domingo, 2 de novembro de 2008

Os Columbófilos dos Barbadinhos.


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Na Lisboa oriental, um jogo de futebol. Ao fundo, uma fieira de casas destaca-se pelas cores.
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De quem são estas casas, tão arranjadas, pintadas, impecáveis? Três blocos de apartamentos, de quem?
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Um pombo aproxima-se.

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Nós aproximamo-nos também. São muitos pombos.
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Muitos, mesmo. Em casas coloridas.
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Se lhe dissermos que aqui há muitos pombos, acredite em nós.
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São columbófilos. Os columbófilos dos Barbadinhos.
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Aqui existem nove amantes da columbofilia. Há quem goste de pescar no Tejo. Outros esperam o ano inteiro pelo Salão Erótico. Desgraçam-se famílias por conta do jogo ou do vinho. Ele até há gente que gosta de passear no Colombo. Estes, gostam de pombos. E pertencem à Associação Columbófila de Lisboa.
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Mas não de quaisquer pombos. Pombos especiais, aristocratas da espécie pombalina.
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Os columbófilos não gostam dos pombos da cidade, sujos, portadores de doenças. Nós também não.
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Lembram-se daquele dito medieval, «o ar da cidade liberta»?
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De facto, numa cidade há liberdade. Para ser amante de pombos, de peixes de aquário, para coleccionar caixas de fósforo. Para ir ao Salão Erótico. Ou até ao «Roadshow», na Avª da Liberdade. Liberdade urbana. Para fazer tudo. Até para ficar em casa a ver blogues de extraordinária qualidade.
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A columbofilia é um «hobby» exigente. Como o hipismo, exige transporte adequado.

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Mas eles merecem, os nossos príncipes.
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Os columbófilos dos Barbadinhos também gostam de conforto.
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Num anexo, construíram uma casa-de-banho. Limpíssima, impecável.
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Queixam-se de que os moradores ali perto não os compreendem. Queixam-se que alguns toxicodependentes vão para o espaço que tão carinhosamente arranjaram e ali matam o vício.
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Bem, isto também é um vício...
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Mas saudável. Aparentemente, tudo saudável.
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Impressiona o cuidado que os columbófilos têm no arranjo deste espaço.
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São orgulhosos dos seus pombos, que enviam até Espanha. E eles regressam de Saragoça até aos Barbadinhos!
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Têm tudo limpíssimo. Isto é uma residencial de luxo. Usam termos estranhos, como «viúvos», «xadrez», para designar o que para nós, um pouco leigos nas artes da columbofilia, seriam simples poleiros.
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Os columbófilos dos Barbadinhos amam, mas amam de verdade, os seus pombos. São correspondidos.
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Este é o Sr. João Manuel, o primeiro columbófilo com quem falámos. Nunca tínhamos estado tão perto dum columbófilo.
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Fez questão em nos mostrar o local onde dormem os seus pombos.
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O Sr. João Manuel.
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Poleiros? Não: isto tem termos técnicos complicados. Aqui respira-se sofisticação.
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E charme.
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Tropeçar nestas glamourosas gaiolas, assim de repente, sem planear nada... Adoro esta cidade.
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Os columbófilos gostam de competir e ganhar taças.
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Reparem o orgulho do Sr. João Manuel a mostrar-nos uma taça que conquistou.
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Sr. João Manuel, columbófilo dos Barbadinhos.
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Agora, reparem na taça. O Sr. João Manuel fazia gosto que reparassem na taça. É dele.
("La Muela - Espanha" Stª Engrácia -Lisboa 1º Classificado Oferta da J. F. de Stª Engrácia)
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Mas há muitas taças por aqui. Talvez mais taças do que pombos. E olhem que pombos por aqui há muitos.
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Bem alimentados.
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E, claro, quem gosta de pombos gosta de aves. Os pombos são aves.
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Periquitos dos Barbadinhos. Adoro viver nesta cidade.
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Este é o Sr. José Manuel Gonçalves, outro columbófilo dos Barbadinhos.
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Os pombos dos Barbadinhos bebem chá. Já dissemos que, por aqui, o ambiente é requintado.
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O Sr. José Manuel Gonçalves está a fazer obras. Sempre. Para manter tudo impecável. Queixa-se do gasto que tem nesta paixão. «É uma coisa para ricos feita por pobres», diz. Pois é, Sr. José Manuel, as paixões são caras. O amor tem sempre um preço.
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Mas reparem se não vale a pena o sacrifício?
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Qualquer semelhança com os pombos de cidade é mera coincidência. É assim a modos como comparar o António Costa com o Tierno Galván, percebem?
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Pedro Gonçalves, filho de José Manuel Gonçalves. Segue as pisadas do pai. Filho de pombo sabe voar. Uma promessa da columbofilia nacional.
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Contempla os céus com orgulho. Os céus são seus. Um passatempo inofensivo, saudável. Gente boa.
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Gente que aquece chá para pombos em grandes panelas. Não pode ser gente má.
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Os pombos, esbeltos, elegantes, correspondem ao carinho dos donos. E, de longe, trazem taças.
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1 comentário:

VLFR disse...

Por casualidade dei com esta "reportagem"... faltou dizer algumas coisas: é o 2.º desporto com mais praticantes em Portugal; que estivemos e estamos por muito mais vezes que no futebol em termos mundiais (olimpicos)nos lugares cimeiros, sendo vice campeões e campeões em anos passados; que a maior parte dos nossos adversários mundiais são profissionais e nós amadores; que com este desporto pode aprender-se muito; que o pombo é o animal em Portugal com Lei própria; e muito mais haveria a dizer!