiras do Cemitério do Alto de S. João. Um vulto, agachado. Curvado sobre si mesmo. Ao fundo, os jazigos. Quem jaz aqui? Aproximei-me.
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Quem aqui está junto àqueles que morreram pela Pátria? Por quem, ou por quê, morrerá esta sombra de gente?
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Nelson. Falámos longamente, sentados juntos no alto do monte. Enquanto isso, Nelson consumia heroína. Não se injecta. Só fuma. «Mas a ressaca de fumo é muito pior». Nelson tem 35 anos. É da Foz do Arelho. Acabara de comprar a droga na Curraleira. Compra também no Intendente, na Cova da Moura, por onde anda. Falámos muito tempo, os dois sentados ali. Mostrou-me com orgulho o bilhete de identidade. Já esteve preso duas vezes: uma, por tráfico; a outra, por roubo. Tinha feito a barba, agora queria ir tomar banho à Alameda. Já esteve três anos sem consumir. Recaíu. «Isto é como uma tatuagem que se cola ao corpo». Uma tatuagem. A antiga companheira, com quem viveu e a quem quer bem, livrou-se da tatuagem. Antes disso, consumiam os dois. Ela prostituía-se no Intendente. «Era bonita». E agora está bem, tem um jipe e tudo. Livrou-se da droga. Nelson, não.
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Ao fundo, os jazigos. Nelson e a companheira tiveram um filho, mas ela abortou espontaneamente. «Foi melhor assim».
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Foi melhor assim.

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