segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Na Calçada do Monte, a «Junta Aberta».

Na Calçada do Monte, aos 5 do corrente mês de Setembro, decorreu uma histórica reunião da Junta de Freguesia da Graça. Os jornais «de referência», obviamente, deixaram passar em claro este histórico acontecimento. De facto, é a primeira vez que uma autarquia decide adoptar o modelo das «presidências abertas», inaugurado pelo Presidente Mário Lopes Soares. A iniciativa, designada «Junta Aberta», teve lugar, como já se referiu nesta peça, na Calçada do Monte. A ela compareceram, por esta ordem de precedências protocolares:

O PRESIDENTE DA JUNTA

ANTÓNIO PAULO QUADRADO AFONSO
Pelouros: Serviços Administrativos, Coordenação Geral, Acção Social (Infância e 3ª Idade) e Recursos Humanos.

O SECRETÁRIO DA JUNTA

MIGUEL JOSÉ FRANCISCO EMÍDIO SILVA PESSANHA
Pelouros Obras, Sanitários, Espaço Público, Espaços Verdes e Ambiente.

O TESOUREIRO DA JUNTA

ALEXANDRE BERNARDO MACEDO LOPES SIMÕES
Pelouros: Trânsito, Transportes, Estacionamento, Segurança e Informação (Boletim).

A 2ª VOGAL DA JUNTA

LINA MARIA SOARES ALVES RAMOS
Pelouros: Cultura, Saúde e Educação (Escolas).

Nota: o 1º vogal da Junta, PEDRO MIGUEL DA CRUZ SILVA DE JESUS, com os pelouros do Desporto, Colectividades e Junventude, não pôde comparecer, por razões alheias à sua (e à nossa) vontade. Mais concretamente, na informativa página na Internet da Junta da Freguesia da Graça não é possível obter uma foto tipo-passe do 1º vogal, o que nos obrigou a fazê-lo sair de cena.



Antes da ordem de trabalhos, um ponto prévio: quem ficaria com a melhor cadeira? Nos termos legais, a mesma caberia, por direito próprio, ao Senhor Presidente da Junta. Sucede, porém, que o Sr. António Quadrado, todos o sabemos, é um bom coração. Prontamente cedeu o lugar cimeiro ao Secretário da Junta, Sr. Miguel Pessanha. Para esta decisão concorreram essencialmente, ao que conseguimos apurar, três razões: a senioridade do Sr. Miguel Pessanha, forma eufemística de dizer que o Secretário da Junta é um tudo nada mais entrado nos anos do que o Presidente; a circunstância de a reunião decorrer num aprazível espaço verde, o que constituiu uma forma de homenagear a acção do detentor desse pelouro, que é, já o dissemos, o Sr. Miguel José Francisco Emílio Pessanha; por último, last but not the least, a persistência de diferenciações de «status», numa perspectiva weberiana, forma algo rebuscada de afirmar que o apelido Pessanha é um tudo nada mais glamoroso do que Quadrado (isto sem qualquer ofensa para a família Quadrado, a qual, como é sabido, ombreia em pergaminhos de fidalguia com os vetustos Rectângulos e os não menos ilustres Triângulos Isósceles).



Para evitar a presença de intrusos, também conhecidos por «fregueses» ou «cidadãos», que gostam de se imiscuir nos meandros da alta política sem possuírem a necessária formação para o efeito, decidiu a Junta não permitir a utilização deste banco popularucho corrido, o qual foi delicadamente esticado ao comprido.



Ficou assim montado o cenário para esta reunião histórica, a qual teve lugar, não cansamos de o repetir, na Calçada do Monte, Freguesia da Graça, em Lisboa, aos 5 de Setembro do ano de 2008. O dia amanheceu algo cinzento, mas, quando tudo parecia indicar que a iniciativa «Junta Aberta» seria comprometida pela sempre imprevisível meteorologia de Setembro, o astro-rei deu um ar da sua graça - ou não estivéssemos numa freguesia que ostenta esse nome. E que, mais do que Graça, é muito engraçada.



«A Graça já foi "local de bons ares"», diz a página oficial da Junta, disponível in http://jf-graca.homelinux.com/ . O ambiente bucólico que rodeou esta cimeira autárquica demonstra que os ares da Graça continuam muitíssimo bons. E, mais do que isso, que os Portugueses podem continuar a usar tranquilamente o coloquialismo «ar da sua graça». Agora, dizer que só no passado a Graça tinha «bons ares», e logo na página oficial da Junta, é algo que só pode atribuir-se a um excesso de modéstia, perfeitamente injustificado.



Por razões de segurança, foi omitida na placa qualquer referência à realização da «Junta Aberta». António Quadrado, Miguel Pessanha, Alexandre Simões e Lina Ramos são personalidades políticas de primeiro plano, pelo que todos os cuidados são poucos quando se trata de garantir a sua segurança pessoal. Obcecados que andamos com o «carjacking» e o «caso Maddie», é preciso não esquecermos que organizações como a Al-Qaeda continuam em actividade e que qualquer atentado à integridade física daquelas personalidades seria, sem dúvida, um acontecimento de projecção mundial. Nós, Portugueses, tendemos a desvalorizar esta questão da segurança, ainda acreditando que vivemos num «país de brandos costumes». Até certo ponto, é verdade. Mas é preciso ter a percepção da dimensão das coisas e, de facto, esta iniciativa «Junta Aberta», até pelo seu significado histórico, prestava-se a uma acção espectacular de organizações criminosas que operam à escala planetária.



Em primeiro plano, o serviço de «catering» que apoiou o encontro. Ao fundo, num pinheiro manso, um baloiço em madeira, que, permitam-nos a inconfidência, fez as delícias da 2ª vogal, a Srª Lina Maria Soares Alves Ramos, a qual por momentos se sentiu transportada aos tempos da sua não longínqua mocidade.



Estando disponíveis nada menos do que quatro mesas de trabalho, de diferentes épocas e estilos, foi difícil obter um consenso na escolha do mobiliário. Para evitar controvérsias desnecessárias, optaram os participantes por reunir em todas as mesas. «Sendo nós quatro, cada um fica com uma», foi o lema democraticamente adoptado, mas sem cedência a populismos fáceis ou demagogias de ocasião. Eis um exemplo raro na vida política portuguesa: a capacidade de ultrapassar as querelas artificiais que tanto prejudicam o desenvolvimento do País num mundo globalizado e altamente competitivo.


No comunicado final, distribuído à imprensa nacional e aos correspondentes estrangeiros, não constava a ordem de trabalhos. Mas, por certo, ficou aprazado novo encontro. É que, numa breve inspecção ao local, Lisboa SOS não detectou os tão habituais vestígios de brasas e assaduras, ora da sardinha viva, ora da febra de porco. E reunião de Junta sem febras de porco não é reunião de Junta, somos forçados a dizê-lo. Um ponto a corrigir no futuro. A próxima «Junta Aberta» não está ainda agendada. Mas é bem provável que uma «Junta Aberta» tenha lugar já em 2009, por altura das eleições autárquicas. Na verdade, quem deixa chegar a este estado aquilo que até há uns anos foi um relvado, bem merece ir pregar para outra freguesia. Lá engraçados, são. Graça, não têm nenhuma.

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