Depois do Museu Berardo e do Museu do Oriente, Lisboa está de novo nos roteiros artísticos internacionais.
O pólo do Campo Grande do Museu Pós-Industrial de Arquitectura Apocalíptica (MiuPIAA) é um espaço museológico exemplar. Conhecido como «Estação Intermodal» do Campo Grande, o museu é usado diariamente por milhares de pessoas.
«Usado» é o termo certo, pois o princípio conceptual do museu assenta numa dinâmica interpessoal em que as barreiras convencionais entre «artista/ produtor» e «espectador/ consumidor» são subvertidas.
O visitante é convidado a deixar a sua marca crítica no espaço arquitectónico do museu, desmistificando a noção académica e passadista de «conservação».
Ao visitante é conferida a possibilidade de «agir» sobre o espaço. O objectivo é a reunificação do Homem «cidadão» e do Homem «arquitecto».
O Museu Pós-Industrial de Arquitectura Apocalíptica aposta num «mecenato inteligente de valor diferenciado» (cf. MELRO, Alexandre, Amanhã Hoje. Vila Nova de Famalicão: doimprovável, 2008). Assim, empresas como a Cemusa e a Dior participam na interpretação do devir histórico.
Conceitos como «indústria», «produção», «consumo» são justapostos a exibições pungentes de degradação.
De forma arrojada e inovadora, o lixo e o ácido úrico limitam tacitamente o percurso do visitante.
A desolação dos edifícios abandonados...
... e a escala dos vãos abertos interpelam espiritualmente o espectador, convidando-o à contemplação.
Os «néons» reificam (sem, todavia, legitimar) a juventude perdida nos salões de jogos.
As janelas abertas, porém gradeadas, são monumentos às oportunidades que, estando ao alcance da mão, nunca são concretizadas. Ou, como lembrou Camões, «Tra la spica e la man qual muro he messo».
Finalmente, uma nota de apreço pela memória histórica do MiuPIAA que, num gesto de humildade, presta homenagem ao seu congénere do Parque do Monteiro-Mor: o Museu Nacional do Traje.
2 comentários:
Gostei mais uma vez deste 'post'. É inovador, se é que inovação existe, e o t+ítulo deveria ser registado, pelo menos para memória futura. É uma reportagem de mestre. Parabéns. Continuação do bom trabalho...
Este poste está espectacular!
É de facto o Museu Vivo que gerações e gerações reclamaram...
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