Rua do Norte, Bairro Alto
Os tags que percorrem as paredes do Bairro Alto nada respeitam. Não respeitam aqueles que visitam o bairro, nem os que nele habitam. Não respeitam as gentes, nem o seu património, nem os comerciantes e os seus estabelecimentos. Não respeitam os que já vivem e trabalham há anos no bairro, nem os que ainda agora chegaram e nele começaram a habitar e a investir. Não respeitam o mobiliário urbano que a todos pertence, nem a sinalética que a todos serve. Não respeitam a identidade cultural de um bairro, forjada ao longo de muitos e muitos anos.
.Os tags que percorrem as paredes do Bairro Alto nada respeitam. Não respeitam aqueles que visitam o bairro, nem os que nele habitam. Não respeitam as gentes, nem o seu património, nem os comerciantes e os seus estabelecimentos. Não respeitam os que já vivem e trabalham há anos no bairro, nem os que ainda agora chegaram e nele começaram a habitar e a investir. Não respeitam o mobiliário urbano que a todos pertence, nem a sinalética que a todos serve. Não respeitam a identidade cultural de um bairro, forjada ao longo de muitos e muitos anos.
Bairro Alto e Viaduto de Sete Rios , 2008
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Recentemente, veio de novo à conversa se os graffitis seriam arte ou vandalismo. Não quero ir por aí. Caminho tortuoso esse, o do que é ou não é arte. Se virmos de um determinado ângulo sou obrigada a concordar: é arte, ponto final.
Baixa-Chiado, 2008
Se apreciarmos a coisa de outro ângulo, tenho as minhas dúvidas. Os graffitis, os pochoir’s ou os tags são expressões distintas. Cada um representa e apresenta determinado conceito urbano. Ao contrário do que muitas vezes se pretende, os graffitis têm regras e têm limites. A sua expressão mais livre é ditada, no entanto, por modas e circunstâncias efémeras.
Se apreciarmos a coisa de outro ângulo, tenho as minhas dúvidas. Os graffitis, os pochoir’s ou os tags são expressões distintas. Cada um representa e apresenta determinado conceito urbano. Ao contrário do que muitas vezes se pretende, os graffitis têm regras e têm limites. A sua expressão mais livre é ditada, no entanto, por modas e circunstâncias efémeras.
Graffiti, Estrada das Laranjeiras 2008
.Pochoir, Miradouro da Graça 2008
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Tags, porta no Bairro Alto, 2008
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Os tags também procuram demarcar um território, mas têm uma menor preocupação estética. É fundamental uma ocupação efectiva do espaço e, por isso, a maior parte das vezes as mensagens ou assinaturas acabam por ser indecifráveis. O território acaba por ficar descaracterizado por saturação e por excesso.
.Tags. nas paredes exteriores de um estabelecimento comercial do Bairro Alto.
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Graffiti, Cabo Ruivo 2008
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Gritos ou manifestações de revolta. Tentativas de integração que se manifestam nas paredes das cidades para chegarem aos outros. Afinal, como aconteceu depois do 25 de Abril com os murais ou com as mensagens de todos os quadrantes políticos.
.Mural na Av. 24 de Julho Alcântara anos 70
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Mensagens políticas nas paredes, Rua do Alecrim ao Largo Luís de Camões 1976
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Os tags não são melhores nem piores que essas expressões, esses murais das revoluções, nem do que as manifestações underground dos graffitis ou as técnicas mais «feminizadas» e «burguesas» dos pochoirs.
Concordamos todos com as diferenças que existem em expressarmo-nos na parede de um prédio devoluto para demolição ou fazê-lo numa propriedade pública ou privada em boas condições, seja ela património cultural ou não. O problema apresenta-se quando violamos um espaço que não nos pertence. Eu própria reconheço e confesso algum fascínio por esta forma de expressão, artística ou não, mas convenhamos que o que estão a fazer ao Bairro Alto é conspurcá-lo. Não é arte, ponto final. É barbárie, ponto final. E isto vale para o resto da cidade.
Restaurante na Rua Diário de Noticias, 2008
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Os pochoirs do graffiter Dalaiama ou aqueles que Graffitó e Angel fizeram no Bairro Alto dos anos 70/80, têm, tal como os graffitis ou os tags, o mesmo “estatuto artístico”. Este “estatuto artístico” não pode ser sujeito a critérios de legalidade ou de ética, nem tão-pouco a critérios de “bom gosto”.
Dalaiama, Baixa Chiado 2008
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"Com uma obra transversal na cena urbana, este artista procura oportunidades de intervenção ao nível do graffiti bombing, bem como de criação de stickers, colaborando com vários artistas da grande Lisboa, por exemplo Crew L, permitindo uma difusão do trabalho por Lisboa, Cascais, Estoril e Margem Sul. Destaca-se a atitude corrosiva presente em toda a linha de imagem com fortíssimos traços de intervenção político-social." (in Museu Efémero)
Graffitó, Bairro Alto 1979
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Alguns entendem os graffiters como gente de poucos recursos. Como em todas as formas de expressão, isso tem dias.
.Alguns entendem os graffiters como gente de poucos recursos. Como em todas as formas de expressão, isso tem dias.
Bed Wow 123, Alemanha
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Graffiti no Seixal Foto@Lusa/Inácio Rosa
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Um jovem pinta um graffiti integrado no projecto a decorrer no Seixal onde vários jovens pintaram o muro de uma antiga fábrica de cortiça para mostrar que o "graffiti", vulgarmente associado a actos de vandalismo, é também arte.
.Um jovem pinta um graffiti integrado no projecto a decorrer no Seixal onde vários jovens pintaram o muro de uma antiga fábrica de cortiça para mostrar que o "graffiti", vulgarmente associado a actos de vandalismo, é também arte.
Freemantle, pochoir, Calçada da Glória 2008
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Freemantle é um grupo francês que efectua stencils de grandes dimensões. A obra que estás a ver foi realizada em Outubro de 2006. "O grupo Freemantle está ligado intrinsecamente ao mundo do skate, de tal forma que fez desenhos para várias linhas de tábuas. Para além disso, foram cabeça de cartaz da Spin Collectif, exposição francesa de design e venda de caixas para vinil." (in Museu Efémero)»
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Pochoirs de Nemo, Lisboa 2005
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Mural do PCTP/MRPP
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Pochoirs de Nemo, Lisboa 2005
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Mural do PCTP/MRPP
Dolk, Rua do Norte, Bairro Alto 2007
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«Coolture utiliza para os seus trabalhos o stencil, o catalão, natural de Barcelona, colabora com Olivia e a equipa Dalaiama, entre outros, para realizar trabalhos em Lisboa e na Margem Sul. Como dinamizador do núcleo disfusor.org, Coolture actualmente busca não apenas a rua para expor a sua arte, como procura também formas de a legitimar publicamente perante os agentes que administram os núcleos urbanos.» (in Museu Efémero).
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Esta história nunca acaba... (Fim)
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8 comentários:
No último fim de semana passei pelo bairro alto e na realidade aquelas paredes são uma vergonha para um local histórico como aquele, será que não puderá haver fiscalização em condições para evitar aquilo.
Era bom que aquele bairro voltasse a ser um local "giro" para visitar ou viver.
acho um exagero o ataque brutal que se faz ao graffitti também (uhhh tem que se limpar tudo, isto é totalmente não inteligível para o meu limitado cérebro). acima de tudo devia era haver equilíbrio nas coisas. o bairro por exemplo é um sítio que se transfigurou brutalmente à pala do graffitti, e em muitas maneiras pode ser considerado parte da cultura viva. Agora o bairro "giro", nunca foi, não me venhas com tangas. aquilo sempre foi um escroto no centro de lisboa. Aliás, o bairro nunca esteve tão dinamizado como agora, e é devido À cultura que lá se infiltrou, do qual o graffitti inevitavelmente faz parte.
Ah e não curto de tags. mas pronto isso são coisas pessoais.
E entretanto, com as desculpas da limpeza (das várias, muitas - étnicas, estéticas, ...), da segurança e de mais não sei o quê, cerca de 1/3 do bairro alto está actualmente vendido e prestes a ser convertido num bairro de luxo, com edifícios "fancy", para aqueles que o puderem pagar.
Não tarda nada, temos merda da grossa. É um aviso.
Aquele é um dos poucos, senão o único bairro ainda com vida e com alguma dinâmica.
Mas os contratos multimilionários falam mais alto.
Neste momento:
- a proibição de venda a partir das 2 da manhã
- descontentes com a polícia, os comerciantes deixaram de lhes pagar à parte para policiarem e manterem o traficantes de parte
- constantes patrulhas por parte das forças de intervenção tornam o bairro num local bem mais agressivo
- edifícios prontos a construir assim que a crise do imobiliário amaine, a ver se a margem de lucro melhora
- autocarros nocturnos gratuitos, a ver se a maralha escoa
- a maralha que não só não escoa como tem ficado mais agressiva por deixar de ter um local onde curtir a noite.
Isto vai dar merda. Quem não quer ver, é cego.
Abraços
Achei engraçado a mostra de artistas, por uma pessoa q diz q não gosta do graffiti e q condena qualquer q seja o estilo (mas q ao mesmo tempo divulga). Confuso? Também achei.
O último artista não é Coolture mas Dolk mas o q é q isso interessa?
De qualquer maneira, parabéns pelo blog (excepto na temática graffiti) e pelo teu trabalho.
Não me parece de todo que a esta pessoa não goste de graffiti. Aliás, a qualidade da sua fotografia quase que impede que essa insensibilidade pudesse acontecer.
Quando diz que esta arte viola o direito da propriedade pública não percebo... Propriedade pública? Ou propriedade privada? Pública claro!... Estamos a falar da cidade que é de todos. É domínio público,... mas só de alguns? Dos artistas já não? Afinal quem é que faz a cidade se não as pessoas que dela participam. Claro que tudo isto é 1 questão de consciência e sensibilidade colectivas e ai, penso que alguns autores de tags pecam 1 pouco por falta dessa consciência, mas nem sempre. Acho que essa tensão entre o estado tranquilo da constituição física dos edifícios (edifícios limpinhos) e as exclamações sob a forma de tag dos "conspurcadores" pode ser benéfica nem que seja para que se chame as pessoas à atenção sobre o "como queremos viver a cidade".
Cumprimentos
Mas quando é que será que se deixa de confundir arte (grafiti) com rabiscos (tags)?! Qualquer gajo sabe assinar o seu nome (tag) numa parede mas não é qualquer gajo que sabe fazer uma grafiti!
Rabiscos, palavras soltas, nomes, palavrões, insultos, etc... ARTE? Essas coisas NÃO SÃO ARTE - NÃO SÃO GRAFITIS!
Aliás, esta diferença é bem visível nas fotografias do Post. Só não vê quem não quer! e o que me irrita é que ainda há imensa gente que não quer ver!! que chamam/confudem grafiti com rabiscos!
Nem quero saber se é arte aos olhos de uns, ou se é vandalismo aos olhos de outros.
Uma coisa eu sei é que o espaço público e agora também o espaço privado está a ficar conspurcado.
Eu, que fui em tempos um frequentador do bairro alto, a última vez que lá fui senti-me tão mal e desgostoso com o que vi, que nunca mais lá voltei.
É o resultado da mudança de valores, o que para mim um espaço limpo e agradável é um valor maior, outros há em que quanto mais “merda” os envolver melhor.
Tipo moscas, ora estão bem a alimentar-se, ora estão bem a curtir o sol numa qualquer superfície polida e limpa.
O que se vê por aí é bem o reflexo da falta de autoridade que se instalou na sociedade portuguesa, em que ninguém responde criminalmente pelos seus actos e quando isso acontece , raramente há consequências.
Se quando um borra paredes, paredes que não lhes pertence, lhes caísse pela cabeça a baixo um balde de tinta ou então ser obrigado a pintar tudo de novo, talvez pensasse duas vezes antes de cometer o seu acto de vandalismo.
Muros há em que a acção dos “grafiters” até seria bem-vinda, só que a grande maioria dos ditos não tem noção nenhuma do que é um muro ou um monumento a ser respeitado e aquele que não sabe distinguir um palácio de um burro.
É este o mundo em que vivemos e das duas uma ou nos adaptamos ou definhamos.
Para mim o conceito de ARTE não se aplica ao VANDALISMO que por aí se pratica.
Estou de acôrdo com A R Pires,pois não acho bem que se ande a sujar as casas de cada um,as carruagens do combóio etc.Isto para mim,é vandalismo e os vândalos deviam ser obrigados a limpar tudo aquilo que sujaram.
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