"Boom" dos Bares no Bairro Alto foi há 30 anos
Lojas de conveniência criticadas por venderem garrafas de vidro
Cristiano Pereira
Há cerca de três décadas que o Bairro Alto se afirma como um dos principais pólos de animação nocturna de Lisboa. Mas quem lá esteve há 30 anos aponta alguns defeitos ao bairro de hoje, como o excesso de lixo, "dealers" e falta de policiamento.
Até meados da década de 70 eram poucos ou nenhuns os bares no Bairro Alto para além das abundantes "casas de passe" com prostitutas e algumas casas de fado. Terá sido nas vésperas da década de 80 que pequenos bares começaram a surgir como cogumelos. "Houve um boom", conta ao JN o empresário Hernâni Miguel, a quem já chamaram "rei da noite", tamanha a quantidade de estabelecimentos que já abriu e fechou, ali e noutros locais de Lisboa.
"O Bairro Alto sempre foi um espaço de boémia por natureza", considerou, explicando que o facto de sempre ter sido uma zona "de maior tolerância" o tornou território fértil para manifestações lúdicas e culturais "porque a cultura identifica-se com a tolerância". Hernâni Miguel acha positivo o facto de "poder-se encontrar todas as tribos no Bairro", mas deixa transparecer algum desalento ao constatar que "hoje em dia há muito mais gente mas muito menos gente envolvida em tertúlias".
"Há mais aquela lixeira do garrafão", prosseguiu, tecendo duras críticas ao aparecimento de casas de conveniência "que só abrem para vender álcool em garrafas de vidro". Na sua óptica, a permissão de venda de garrafas de vidro é prejudicial porque aumenta o lixo nas ruas e a própria segurança é posta em risco. "Se houver uma cena de violência, aquilo são cocktails molotov", comenta.
"O problema é a falta de civismo das pessoas", aponta, por seu turno, um homem que se identificou como "fadista da velha guarda" que diz conhecer a zona "desde os anos 50". "Andam aí com os copos e a mictar na rua", lamentou, salvaguardando, contudo, que "é muito raro haver desacatos".
Outro aspecto que não existia e que hoje é por demais evidente é a presença de " centenas de dealers a venderem", apontou Hernâni Miguel. O empresário defende um sistema de vídeo-vigilância mais apertado e, acima de tudo, sublinha que "era de bom tom o bairro ter uma esquadra e que o efectivo policial fosse maior".
(in Jornal de Notícias).
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