domingo, 30 de novembro de 2008
Um Adeus Português
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Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada
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Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor
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Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver
Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver
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Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual
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Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual
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Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal
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Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser
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Colégio dos Meninos Órfãos.
Lisboa tem destas coisas, tesouros escondidos. Uma porta nas traseiras do Centro Comercial Mouraria...
...entra-se por aqui...
...e temos isto: o Colégio dos Órfãos. Actual Casa de Nossa Senhora do Amparo.
Cenas bíblicas em azulejos setecentistas, ao longo de vários andares. Do Antigo ao Novo Testamento. Em bom estado de conservação. Não deveria ser um ponto turístico? Ná, tem graça ser é um tesouro escondido, entre os milhares que Lisboa oferece, a quem a conhece.
A Adoração dos Reis Magos.
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A circuncisão.
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O colégio foi fundado em 1273 sobre a invocação de Nossa Senhora de Monserrate. Foi reformado em 1549. Em 1745 sofreu obras de beneficiação, a mando de D. José, por se encontrar em mau estado. Na fachada principal rasga-se um portal manuelino. Os azulejos que se encontram nas escadarias são do séc. XVII e apresentam molduras rococó.
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O Menino Jesus entre os Doutores.
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Uma pálida imagem desta maravilha. Se quiser ver, é só entrar. A construção é «só» do século XIII. Imóvel classificado em 1986. Rua da Mouraria, nº 64.
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Esclarecimento:
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Alguns leitores criticaram o facto de termos publicado estas imagens, considerando que a sua divulgação poderia aumentar o risco de furto dos azulejos da casa da Rua da Mouraria, nº 64. Agradecemos - e muito - esses comentários, pelo que nos sentimos na obrigação de prestar o seguinte esclarecimento:
1) O nº 64 da Rua da Mouraria, a única porta de entrada da casa, é contíguo a uma esquadra da Polícia de Segurança Pública. O risco de ladrões de azulejos transportarem consigo material furtado é, por isso, bastante reduzido, quando não inexistente.
2) Tanto é assim que os azulejos se encontram há anos no local, tendo sido recuperados e não tendo existido até há data o mínimo indício de furto.
3) Ao publicarmos estas imagens, o nosso objectivo foi dar a conhecer aos leitores um «tesouro escondido» da capital e, em simultâneo, apelar a que o mesmo passe a constituir um ponto de visita turística. O melhor conhecimento do património é também a melhor forma de o preservar - e de responsabilizar as instituições ou os particulares dele proprietários (neste caso, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa).
4) Ponderámos devidamente os riscos envolvidos nesta publicação, considerando que a proximidade da esquadra da PSP e o facto de até há data não se terem verificado furtos, para mais numa zona altamente «problemática» como é o Martim Moniz, justificavam a publicação.
5) Além disso, não é muito provável que seja através deste blogue que os potenciais ladrões de azulejos venham a inspirar-se. Na zona, é fácil saber da existência dos painéis de azulejos (cuja dimensão e estado de conservação, para mais, dificultam a remoção clandestina), pelo que, não se tendo registado até há data quaisquer problemas, acreditamos que não será a partir de agora que o risco de furto se torna significativamente mais intenso.
6) A questão colocada pelos leitores suscita aliás um problema de índole mais geral: deveremos «esconder» alguns elementos patrimoniais ou, ao invés, publicitá-los o mais amplamente possível? Em regra, achamos que a publicidade, se conseguir despertar e mobilizar os cidadãos é a atitude mais correcta. Mas, como é óbvio, reconhecemos que, no caso dos azulejos e do património mobiliário, existe efectivamente um risco. E, por isso, somos muito parcimoniosos na divulgação das centenas ou milhares de imagens que possuímos de património mobiliário, algum dele em estado de ruína e degradação.
7) Existem casos de iminente risco de furto. Temos divulgado alguns. Com o propósito de alertar as autoridades (o que fizemos, enviando-lhes mails) e com o propósito de apelar aos cidadãos para que eles próprios chamem também a atenção das autoridades. Assim, por exemplo, colocámos um «post» a solicitar urgente atenção a um painel de azulejos existente no Beco do Belo, parte do qual já foi vandalizado: http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=3416691146053836062&postID=2616113948397285739
8) Infelizmente, não recebemos qualquer resposta por parte das autoridades. E também não tivemos notícia de que algum cidadão haja participado na «campanha» que lançámos em defesa dos azulejos do Beco do Belo.
9) Recentemente, passámos pelo Beco do Belo. Os azulejos continuam lá, à mercê de vândalos e ladrões.
10) Seria óptimo que, a propósito dos oportunos comentários de dois leitores amigos, que muito agradecemos, se desse maior atenção ao que ocorre no Beco do Belo e noutros lugares.
Resta-nos agradecer, uma vez mais, aos nossos leitores Miguel e Júlio Amorim. Muito obrigado!
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