sábado, 15 de novembro de 2008

Histórias vulgares: Gandelina Damião.



Ao subir o Alto do Varejão.



Encontrámos uma mulher. Gandelina Damião.
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Nasceu em Lisboa. Há quanto tempo? Não se pergunta.



Nasceu no Alto do Pina. Viveu na Curraleira.
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Mas há muitos anos está aqui. Dezenas de anos. No nº 28.



Quis-nos mostrar onde vive.
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Ou, se quiserem, como vive.
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Com o marido. Que estava deitado.
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Teve nove filhos.
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Uma família.
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Quatro filhos morreram. Uma, afogada. Outra, de cancro. Os rapazes, da «doença da moda», diz eufemisticamente Gandelina Damião.
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A sala.
Pediu desculpas por morar onde mora.

A sala.

Já o dissemos: uma família.

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A sala.
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Tentou arrumar a mesa da sala. Em vão.
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A cozinha.
A cozinha.
A cozinha.
Um quarto.
Um quarto.
Um quarto.
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Gandelina Damião estava com pressa. É mulher a dias. E hoje é sábado, dia de trabalho.
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Por trás da cortina, dorme o marido. Um rol de doenças.

Saímos do quarto.
Regressámos à cozinha.
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Regressámos à cozinha.
Saímos da cozinha.
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E regressámos à sala. Era tempo de despedida. Gandelina Damião veio à porta dizer adeus.

1 comentário:

Mowack disse...

As làgrimas que não me deixam!!

Raio de sociadade,fui eu de forsa para a tropa defender o indefendavel